Mais uma vez Audrey Morgan desceu do quarto no piso superior e sentiu a sensação estranha com o 221B vazio, mas dessa vez o silêncio era diferente.
Ela entrou pela cozinha e um aroma ferroso invadiu suas narinas fazendo um arrepio percorrer seu corpo. A porta do armário acima da pia estava aberta e ela sabia muito bem o que ficava guardado ali.
Com o corpo tenso, ela caminhou até a sala. Sherlock Holmes não estava em sua poltrona, mas sim no chão, ao lado de Molly Hooper. Ver seus corpos pálidos e sem vida, trouxe flashes de memórias à sua mente.
O amigo se jogando sobre a mulher para protegê-la e sendo baleado seguido pelo desespero nos olhos da amiga com o homem que tanto amava morto em seus braços antes de receber um tiro fatal.
Audrey estava em choque. Não entendia por que estava tendo aqueles pensamentos, nem por que não tinha ouvido qualquer barulho de invasão, briga ou disparo de arma.
Ela correu para o lado de fora apenas para encontrar mais uma vítima. A senhora Hudson estava caída no final da escada. Seu pescoço dobrado em um ângulo impossível e a idosa não se mexia.
Audrey não teve coragem de tocar nela, mas sabia que a proprietária do imóvel também estava morta. Seu desespero era tanto que ela não conseguia derramar uma lágrima sequer.
Do lado de fora, mais vítimas. John Watson estava caído no meio do caminho entre a porta e seu carro estacionado próximo à calçada.
Por alguns segundos Audrey teve a nítida impressão que o vira correndo na direção dela com os braços estendidos à frente e muito ódio no olhar antes de receber o impacto da bala no meio da testa e cair imóvel no chão.
Outra lembrança estranha que ela não entendia por que estava vivenciando.
Havia mais alguém na cena, dentro do carro de John. A porta entreaberta deixava aparecer uma pequena e delicada mão.
Audrey se aproximou e terminou de abrir o veículo expondo o corpo da pequena Rosie Watson caída sobre o banco de trás do carro. O tiro que a atingiu havia sido disparado à distância e ela morreu antes que o pai pudesse prendê-la à cadeirinha e tentar fugir.
A mulher ficou atordoada por não entender como sabia daquela informação.
— Ora, foi você mesma quem atirou! — anunciou uma voz conhecida e só então ela olhou para a mão esquerda e percebeu que segurava uma arma.
A mesma que Sherlock guardava no armário da cozinha e já tinha estado em suas mãos em outras ocasiões. Imediatamente Audrey a soltou no chão. Seu corpo tremia e a dor no peito era tão grande que ela não achou que fosse suportar.
— Não fique assim, Beija-Flor. Foi o melhor para você e para eles. — O homem caminhou na direção dela. — Você recuperou a memória e voltou a ser quem era!
Albatroz começou a gargalhar exibindo seus dentes afiados enquanto aplaudia o feito da ex-parceira.
— Isso não é real! — insistiu ela.
— Isso é o que nós somos! — afirmou ele.
Com as mãos sobre as orelhas, Audrey gritou em desespero sem conseguir processar o que estava acontecendo enquanto escorregava com as costas escoradas no carro de John.
A mente tomada pelas imagens dos amigos mortos. Crimes cometidos por ela. O verdadeiro monstro finalmente se revelava.
Com os olhos fechados ela sentiu quando foi agarrada pelos ombros. Provavelmente policiais. Vieram para prendê-la e ela não ofereceu resistência. Merecia aquele destino. Não havia reparação para o que tinha feito.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Memórias Anônimas
أدب الهواةA tarde entediante se transforma com a chegada de uma mulher ferida e sem memória implorando pela ajuda de Sherlock Holmes, mas graves acusações trazidas por Mycroft Holmes colocam em dúvida suas verdadeiras intenções. Porém, após vê-la salvar a vid...