Capítulo 53 - Por um fio

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A ambulância ficou pouco tempo parada e assim que Audrey Morgan estava acomodada na parte de trás, os dois profissionais que vieram em socorro começaram a agir.

Sem espaço para mais pessoas, já que Sherlock Holmes não quis se separar dela e também entrou no veículo, John Watson seguiu no carro com Mycroft Holmes atrás deles.

Os dois estavam preocupados com a mulher, mas também temiam pela a reação do Holmes mais novo caso ela não resistisse e precisavam estar lá com ele. Desde o primeiro desmaio, Audrey não recobrara a consciência.

— Avisa que ela vai direto para cirurgia — pediu o médico que cuidava dela ao que dirigia. Ele já havia feito tudo o que era possível como primeiro atendimento. — Ela está estável, por enquanto, mas se não pararmos o sangramento vai ser impossível reverter.

Sherlock pôde finalmente se aproximar e tremeu ao segurar a mão esquerda de Audrey e sentir quão gelada estava e notar as pontas dos dedos já levemente azuladas.

Ele sentiu como se houvesse algo preso em sua garganta enquanto as palavras do pedido de ajuda dela ecoavam em sua mente: "Eu preciso da sua ajuda para saber quem eu sou, senhor Holmes".

— Você não pode ir agora. — O homem se abaixou ao lado da maca e sussurrou ao ouvido dela com um pequeno sorriso nos lábios. — Ainda não descobri quem você é.

A máquina que monitorava os batimentos cardíacos de Audrey emitiu um apito alto e constante.

— O coração dela está fibrilando! — anunciou o médico empurrando Sherlock para poder se aproximar da mulher.

Ele ficou encolhido no canto da ambulância o observando massagear o tórax dela enquanto o paramédico oferecia suporte de oxigênio com um balão nos intervalos das compressões. Sem resultado, o médico resolveu mudar a estratégia.

— Assume as compressões que eu vou carregar o desfibrilador — ordenou ele ao paramédico.

Mas antes que o profissional soltasse o balão, Sherlock se aproximou e começou as massagens da forma que o médico estava fazendo antes.

— Não aplique força demais — recomendou o paramédico enquanto injetava uma substância no acesso intravenoso conectado ao braço direito de Audrey.

Desesperado ele lamentou não ter sido John ao invés dele a entrar na ambulância e se empenhou para conseguir executar bem a tarefa de fazer o coração dela voltar a bater normalmente.

— Afasta! — anunciou o médico se aproximando com as placas do desfibrilador cobertas de gel antes de dar o primeiro choque sobre o peito pálido de Audrey exposto pelo paramédico ao levantar a camiseta dela.

O corpo da mulher reagiu, mas seu coração continuou sem dar sinal de batidas regulares. Sherlock e o paramédico voltaram ao que faziam enquanto mais uma carga era preparada.

— Afasta! — Outra vez as placas tocaram a pele de Audrey, sem conseguir uma reação satisfatória de seu coração.

Os dois profissionais de saúde se olharam apreensivos receando não haver mais como recuperá-la, enquanto Sherlock não se abalou em seu empenho para trazê-la de volta com as massagens sobre o tórax.

Não havia como calcular a extensão do sangramento, mas a dupla tinha certeza que era significativo. O paramédico mais uma vez injetou uma dose de medicamento pelo acesso venoso aguardando o desfibrilador carregar.

— Afasta! — ordenou o médico colocando as placas contra a pele de Audrey com uma carga mais elevada.

O corpo da mulher se contraiu sendo involuntariamente erguido alguns centímetros da maca, para em seguida a máquina que monitorava seus batimentos cardíacos emitir um ruído agudo seguido por outros mais graves, porém constantes e regulares. Os três homens sorriram respirando aliviados.

— Audrey, — Sherlock pegou novamente a mão esquerda dela enquanto ajeitava sua camiseta de volta para o lugar. — Eu sei quem você é — afirmou o homem. — É nossa amiga. — Ele sorriu com lágrimas nos olhos. — Não vai embora, por favor.

