A princípio, Audrey Morgan não tentou controlar o choro e Sherlock Holmes foi extremamente compreensível quanto a isso. No entanto, ela sabia que não poderia ficar assim para sempre e aos poucos foi tentando parar.
Quando se afastou do amigo, um pouco mais calma, percebeu uma pequena mancha escura na base do pescoço dele e tocou o rosto confirmando o que suspeitava. Seu nariz estava sangrando.
— Me desculpa, — pediu ela um pouco envergonhada indicando a pele dele. — Tem uma caixa de lenços de papel na gaveta. — Ela indicou a mesinha de cabeceira.
Sherlock levantou, acendeu a luz do abajur sobre o móvel e encontrou rapidamente a caixa retirando alguns lenços, porém sem entregar para a amiga quando ela demonstrou a intenção de pegar.
Ele mesmo a segurou pelo queixo com uma mão enquanto com a outra limpou delicadamente a região embaixo do nariz dela e sorriu ao perceber que o sangramento já havia parado. Depois, com outros lenços, limpou o pouco que havia grudado em sua pele.
— Está com dor de cabeça? — Sherlock embolou os lenços sujos e depositou sobre a mesinha.
— Um pouco, mas consigo aguentar — respondeu ela.
— Quer contar o que você lembrou? — Sherlock estava pronto para ouvir uma negativa e deixar a amiga em paz, mas não foi o que aconteceu. Ela queria falar e acenou em com a cabeça em acordo.
Audrey pegou seu travesseiro e o encostou na parede, sugerindo uma acomodação melhor para ele durante o relato que seria longo.
Aceitando a oferta, Sherlock escorregou sobre a cama e já com as costas repousadas sobre o objeto, a convidou para se aproximar. Audrey sentou ao lado do amigo e descansou a cabeça sobre o ombro direito dele.
— Eu sei por que tiraram o tapete do meu quarto, — os olhos dela voltaram a se encher de lágrimas. — Foi onde me deixaram para morrer.
— Seu pai disse que havia uma mancha da qual não conseguiram se livrar — comentou Sherlock.
— Deve ser algo difícil de esquecer, mesmo para eles. — Ela fungou e limpou as lágrimas com as costas da mão direita. — Raymond me ofereceu um brinde, e eu aceitei. — Audrey não se sentia confortável chamando o homem de pai depois de tudo o que havia acontecido. — Acreditei nele.
— Não se culpe por isso. — A vibração suave que a voz de Sherlock provocava enquanto ele falava estava acalmando Audrey.
— Era realmente meu aniversário...
A mulher contou tudo o que tinha vivenciado no pesadelo. Sabia que cada detalhe era importante para o detetive conseguir compreender e esclarecer o ocorrido.
Narrou a forma como o pai fez parecer estar arrependido pela forma como a tratava, o brinde que fizeram, a dor que sentiu assim que terminou de esvaziar a taça e a ligação feita por ele.
Contou sobre a chegada da mãe com uma folha de caderno e um frasco de plástico, deixados perto dela enquanto tinha as mãos protegidas por luvas.
Ao final viu os dois desaparecendo dentro do closet e sua última lembrança era o grito da mulher que a encontrou caída sobre o tapete felpudo cor de rosa.
Audrey suspirou profundamente quando terminou o relato e mais uma vez limpou as lágrimas do rosto com as costas da mão.
— Eles me venderam mesmo. — Ela levantou o corpo e ficou de frente para Sherlock. — Tenho certeza que ouvi o Raymond falando no telefone sobre ter algum retorno.
— Acha que ele realmente tinha como saber para quem estava te vendendo?
— Não sei... — As lágrimas brotaram em seus olhos e caíram sem esforço.
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Memórias Anônimas
FanficA tarde entediante se transforma com a chegada de uma mulher ferida e sem memória implorando pela ajuda de Sherlock Holmes, mas graves acusações trazidas por Mycroft Holmes colocam em dúvida suas verdadeiras intenções. Porém, após vê-la salvar a vid...