A espera foi longa e em silêncio. Sherlock Holmes se refugiou em seu palácio mental enquanto John Watson não conseguia se manter quieto no lugar por muito tempo. Andava de um lado para o outro quando não estava sentado em uma das cadeiras com o rosto entre as mãos. Ele chegou inclusive a arriscar algumas orações que se lembrava das vezes que acompanhara Mary Watson à igreja.
Quando Sophie Willows, cirurgiã responsável pelo atendimento, apareceu na frente deles ainda trajando a maior parte do EPI necessário dentro do centro cirúrgico, John tirou Sherlock do refúgio tocando seu ombro e o homem imediatamente começou a ler a expressão da médica para antecipar o que estava por vir.
— Correu tudo conforme o esperado — anunciou ela com um sorriso para tranquilizar os dois. — Eu consegui localizar e extrair o projétil. Mas o estado dela ainda é delicado.
Sherlock voltou sua atenção para John lendo na reação dele se aquela notícia era realmente boa. O semblante sereno do médico o acalmou um pouco.
— Não sei como não conseguiram visualizar. Estava alojado na musculatura das costas, quase rompendo a pele. — A médica esticou a mão onde segurava um frasco de vidro tampado acondicionando a munição já limpa.
Sherlock foi quem pegou o objeto.
— Parecia um nódulo subcutâneo — continuou ela.
— Acho que eu sei explicar como aconteceu — anunciou John recebendo a atenção dos dois. — Eles cortaram a roupa da Audrey antes de começar o atendimento, mas não afastaram todos os retalhos. Havia alguns pedaços de tecido embolados por baixo dela. Devem ter ocultado o que você viu.
— Faz sentido. — A cirurgiã sorriu. — O tiro pegou de raspão na artéria esplênica, mas não entrou no baço, então consegui fazer a restauração dela preservando o órgão. Agora precisamos aguardar — continuou a mulher. — Ela está recebendo uma transfusão de sangue, e acho que vai precisar de outra. Mas esse procedimento pode ser feito no quarto — informou. — Precisei manter a intubação endotraqueal, mas assim que possível daremos início aos procedimentos de desmame.
— Nós podemos ver ela? — perguntou Sherlock aflito.
— Em poucos minutos — respondeu Sophie com um sorriso compreensivo. — Minha equipe está terminando os procedimentos e logo ela vai ser transferida para o quarto. Se quiserem podem ir esperar por ela lá. — A cirurgiã começou a andar e os dois a seguiram.
— E ela vai demorar muito para acordar? — continuou ele.
John trocou um olhar com a médica que Sherlock não viu. Ela imediatamente percebeu que deveria tomar cuidado com as palavras escolhidas para falar do estado de Audrey.
— Ainda não temos como prever. — Ela deu um sorriso modesto parando em frente ao elevador. — As próximas horas serão decisivas.
Sophie indicou as direções para os dois encontrarem o quarto no terceiro andar para onde a mulher seria levada e voltou para o centro cirúrgico.
— Sherlock... — chamou John quando as portas do elevador se fecharam e eles ficaram sozinhos.
— Não, John... — o queixo do homem tremia.
— A médica tem razão sobre as próximas horas serem importantes, mas a Audrey perdeu sangue demais e teve uma parada cardíaca. Isso pode ter causado lesões irreversíveis... se você tivesse visto ela no centro cirúrgico como eu vi... — os olhos dele se encheram de lágrimas ao se lembrar da cena.
— Não, Jawn... — Seu semblante deixava claro o quanto ele implorava por boas notícias.
— Sinto muito, Sherlock... — John limpou a lágrima solitária que desceu pelo seu rosto com as costas da mão.
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Memórias Anônimas
Fiksi PenggemarA tarde entediante se transforma com a chegada de uma mulher ferida e sem memória implorando pela ajuda de Sherlock Holmes, mas graves acusações trazidas por Mycroft Holmes colocam em dúvida suas verdadeiras intenções. Porém, após vê-la salvar a vid...