O resto da viagem até o centro local de atendimento urgente aconteceu em silêncio e sem mais contratempos.

A noite começava a dar lugar à luz do dia, quando o médico e o paramédico desembarcaram com a maca e correram para dentro da edificação seguindo direto para o centro cirúrgico.

Apesar de estarem cientes que o local oferecia suporte apenas para procedimentos de menor gravidade, a única chance de a mulher chegar ainda com vida a um hospital era ter o sangramento estancado o quanto antes.

O carro com John e Mycroft parou a poucos metros e Sherlock caminhou vacilante na direção deles ao descer da ambulância.

— Como ela está?

— Parou no meio do caminho, Jawn... — O Holmes mais novo tentava respirar enquanto organizava as palavras. — O coração... Precisou de massagem... eu fiz... deram choque nela... — O rosto do detetive denunciava que ele havia chorado.

— É o choque hemorrágico — respondeu John enquanto amparava Sherlock segurando seu ombro esquerdo. — Precisam parar o sangramento o quanto antes e repor o que ela perdeu. — Ele olhou para o amigo e depois trocou um olhar preocupado com Mycroft.

— Levaram para cirurgia. — Ele continuou passando as informações. — Será que aqui eles têm recurso suficiente para cuidar dela?

— Na verdade não, — respondeu John fazendo uma careta. — Isso aqui é um centro para atendimento de urgências, porém de menor gravidade. Mas se trouxeram ela para cá, imagino que seja o melhor para ela.

— Não é o suficiente Jawn, precisa ter certeza! — Sherlock se afastou dele. — Podíamos ter usado o helicóptero e voltado com ela para Londres! — declarou ele aumentando o tom de voz.

— Você estava lá quando o coração dela falhou. — John tentava transparecer o máximo de calma enquanto falava. — Acha que em um helicóptero sem o suporte adequado a Audrey teria sobrevivido?

— Sherlock o que está acontecendo? — interferiu Mycroft sem esconder a irritação na voz.

— Não é possível que você não percebeu que a Audrey está morrendo! — gritou o Holmes mais novo.

— Eu percebi, o que não entendo é o motivo para esse seu desespero todo por causa dessa mulher que você conheceu nem faz um mês! — Ele estava começando a ficar preocupado com o comportamento do irmão.

Sherlock o ignorou e caminhou para longe deles.

— Doutor Watson, poderia me explicar?

— Posso, mas primeiro você consegue garantir que a Audrey seja levada para um local com uma unidade de tratamento intensivo?

— Você deve isso a ela! — falou Sherlock com raiva apontando a mão direita para o irmão enquanto voltava a se aproximar dele. — Se não fosse pela Audrey, quem não estaria aqui é você! Sabe disso!

Sem ver outra saída, Mycroft concordou em intervir com toda ajuda que pudesse fornecer.

— Veja quando podemos transferi-la em segurança que eu cuido do resto. — Ele expirou em rendição.

John correu para dentro do centro de atendimento para se informar do que acontecia enquanto o Holmes mais velho começou a fazer as ligações.

Não foi problema para ele conseguir uma vaga num hospital particular em Londres que recebia principalmente membros do governo e era um dos poucos a oferecer suporte de UTI em cada acomodação individual.

Depois que informou isso a Sherlock, os dois foram para a recepção esperar pelo retorno do médico com as notícias sobre o estado de Audrey.

***
A vida de Audrey está em risco, mas enquanto há vida, há esperança. Todos agora precisam correr contra o tempo para salvá-la, ou sofrer as consequências que sua morte irá trazer.

Espero não ter falado muita besteira com os termos médicos. Acho que foi minha primeira vez escrevendo uma cena com tantos detalhes. Fiz uma pesquisa óbvio, mas sabem como é. Só quem lida com a situação pode dar as informações do que realmente acontece.

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