Capítulo 80 - O conforto da Amnésia

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A manhã seguinte começou tão cheia de trabalho para o detetive quanto fora o dia anterior. Quando Audrey Morgan desceu para a cozinha, na intenção de tomar café junto com Sherlock Holmes, ele já havia saído. A sensação era estranha com o lugar tão vazio.

A mulher chegou a pensar em descer para conversar com a senhora Hudson, mas não quis incomodar. Já considerava muito os scones e o chá que ela havia preparado e deixado sobre a metade da mesa que não estava ocupada pelos instrumentos de laboratório de Sherlock na cozinha.

Audrey se acomodou em uma cadeira e enviou uma mensagem de bom dia para Molly Hooper, algo que havia se acostumando a fazer diariamente.

A amiga demorou um pouquinho para responder e quando a mensagem chegou, pedia desculpa justificando que ela estava fazendo uma necropsia acompanhada por Sherlock e haviam acabado de chegar ao laboratório para analisar as amostras coletadas.

Audrey pressentiu que não veria os amigos tão cedo, pois quando trabalhavam juntos a dupla não se dava conta do avançar das horas.

Depois que terminou de comer, ela lavou toda louça suja que encontrou pela cozinha e sem muita opção do que fazer, decidiu se distrair com algum dos livros da estante da sala.

A vontade de arrumar a bagunça que estava acumulada no local quase fez a mulher abandonar de vez a bengala, esquecer qualquer dor e pegar uma vassoura, mas não estava a fim de regredir na evolução do seu estado agora que já se sentia tão melhor.

Ainda assim, ela considerou que organizar as pastas, papéis e jornais espalhados sobre a mesa maior e a mesinha de centro não seria uma tarefa tão pesada.

Audrey tentou arrumar tudo deixando empilhado em grupos conforme estavam dispostos para não atrapalhar qualquer investigação em curso.

Ela não conseguiu deixar de olhar com curiosidade cada caso e ficar assombrada com a crueldade de alguns. Seus olhos corriam sobre as informações até que uma em particular a fez sentir um aperto no coração.

— Albatroz. — Ela leu o nome em voz alta.

Imagens desconexas surgiram em sua mente. John mostrando uma pasta com aquele nome, dois homens conversando embaixo de uma árvore, o salão oval com o chão de mármore branco dos seus pesadelos, a enfermaria do centro de treinamento, a Torre Eiffel e por fim o par de olhos que ela viu antes de levar o tiro.

Audrey sabia que havia algo mais sobre aquele homem do que apenas a vontade de proteger o projeto a eliminando. Precisava saber quem ele era realmente.

Desistindo da arrumação, ela sentou na extremidade esquerda do sofá e começou a analisar cada detalhe naquele arquivo. Primeiro a foto dele, mas para sua decepção, não teve qualquer outra lembrança significativa a respeito.

Depois passou para a descrição do perfil, o motivo que o fez se tornar paciente da clínica psiquiátrica de onde vinham os relatos do uso irregular da droga, com a qual ela acabou sendo inoculada.

Era um homem violento. Vários casos de agressão a membros da família, incluindo o quase assassinato da própria mãe e um sobrinho que tentou intervir.

Depois disso foi internado na clínica e família não hesitou em se livrar dele. Audrey compreendeu a atitude e aceitou que caso descobrisse ter tido o mesmo comportamento com seus parentes, não ficaria com raiva ou guardaria mágoa.

Na sequência estavam listadas inúmeras aptidões do homem e treinamentos pelos quais ele passou. Ela não pôde deixar de imaginar se haviam feito o mesmo com ela.

O mais perturbador, no entanto, estava nas últimas folhas. As fases do procedimento para apagar sua memória com ciclos de cirurgia, uso da droga, tortura e por fim as cirurgias plásticas.

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