Capítulo 52 - O Fim de Beija-flor e Albatroz

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Até que a morte os separou...

— Flor, você tem visibilidade? — perguntou Albatroz pela escuta em seu ouvido.

— Clara e perfeita — respondeu ela. — Ele está saindo da casa. Se mantiver a rotina que temos observado desde o início da semana, vai para a mesa da varanda. Assim que sentar lá, eu faço o serviço.

— Estou te esperando com o carro ligado.

— A porta está abrindo... — Beija-flor apoiou o rifle de precisão sobre a mureta atrás de onde estava escondida e colocou o olho na mira.

Mal o homem deu alguns passos para fora de casa, uma garotinha que não devia ter mais de cinco anos correu atrás dele e o abraçou.

O homem sorriu com o carinho dela e a ergueu do chão com um abraço fraternal. Quase não teve tempo de soltá-la quando outra veio de dentro de casa e fez o mesmo. Gêmeas. Completamente à vontade com o pai.

No relatório havia uma reclamação do filho mais velho dizendo que o pai agredia as meninas e por isso ele o queria morto, mas Beija-flor não localizou nem mesmo um arranhão nos corpos expostos pelos shorts e camisetas dos pijamas que elas usavam. E a atitude tranquila delas, na presença dele, não era condizente com os relatos de violência.

Era a primeira vez que via as duas pessoalmente. Até então ela imaginou que estavam sendo mantidas longe do homem em segurança na casa de algum parente. Ele ocupou o lugar previsto pela mulher. Posição perfeita para um tiro limpo assim que as crianças se afastassem. Mas ela hesitou. Havia alguma coisa errada.

Não era um terrorista ameaçando um grupo de pessoas num trem, metrô ou shopping lotado. Era um pai carinhoso tomando café da manhã com as filhas. Beija-flor desmontou o rifle, o guardou e correu para o carro.

— Feito? — perguntou Albatroz assim que ela entrou.

— Não consegui.

— Como assim não conseguiu?

— Tem alguma coisa errada Alba... tem duas meninas com ele e aquele homem... — Ela estava com dificuldade para verbalizar o que estava pensando. — Aquele homem... não é...., mau...

— Ah, tenha paciência... é sério isso? — Albatroz bateu com as mãos no volante. — Me dá isso aqui!

Ele tentou tirar a mochila com o rifle da mulher, mas ela a abraçou com força.

— Todo mundo já deve estar acordado... não vamos conseguir fugir se você for lá agora — retrucou ela com os olhos fechados.

— Não acredito que te bateu senso de moral bem agora... estamos quase sendo promovidos!

— Olha no que estão transformando a gente! Assassinos de aluguel! Quem sabe os motivos que levaram aquele cara a encomendar a morte do pai?

— Parece que ele maltrata as filhas, sei lá! — Albatroz não escondia a irritação na voz.

— Elas pareciam muito à vontade e felizes com dele e não vi marca em nenhuma delas — falou a mulher trincando os dentes tentando lidar com a raiva que sentia. — E com a lente dessa mira eu conseguiria ver uma mosca pousada sobre as tortas que estavam naquela mesa. Não estão sendo totalmente honestos com a gente.

— QUE DIFERENÇA ISSO FAZ? — gritou ele.

Beija-flor ficou em choque com a declaração do namorado e decidiu parar de discutir. Com raiva e em silêncio, Albatroz dirigiu de volta para o centro de treinamento.

(...)
— Tem ideia do quanto a atitude de vocês custou?! — O supervisor estava visivelmente transtornado quando terminou de ouvir o relato da missão falha. O questionamento de Beija-flor sobre o assassinato do homem inocente não ajudou nenhum pouco a melhorar a situação.

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