No dia seguinte, sábado, Molly Hooper não estava escalada para trabalhar e foi para o hospital bem cedo tentar, inutilmente, convencer Sherlock Holmes a ir para casa.
Como não conseguiu, ela então passou a manhã com ele no quarto de Audrey enquanto John Watson ficou em casa com Rosie. Harry cuidaria da sobrinha para que ele pudesse ir na parte da tarde.
Assim que chegou ao quarto, John fez sua verificação rotineira das condições da amiga conferindo cada um dos aparelhos. Ele conversava constantemente com a doutora Sophie Willows, mas gostava de checar com os próprios olhos, e apesar de ainda temer pela morte dela, se impressionava com o quanto a amiga estava resistindo.
Sherlock acompanhava de pé os movimentos dele tentando ler sua expressão para deduzir o real estado de Audrey, pois, àquela altura, estava certo de que a médica responsável por ela estava escolhendo as palavras quando passava as informações para ele.
— Uma enfermeira esvaziou isso aí pouco antes de você chegar — anunciou Sherlock vendo John analisar a bolsa coletora de urina.
— Menos mal... achei que os rins dela estavam paralisando. — O médico ficou em pé.
— O quanto isso seria ruim?
— Muito ruim, Sherlock. Seria um sinal que os órgãos da Audrey estão parando de funcionar.
— Ficarei de olho! — anunciou ele.
— Sherlock, se isso acontecer, não há nada que você possa fazer.
— Eu não, mas a médica dela talvez...
John olhou sério para ele sem conseguir ter certeza se o amigo não entendia ou não queria aceitar. Ele contornou os pés da cama e se aproximou dele.
— A Audrey ter resistido até agora é um milagre. — John tentava transmitir o máximo de calma que podia na voz. — A equipe de médicos e enfermeiros continua fazendo tudo que podem para manter ela viva, mas estão todos esperando pelo pior, Sherlock. Se as funções cerebrais dela cessarem os aparelhos vão ser...
— Chega! — A voz de barítono de Sherlock o interrompeu de maneira firme e ele voltou ao seu lugar na poltrona perto da cama.
John se contentou em suspirar e lamentar como estava sendo difícil ter aquela conversa. Mas ele sabia que Sherlock estava longe de ser burro e já tinha entendido.
Ficou olhando para Audrey desejando poder ouvir a voz dela mais uma vez e seu sorriso brincando com Rosie. Não descansaria até descobrir o porquê de terem feito aquilo com ela e estava certo de que o amigo não pensava de forma diferente.
O que os pais dela tinham em mente para vender a filha? Se livrar dela... Ele se aproximou um pouco mais e colocou a mão nos cabelos de Audrey. De repente o carinho se tornou uma busca com as pontas dos dedos e a expressão de John foi mudando enquanto a raiva dominava seus pensamentos.
— O que você está fazendo? — perguntou Sherlock.
— Aquele bastardo não estava brincando quando falou sobre as cirurgias — respondeu John tensionando a mandíbula.
— Encontrou alguma coisa? — Ele havia se levantado e estava parado atrás do amigo.
— Vem cá, me dá sua mão. — John o puxou pelo braço e fez tocar a cabeça de Audrey. — Está sentindo as cicatrizes?
— Quantas vezes aquele cara abriu a cabeça dela? — Quis saber Sherlock entendendo o motivo da revolta.
— Não tenho ideia — declarou o médico. — Para estar com essa cicatrização grosseira ou ele repetiu muitas vezes o procedimento, ou foi negligente com o pós-operatório, ou as duas coisas.
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Memórias Anônimas
أدب الهواةA tarde entediante se transforma com a chegada de uma mulher ferida e sem memória implorando pela ajuda de Sherlock Holmes, mas graves acusações trazidas por Mycroft Holmes colocam em dúvida suas verdadeiras intenções. Porém, após vê-la salvar a vid...