Capítulo 19 - Eu não matei o John

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Audrey Felicity Morgan. A mulher sorriu enquanto repousava a cabeça no travesseiro e puxava os cobertores sobre o corpo. Ainda estava emocionada pelo significado do nome que Sherlock Holmes e John Watson haviam escolhido para ela e no fundo achou divertida a provocação de Mycroft Holmes.

A surpresa da noite, no entanto, não ficou restrita apenas à nova identidade e além do nome, ela também ganhou um bolo para marcar a data e John a presenteou com um celular. O modelo não era o mais moderno, porém tinha todas as funcionalidades necessárias e uma linha registrada no novo nome.

Audrey ficou sem jeito ao receber o presente caro, mas ele conseguiu convencê-la a aceitar. A tela do aparelho reluziu sobre a mesinha de cabeceira indicando uma nova notificação. A mulher sorriu ao ver a mensagem de boa noite enviada por Molly Hooper e respondeu desejando o mesmo.

Sentia-se muito bem por ter tanta gente a tratando daquela forma e esperava conseguir retribuir à altura.

— Sempre que precisar pode nos ligar ou nos mandar uma mensagem — informou John de pé ao lado de Molly.

— Mas se precisar do Sherlock mande uma mensagem — instruiu ela.

— E não digite "Oi" no início. Ele apaga sem ler — continuou John.

— Tá bom — respondeu a mulher sorrindo ao saber de mais um comportamento excêntrico do detetive.

Audrey fechou os olhos enquanto se lembrava da conversa e em poucos minutos adormeceu. Ela foi mergulhando em um sono cada vez mais profundo até que um cenário que aos poucos se tornava familiar para ela quebrou toda a paz que sentia.

O mesmo salão oval com o chão de mármore branco ladeado por duas escadas curvas com grades de ferro pintadas em preto como corrimão. As duas levando para o mesmo patamar no andar superior.

A mulher sentiu que segurava algo em sua mão esquerda e quando abaixou a cabeça para ver o que era seu coração quase parou ao encontrar o corpo de John com um tiro fatal entre os olhos.

O que estava em sua mão era uma pistola que acabara de ser disparada. Seu cano ainda quente era uma evidência que dispensava explicações.

Audrey jogou a arma no chão sem saber o que fazer.

— Eu o matei. Eu matei John Watson. Meu Deus, a Rosie... — Ela sentiu lágrimas escorrendo pelo seu rosto e se abaixou ao lado dele. — John, acorda! John é só um sonho! — Nesse momento, a lucidez inundou sua mente. — É isso, um sonho!

A mulher subiu correndo a escada da direita, que era a mais próxima do quarto cuja porta ela sabia estar destrancada, e como da outra vez a abriu e se lançou no vazio.

Audrey novamente sentiu dor ao bater com o rosto e os ossos do quadril no chão de concreto do que parecia ser a cela do centro de treinamento que eles haviam invadido e rapidamente se sentou no chão abraçando os joelhos esperando o momento em que finalmente iria acordar.

Porém, vários minutos pareciam passar e ela continuava ali sendo aos poucos dominada pelo desespero.

— É tudo um sonho. Eu não matei o John. — Balançando o corpo para frente e para trás, Audrey repetia a mesma frase como um mantra. — O John tá vivo. Eu só preciso acordar.

Ela começou a ficar impaciente por nada mudar naquele cenário. A mulher se lembrou da dor que sentiu quando caiu. Era possível sentir dor enquanto estava sonhando? Seus pensamentos a perturbavam. Estava sendo doloroso ouvir aquilo.

— Cala a boca! É só um sonho! EU NÃO MATEI O JOHN!

Audrey finalmente acordou em seu quarto na Rua Baker sentada na cama com uma dor de cabeça quase insuportável e sentiu um liquido escorrendo de sua narina direita. Instintivamente ela levou a mão até lá e constatou que era sangue.

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