Capítulo 17 - Realidade ou ficção?

220 29 19
                                    

Elle sabia que havia chegado ao 221B da Rua Baker, ou pelo menos essa era a última certeza que tinha. Seu cérebro não poderia estar pregando uma peça tão elaborada quanto aquela. Teria sonhado tudo até aquele momento? Os pensamentos a perturbavam enquanto ela analisava o local onde estava.

Um salão oval com o chão de mármore branco ladeado por duas escadas curvas nas laterais, com degraus também em mármore e uma grade de ferro pintada de preto como corrimão. As duas levavam para o mesmo patamar no andar superior.

Atrás dela havia uma porta dupla de madeira escura alta suficiente para acompanhar o pé direito do salão. Não muito longe dela uma TV de tela plana e aparentemente 40 polegadas, chamou sua atenção. O aparelho começou a funcionar de repente passando o comercial de um carro.

Na sequência, apareceram imagens de Londres enquanto tocava uma música e um trailer foi exibido. Sherlock Holmes apareceu falando seu nome, seu endereço e indo embora para em seguida a câmera focar em um homem que ela não conhecia antes de mostrar John Watson de pé se apoiando em uma muleta no meio de um laboratório, muito parecido com o lugar onde a Molly Hooper trabalhava.

O trailer encerrou com mais imagens de Londres e anunciou o dia e horário em que passaria o programa. Depois disso a TV desligou deixando a mulher com o coração batendo em ritmo acelerado. Conhecia os dois de verdade, não eram personagens de um programa de TV. Ela sentiu as lágrimas molhando seu rosto quando decidiu subir pela escada da esquerda para buscar respostas sobre o que estava acontecendo.

Elle tentou abrir uma das portas brancas que encontrou na sua frente, mas estava trancada. Testou outras duas apenas para obter o mesmo resultado. Somente a maçaneta dourada da última girou ao seu toque.

Ela hesitou ao sentir um vento frio e ver a escuridão, mas a curiosidade venceu o medo e seus pés se moveram decididos para dentro do cômodo até que o chão simplesmente desapareceu e a mulher caiu no vazio.

Elle sentiu dor ao bater com o rosto e os ossos do quadril no piso de concreto do que parecia ser a cela onde estivera algumas horas antes.

Ela levantou e foi tateando as paredes até tocar a porta de ferro sem se surpreender ao encontrá-la trancada. O pânico tomou conta dela ao perceber que tudo o que havia vivido até aquele momento não passara de um sonho, um delírio dentro daquela prisão de concreto.

Sherlock não poderia salvá-la, nem John, nem ninguém. Nada daquilo era real. Não havia esperança para ela. Sem saber o que fazer e desesperada por ajuda, ela começou a gritar e a bater com os punhos fechados contra a porta pedindo socorro.

— Elle! — chamou uma voz aflita.

A mulher continuou gritando.

— Elle, querida, acorde!

O toque gentil da senhora Hudson finalmente a despertou.

— Você estava tendo um pesadelo. — A idosa estava sentada ao lado dela na beirada da cama.

Num impulso a mulher se livrou das cobertas, jogou os braços em torno do pescoço dela e a abraçou. Logo as lágrimas molharam seu rosto.

— Está tudo bem agora. — A senhora Hudson a amparou com carinho enquanto balançava o corpo para frente e para traz num embalo tranquilizador que durou alguns minutos.

— Como a senhora sabia que eu estava tendo um pesadelo? — perguntou Elle fechando os olhos e tentando conter a dor súbita de cabeça quando se afastou.

— Você estava gritando, querida. — Ela segurou a mão esquerda da mulher recuperando o contato acolhedor. — Quando ouvi, subi correndo para ver o que estava acontecendo.

Memórias AnônimasOnde histórias criam vida. Descubra agora