Capítulo 6 - Envelope, sangue e água

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Um homem uniformizado entrou na sala de Mycroft Holmes segurando um envelope sem remetente endereçado a ele.

— Suponho que vocês tenham verificado a existência de qualquer eventual ameaça? — Perguntou ele.

— Sim senhor.

— Pode se retirar então — ordenou Mycroft ficando sozinho com a encomenda não solicitada.

Ele pegou um abridor de cartas prateado na gaveta mais próxima e rasgou delicadamente a parte de cima do envelope retirando um cartão branco com o desenho de uma única pena em nanquim preto na capa e apenas algumas palavras na parte de dentro.

Mycroft leu em silêncio: "Seu irmão é o guardião do único pássaro que vale à pena ser salvo. Cuidado em quem você confia". O teor da mensagem o deixou preocupado.

Olhando o cartão contra a luz, um volume por trás do desenho da pena chamou sua atenção. Com cuidado para não danificar o que poderia estar ali, ele usou a ponta afiada do abridor de cartas para fazer um corte ao redor do objeto expondo um micro cartão de memória.

Pegando um adaptador na gaveta à sua direita, ele acoplou o objeto e inseriu no notebook que estava sobre a sua mesa se deparando com apenas 6 pastas de arquivos. Cinco delas continham fotos e documentos com informações por escrito sobre pessoas cujos assassinatos haviam sido encomendados. A última que verificou, guardava o perfil da pessoa encarregada do serviço.

A maioria dos mortos parecia estar envolvida com algum tipo de crime, exceto um. Mycroft deu o comando para que os arquivos fossem impressos para poder analisar as informações com mais calma.

Sem esperar todos os textos e fotografias saírem da máquina, ele resolveu verificar o que o deixara mais preocupado. O envolvimento do seu irmão mais novo em tudo aquilo. Para isso, Mycroft seguiu até a central de monitoramento das câmeras das ruas de Londres.

— Meu irmão tem aparecido nas imagens com alguma companhia diferente das habituais?

— Essa manhã ele andou por vários quarteirões com uma mulher que nunca tínhamos visto antes — respondeu o homem que operava o equipamento. — Não avisamos nada, por não termos identificado qualquer comportamento suspeito. A não ser...

O controlador deslizou a cadeira com rodinhas até ficar mais próximo ao computador à sua esquerda.

— Se considerarmos a forma como ela chegou — continuou ele mostrando uma imagem do dia anterior em frente à porta do 221B na Rua Baker com John abaixado conversando com a mulher. Era possível ver um líquido escorrendo por entre os dedos dela enquanto a mesma pressionava a testa.

— Envie esse arquivo para o meu e-mail — ordenou Mycroft se virando para voltar à sua sala.

— Quer que continuemos monitorando?

— Não será necessário — afirmou. — Eu mesmo vou tomar providências a respeito disso.

(...)
— Esse sangue na geladeira é meu? — perguntou Elle ao abrir o eletrodoméstico para pegar um copo d'água.

— Sim, — respondeu Sherlock vindo da sala para verificar as placas de Petri. — E tem mais uma amostra no freezer.

A mulher se aproximou dele olhando o líquido vermelho.

— Temperatura e coagulação? — perguntou.

— Na verdade temperatura e tempo desde a deposição. — O detetive olhou para ela. — Assim que o sangue sai do corpo e entra em contato com o ambiente externo começa a se decompor, e estimando esse tempo podemos calcular desde quando está no local. Mas a velocidade do processo de envelhecimento pode variar se estiver mais quente ou mais frio, por isso a análise.

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