Capítulo 28 - Caso Resolvido

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Daquele dia em diante, sempre que percebesse que chegaria atrasado em casa, John Watson passou a pedir a Sra. Hudson para ficar com Rosie depois do horário de Audrey Morgan.

Sem saber ele acabou deixando a idosa muito contente por ainda ser requisitada com frequência para cuidar da menina. De qualquer forma, a babá raramente ia embora quando ela chegava.

Nas duas noites que se seguirem, Audrey conseguiu acordar dos pesadelos de maneira suave embalada pela melodia tocada no violino por Sherlock Holmes. No entanto, mesmo que não tivesse mais a dor de cabeça e o sangramento do nariz, a visão com as pessoas que tanto a ajudavam mortas, aparentemente por sua culpa, a perturbavam.

Ela não conseguia deixar de pensar quanto tempo levaria até aqueles pesadelos se tornarem realidade e o medo a fazia chorar abafando o pranto com o travesseiro.

Quando acordou pela quarta madrugada embalada com a música tocada por Sherlock, Audrey começou a se preocupar também com o esforço dele.

Não acreditava em suas desculpas que fazia aquilo porque gostava e com a intenção de acabar com o compromisso diário em horário impróprio, colocou um plano em prática.

Como nas noites em que tinha as dores, a mulher deu um grito como se tivesse acabado de despertar de um pesadelo e antes que Sherlock viesse até o quarto, ela correu para o andar principal do apartamento e se trancou no banheiro.

Com a torneira aberta para simular que ela tentava limpar o sangramento do nariz, Audrey sentou no chão com as costas contra a parede e as lágrimas logo desciam incontrolavelmente pelo seu rosto.

Quando a música parou, ela ficou satisfeita e começou a se preparar, treinando o que ia dizer, para poder sair do banheiro. Entretanto, nenhuma preparação seria suficiente para a expressão triste que Audrey encontrou no rosto de Sherlock achando que havia falhado.

— Foi bom enquanto funcionou — disse ela parada no meio da cozinha.

— Não ajuda mais? — Na sala, ele levantou a mão com que segurava o violino.

A mulher apenas acenou em negativa com a cabeça por conta da sensação de que havia se formado um nó em sua garganta.

— Talvez você queira um pouco de silêncio para tentar dormir, então. — Sherlock colocou o violino sobre a sua poltrona.

— Sim, seria bom. — Audrey tocou a testa com o dedo indicando a dor de cabeça, mas tinha algo no olhar dele que era doloroso demais de se ver.

Apesar de toda falta de jeito com as pessoas, ela percebeu que Sherlock gostava de ajudar.

— Acho que vou tentar dormir também, assim pelo menos fico quieto. — Ele esboçou um sorriso.

Audrey agradeceu e subiu as escadas correndo antes que começasse a chorar novamente. No entanto, a tranquilidade de que seu plano havia dado certo e Sherlock estaria dormindo nas próximas noites a reconfortava.

(...)
O final daquele dia foi bem diferente de tudo o que Audrey já fizera. Tinha saído da casa de John no horário combinado depois que ele chegou de um dia atendendo clientes com Sherlock, que deveria estar sozinho quando ela chegasse, mas havia mais alguém na sala. Um homem alto e grisalho que ela nunca havia visto.

— Audrey, esse é o detetive inspetor da New Scotland Yard, Greg Lestrade — apresentou Sherlock sentado em sua poltrona. — Greg, essa é Audrey Morgan, babá da Rosie.

Os olhos do inspetor ainda brilhavam quando Sherlock falava seu nome certo depois de tantos anos errando. Ele levantou da cadeira onde estava e trocou um aperto de mão com a mulher.

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