Capítulo 5 - Trajeto aquático e terrestre

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— Você não fugiu de uma clínica psiquiátrica — comentou Sherlock parado na beirada da calçada enquanto fazia sinal para um táxi.

Quando o veículo parou, ele entrou e deu o endereço que queria para o motorista.

— Algum motivo para acreditar nisso? — perguntou Elle entrando logo depois dele.

— Não tem nenhuma clínica perto das ramificações do canal. Se tivesse fugido de uma, não conseguiria ir a pé até lá.

— Posso ter pegado carona com alguém e por isso terminado assim. — Apontou para o ferimento na testa.

Sherlock gostou de ver a forma como o raciocínio da mulher trabalhava, mas o detetive tinha certeza que ela estava errada.

— É plausível, mas e suas roupas? Não parece uniforme de algum hospital. — Testou ele antes de apresentar o argumento final.

— Posso ter roubado de alguém... um segurança talvez — continuou ela.

— Possível também, mas já faz quase 24 horas que você está com a gente sem ter demonstrado alterações físicas ou comportamentais significativas, algo esperado com a abstinência de um psicotrópico de uso contínuo na sua corrente sanguínea, que é um tratamento comum em clínicas psiquiátricas.

Elle ficou admirada mais uma vez com a capacidade de observação do detetive a acabou se convencendo.

(...)
Levou pelo menos uma hora com o trânsito livre para que eles chegassem até o parque onde ficava o ponto no qual Elle saíra da água. A mulher e o detetive andaram pelo local vazio em silêncio constatando que dessa vez o mendigo não estava em seu banco habitual.

A dupla parou perto da cerca de alambrado anteriormente danificada, mas agora com o buraco coberto por uma malha nova, ainda sem trocar nenhuma palavra. Por alguns minutos os dois ficaram de pé apenas ouvindo a correnteza.

— Eu andei essa distância toda com aquele corte sangrando na cabeça?

— O sangramento era mais discreto a princípio e foi aumentando com o exercício.

— Mesmo assim. Eu teria ficado tonta... sei lá...

— Você ficou, e com certeza se perdeu. Por isso demorou mais do que o necessário para chegar já que saiu da água no início da manhã, mas tiraremos a prova disso no caminho de volta. — Sherlock olhou para ela. — Agora quero que você se concentre no seu caminho daqui para trás. Preciso estimar por quanto tempo você ficou dentro d'água para saber onde você entrou.

Elle se esforçou, mas nada vinha a sua mente. Não queria decepcionar o detetive, no entanto, tudo o que vivera do momento que saíra no parque para trás parecia ter se apagado. A mulher começou a ficar nervosa e com vontade de chorar.

Acabou soltando o corpo e se sentando no chão escorregando as mãos pela cerca de alambrado. Uma pequena ponta solta fez um minúsculo corte na base de sua mão direita, ao lado de outro corte também pequeno camuflado pelas escoriações, mas que naquele momento ela teve certeza que não o obtivera assim.

As lembranças vieram em flashes e não de forma linear, no entanto foram úteis o suficiente para fazer o detetive sorrir enquanto ela narrava.

— Eu machuquei minha mão com um canivete enquanto tentava cortar o lacre preso nos meus pulsos. — Elle mantinha os olhos fechados enquanto falava. — Eu estava embaixo d'água e tinha acabado de cortar amarras parecidas nos meus tornozelos. Eram elas que me prendiam no lugar e por isso eu comecei a descer pela correnteza, o que fez eu me atrapalhar e cortar minha mão.

A mulher abriu os olhos e levantou a cabeça para encarar Sherlock que ainda estava de pé ao lado dela.

— Está muito confuso? — perguntou.

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