A primeira coisa que Audrey Morgan fez ao chegar em casa foi guardar tudo o que havia comprado no guarda-roupa de duas portas do quarto. Depois separou algo para vestir e foi tomar um banho, satisfeita por poder usar roupas novas assim que terminasse. O prazer de usar as próprias coisas estava sendo ainda melhor do que ela imaginou que seria.
Pensou em devolver de uma vez as roupas emprestadas pela senhora Hudson, mas preferiu deixar para o dia seguinte para ter a oportunidade de lavá-las antes. Quando terminou, ela sentou no sofá maior e resolveu ler um livro que pegou na estante enquanto esperava por Sherlock Holmes, que havia saído para um passeio com Rosie e John Watson, e ainda não voltara.
Ao ouvir o som da porta do carro sendo fechada, ela abandonou a leitura e esticou as pernas sobre a mesinha de centro encarando a porta apenas para ver a cara do detetive quando entrasse em casa.
Audrey os esperava usando uma calça jeans escura justa, uma camiseta vermelha de mangas curtas estampada com pequenas margaridas e o trench coat bege de lã que ganhara de presente de Molly Hooper. Nos pés estava com as sapatilhas pretas ao invés das usuais botas de salto alto.
Sherlock, que vinha na frente, abriu a porta e ficou alguns segundos parado olhando para a pessoa sentada no sofá de sua sala de estar até que entrou e deu passagem para John que vinha carregando a filha adormecida nos braços.
— Fiquei tão diferente a ponto de você não me reconhecer? — A mulher riu evitando falar alto para não acordar a bebê.
— Claro que eu reconheci você.
Ele tentava esconder que havia ficado confuso ao encontrá-la e, cansado pelo dia agitado, desabou sobre sua poltrona.
— Seja sincero, Sherlock. — John caminhou sorrindo para o quarto aos fundos e colocou Rosie na cama do amigo.
— Que tal eu fiquei? — perguntou ela de pé no meio da sala girando em torno do próprio eixo depois que John retornou.
— Parece outra pessoa. — Sherlock ainda estava frustrado por ter sido surpreendido daquele jeito.
— Muito gentil da sua parte. — Audrey respondeu de forma irônica sem se irritar.
— Ficou muito bonita — comentou o outro homem. — O casaco caiu como uma luva.
— Obrigada, John — ela sorriu um pouco envergonhada com o elogio. — Foi presente da Molly.
Sherlock levantou os olhos e encarou a mulher analisando suas roupas da cabeça aos pés.
— Por que tá me encarando igual fez no dia que eu cheguei? — questionou Audrey.
John revirou os olhos e bufou com a indelicadeza costumeira do amigo já sabendo o que estava por vir.
— Não tenho muito a dizer, suas roupas são novas, então não tem vestígios de onde você esteve ou o que fez, mas você gosta do seu corpo e não se importa em mostrá-lo. Escolheu roupas justas, mas tentou disfarçar isso com o casaco, tímida? Não. As cores são chamativas demais para alguém que queira passar despercebida. Talvez só esteja com frio mesmo. A estampa floral da blusa é um tanto infantil com essas carinhas sorridentes nos miolos. Tenho certeza que são memórias reprimidas querendo vir à tona.
John estava prestes a pedir para Sherlock parar de falar, mas ele continuou.
— Sua opção por um calçado sem salto tem a ver com o incômodo que sentia por estar mais alta do que o homem que te dispensou mais assistência, no caso o John. Mais uma vez aposto em algo no seu subconsciente ditando como uma mulher deve se comportar, uma idiotice que deve ter sido ensinada a você quando mais nova...

VOCÊ ESTÁ LENDO
Memórias Anônimas
ФанфикA tarde entediante se transforma com a chegada de uma mulher ferida e sem memória implorando pela ajuda de Sherlock Holmes, mas graves acusações trazidas por Mycroft Holmes colocam em dúvida suas verdadeiras intenções. Porém, após vê-la salvar a vid...