Capítulo 61 - O Palácio Mental de Audrey

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O concerto de violino já invadia a madrugada quando John Watson resolveu interromper começando a temer pela saúde de Sherlock Holmes que tocava sem descanso havia horas.

Mais cedo, ele havia decidido que não deixaria o amigo sozinho no hospital e ligou para a senhora Hudson, que tomava conta de Rosie, para avisar.

O esforço de Sherlock era aparente na sua expressão cansada e nos seus cabelos molhados na nuca e grudados na testa. O homem inclusive havia se livrado do sobretudo, quando o suor começou a escorrer pelo rosto.

— Sherlock, por favor, já chega. — John tocou o braço esquerdo dele. — Você está tocando há horas. Descanse um pouco, amanhã você continua.

— Não, Jawn... — Mesmo sem querer, ele não conseguiu oferecer resistência quando foi guiado até a poltrona ao lado da cama e teve o violino e o arco retirados de suas mãos.

John se afastou e foi até o frigobar voltando com um copo d'água.

— Bebe — pediu ele gentilmente.

Obediente, Sherlock aceitou a oferta.

— Quer outro? — perguntou John quando recebeu de volta o recipiente vazio.

— Não, — a voz dele estava embargada.

O homem atravessou o quarto e depositou o copo de volta junto a outro sobre o eletrodoméstico.

— Tenta dormir um pouco — disse John empurrando Sherlock com delicadeza sobre o encosto da poltrona e o cobrindo com o Belstaff.

— Eu não devia ter insistido em levar ela... — disse o homem com os olhos fechados.

— Pare de se culpar, Sherlock. — O sofrimento misturado ao desespero estava claro na voz dele. — Você ouviu o Mycroft sobre o cara que atirou na Audrey ser agressivo. E para piorar, ele tinha acesso a armas. — John expirou. — Tenho certeza que acabaria vindo atrás dela...

— Mas eu não precisava ter levado ela até ele...

John sentiu como se seu coração afundasse em areia movediça quando viu uma lágrima escorrer pelo rosto do amigo. Ele cruzou os braços e permaneceu de pé ao lado dele até ter a certeza que Sherlock estava em um sono profundo. Exausto física e mentalmente.

(...)
A música parou, mas Audrey ainda podia ouvir a melodia em seu coração.

— Não esperava encontrar você aqui, Albatroz — disse ela encarando o homem.

— É o fim da linha Beija-flor. Acabou.

Ela sorriu.

— Tem um lugar reservado para pessoas como nós! — continuou ele satisfeito pela mulher estar perto de ter o mesmo fim dele.

— Eu não vou com você, Alba... — Ela começou a andar em direção à porta.

— Acha que é melhor do que eu só porque poupou uma pessoa? E o outro que você matou depois?

Audrey se virou e olhou para ele.

— Tenho pena de você, por que acho que nunca teve a chance...

— Eu tive todas as chances, até você destruir tudo! — gritou ele revoltado.

A mulher sorriu.

— Nada no mundo é capaz de superar a felicidade de se sentir amada.

Ela caminhou em direção da porta, girou a maçaneta e o salão foi invadido por uma forte luz, muito maior do que aquela que a atraiu na cela fria e mais aconchegante do que qualquer sensação que ela já havia experimentado. Audrey relaxou o corpo e se deixou levar.

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