Capítulo 18 - Nobre força

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Elle precisou desistir da camisa que usava por cima da camiseta. O sangue do sujeito morto grudou no tecido de tal forma que, mesmo sendo escuro, continuava aparecendo. Isso era bem ruim, pois a rotina de usar a mesma roupa depois de seis dias não tinha espaço para uma peça a menos.

Em relação às roupas íntimas, ela preferia nem parar para pensar no hábito adquirido para lidar com o problema, e que nem sempre dava certo. Na verdade, o tecido tanto da calcinha quanto do sutiã já mostrava os primeiros sinais de desgaste com tantas lavagens sucessivas.

Na tentativa de ficar o mais apresentável possível, Elle vestiu o jeans e as botas, a camiseta e uma blusa florida emprestada pela senhora Hudson por baixo do casaco. A mulher preferiu deixar para usar a roupa emprestada apenas enquanto estivesse em casa para não correr o risco de acabar estragando. Deixou seus cabelos soltos com as ondas espalhadas pelas costas e lamentou por não ter nada que pudesse passar sobre os lábios.

Assim que anoiteceu, Elle ficou de pé perto da janela olhando para a rua enquanto esperava ver Mycroft Holmes, que traria seus documentos, aparecer. No entanto, Molly Hooper foi a primeira a chegar. Sherlock Holmes também estava na sala, com o notebook sobre suas pernas, quando ambos a ouviram conversar com a senhora Hudson no andar de baixo.

— Melhor levar com você na hora que subir Martha.

— Como quiser, querida — respondeu a idosa.

— Eu prefiro. A gente nunca sabe o que tem dentro da geladeira do Sherlock. — A risadinha inconfundível de Molly foi ouvida logo depois da frase.

Elle olhou sorrindo para o homem que fingiu não ter ouvido a conversa. O som dos passos de Molly ecoou pelo corredor e logo ela estava na porta cumprimentando os dois que retribuíram a saudação.

— Por favor, me diz que você sabe meu nome... — A mulher a puxou para sentar ao seu lado no sofá maior. — O Sherlock passou o dia todo fazendo mistério. Acho que ele está esperando o Mycroft para revelar... — Elle olhou para ele e percebeu que o detetive estava sorrindo.

— Se eu soubesse te diria, mas não faço ideia. Só ele e o Mycroft sabem? — perguntou Molly.

— Não... Ele escolheu meu nome junto com o John. — Elle fez um biquinho com os lábios enquanto indicava Sherlock com um aceno de cabeça.

— Então não acho que ele esteja esperando pelo irmão para te contar.

Sherlock olhou para Molly e sorriu feliz com a forma como ela o compreendia.

Não demorou muito, Mycroft apareceu com um envelope de papel pardo e enquanto ele e Sherlock conversavam perto da lareira, a mulher viu John estacionando o carro perto do meio fio em frente ao prédio. Seu coração disparou e ela se afastou da janela antes de ver quem o acompanhava.

— Finalmente! — Ela sorriu e ficou de pé olhando para a porta.

A primeira pessoa que apareceu no alto das escadas foi a senhora Hudson, mas atrás dela vinha o homem subindo lentamente por estar carregando algo nos braços. Não era um objeto e sim uma pessoa que fazia John ser mais cuidadoso ao subir.

Rosamund Mary parecia muito animada no colo do pai. A foto que Elle tinha visto não fazia justiça à realidade. Os cachinhos dourados e as bochechas coradas da menina harmonizavam com o suéter de lã cinza com um aplique de ursinho de pelúcia bege com um pequeno laço rosa em relevo em uma das orelhas. Por baixo, um vestido rosa de tecido macio com bainha plissada e brilhante e nos pés dela um par de tênis claro com fecho em Velcro.

— Oi Rosie — disse Elle com o coração acelerado assim que a dupla apareceu na porta da sala.

— Fala com ela, filha — incentivou John.

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