Capítulo 35 - O irmão mais velho

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Uma hora depois, ao chegarem no 221B da Rua Baker, a dupla foi recebida por uma senhora Hudson angustiada.

— Audrey querida, está tudo bem com você?

A mulher alcançou a mão esquerda de Sherlock como havia feito na noite anterior e a segurou com força por alguns instantes indicando que não queria responder.

— Evidente que não, senhora Hudson — respondeu ele depois de compreender o sinal.

Audrey olhou para a idosa e tentou sorrir arrependida por tê-lo deixado responder por ela e as lágrimas voltaram a embaçar sua visão enquanto a dupla avançava pela escada.

— Por favor, não deixe mais ninguém subir! — gritou Sherlock ao final do primeiro lance de degraus.

— John ainda está aí em cima! — informou ela.

— Já esperava por isso — continuou ele.

Sherlock abriu a porta do apartamento, esperou Audrey entrar, fez o mesmo e a fechou atrás de si. John, que os acompanhava desde que o táxi havia parado próximo ao meio fio, estava de pé no meio da sala e agora encarava os dois.

— Rosie está em casa? — perguntou Sherlock.

— Não, — respondeu o pai. — Está lá embaixo com a senhora Hudson.

Depois de ver a idosa e agora John, a mulher já não controlava mais as lágrimas descendo pelo seu rosto, pensando na dor que teria causado aos dois. Se arrependeu muito da ideia que teve e se sentiu grata a Sherlock por ter interferido.

— Por favor, Audrey o que está acontecendo?

John a puxou para um abraço e acariciava seus cabelos enquanto trocava um olhar com Sherlock que tirou a arma do bolso do sobretudo e colocou sobre a mesa da sala ao lado do laptop.

— O que você ia fazer? — Aflito, o homem se afastou um pouco e segurou o rosto dela com ambas as mãos fazendo seus olhos azuis acinzentados encontrarem os castanhos da amiga.

— Eu ia embora... — O corpo de Audrey tremia incontrolavelmente. — Não consigo controlar esses pesadelos. Não consigo dormir à noite e não sirvo para nada durante o dia. — Ela começou a chorar alto e lutava para conseguir falar entre os soluços. — Estou atrapalhando... a vida de vocês... achei que seria o melhor...

— Não diga uma coisa dessas. — John falou com um tom de voz firme ainda com o rosto dela seguro entre suas mãos como se ela fosse escapar a qualquer momento. — Você é uma pessoa maravilhosa, ouviu? Já te considero minha amiga e estou pronto para te ajudar com o que precisar. E tenho certeza que o Sherlock pensa da mesma forma.

— Na verdade não, — anunciou o homem com seu tom de voz barítono.

John ficou irritado com as palavras do amigo e não havia como esconder isso pela expressão em seu rosto.

— Eu não sou amigo dela, reivindiquei o posto de irmão mais velho — pontuou Sherlock enquanto passava por eles e ia se sentar em sua poltrona.

O homem mais velho se virou para encará-lo com a testa franzida e depois voltou a olhar para Audrey esperando por uma explicação.

— Sherlock acha que não dá para se considerar amigo de uma pessoa que se conhece há tão pouco tempo. — Ela mordeu o lábio inferior um pouco envergonhada por revelar aquilo instantes depois dele ter dito que a considerava sua amiga. — Então eu concordei com a ideia de deixar ele me tratar dessa forma. Espero não me arrepender. — A mulher deu um pequeno sorriso quando disse a última frase olhando para Sherlock.

— Não vai — respondeu ele com sua convicção usual acompanhada do sorriso presunçoso.

— Audrey, — John chamou a atenção dela de volta para ele. — O que fizeram com você não foi culpa sua. Você não é nem de longe uma pessoa que mereça passar por algo assim, e eu não preciso saber do seu passado para ter certeza disso.

Mais lágrimas rolaram pelo rosto da mulher com as palavras do amigo.

— Só eu sei o quanto me sinto tranquilo saindo com o Sherlock quando a Rosie fica sob seus cuidados. — Ele sorriu. — E o quanto me tranquiliza saber que você está aqui com o Sherlock quando estou em casa com a Rosie. Mesmo ele dando mais trabalho, você está se saindo bem.

Audrey deu uma risadinha e viu um sorriso sincero tanto no rosto de John quanto no de Sherlock.

— Desculpa pelo susto — disse ela ficando séria novamente. — Não vai se repetir.

— Confio em você — afirmou John dando um beijo na testa dela e depois a puxando para mais um abraço a amparando com uma mão em suas costas e a outra em sua nuca.

Audrey descansou a cabeça sobre o ombro esquerdo dele, cruzou os braços em volta da sua cintura e a dupla permaneceu dessa forma por algum tempo em silêncio.

— Sobre seus pesadelos, — quando percebeu que a mulher estava mais calma, John a soltou do abraço e se afastou para poder olhar também para Sherlock enquanto falava. — Acho meio arriscado procurar por ajuda terapêutica agora, o que seria mais indicado, por conta das perguntas sem resposta que ainda temos sobre o que fizeram com você. Não sabemos o tamanho do esquema no qual você foi envolvida e em quem podemos realmente confiar.

Sherlock concordou com um aceno de cabeça.

— Vou te receitar um sedativo leve, mas se esse não funcionar tentamos outro. — O médico se aproximou da escrivaninha, pegou uma folha de papel em branco, uma caneta e começou a escrever. — Provavelmente você ainda vai ter pesadelos um dia ou outro, mas dessa forma vamos prolongar seu tempo de sono. E me avise se surgir algum outro desconforto. — John preencheu a receita com todos os dados necessários.

— Obrigada. — Audrey sorriu.

— Deixa que busco — pediu Sherlock ficando de pé e pegando o papel. — Preciso sair para fazer mais uma coisa. Prometo não demorar muito.

John e Audrey o olharam sair do apartamento e ficaram intrigados por ele não ter dito aonde precisava ir com tanta pressa num final de manhã de domingo.

***
Irmã de Sherlock Holmes? Quem diria! Não imaginava outra forma para essa relação de amizade entre os dois se desenvolver. O que acharam da proposta do Sherlock? Vai dar certo e Audrey ficará fora de perigo? E aonde ele precisaria ir num domingo de manhã?

Edit.: Já reparei que essa ideia de "irmã do Sherlock" tem sido aceita com alguma resistência. Mas depois do episódio, 'O Problema Final', ver o que Eurus fez com ele e mesmo assim Sherlock perdoando a irmã, quis dar a ele a oportunidade de receber o cuidado e a implicância que só uma irmã mais nova pode prover.

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