Capítulo 40 - Henrique

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Henrique

Cheguei em casa, abri a porta, joguei a mochila no chão e sentei na mesa bamba que tínhamos em nossa cozinha que eu havia conseguido por um preço considerável, já que o antigo dono estava quase dando de graça.

Meu corpo estava cansado, mas eu me sentia muito feliz por saber que Vivian havia aceitado meu convite, era notório o sofrimento que passava em seu rosto.

Ri em silêncio ao pensar em como Deus se manifestava de formas que a nossa capacidade humana não imaginava. Lembrava quando o obreiro da Catedral de Vicente havia me dado aquele versículo, quando eu havia sido levantado a obreiro. Todas às vezes que vinham pensamentos de insegurança, de que eu não ia conseguir, eu me lembrava da escolha de Deus.

-Sabia que uma hora ou outra, essa coisa de crente ia te deixar doidão, maninho. -Helena apareceu na porta do quarto da nossa mãe. -Tá até rindo sozinho.

-Helena, não sabia que você viria dar nos o ar da sua presença, já que faz o que? Dois ou três meses que você não aparece aqui, não liga e nem procura saber como estamos?

-Três meses, mas isso não vem ao caso. -Ela abaixou o olhar momentaneamente, mas quando me encarou novamente, lá estava a velha prepotência que eu já conhecia de longa data. -Você demorou para chegar.

-Eu estava no hospital visitando uma moça.

-Sua namorada?

-Não, meu Deus!

-É continua sendo um mole mesmo. -Minha irmã pegou o cigarro do bolso e ia acender, mas levantei bravo.

-Nem pense nisso, aqui dentro não!

-É só um!

-Se quiser, vai lá fora. Eu tô pouco me importando com o que você faz ou deixa de fazer, mas debaixo desse teto eu não vou permitir!

Helena revirou os olhos:

-O pior é ver você se impondo em um lugar horrível como esse! Sério, como vieram parar nesse fim de mundo?

-Pelo menos, aqui é um lugar que podemos chamar de lar, não é a estrutura física, Helena, que importa, mas a estrutura familiar, os valores e exemplos que nunca faltaram. -Eu não queria julgar a vida que a minha irmã levava, mas sabia que cada palavra que saia da minha boca não era fácil de ser ouvida.

Helena era a irmã mais velha, seguida por Heitor e por mim, que era o caçula. Entendo que desde nova, muita cobrança foi posta em cima de seus ombros, já que sempre que lembro da nossa infância, lembro da minha mãe doente e vivendo em hospitais. Sem o nosso pai presente, Helena quem teve a responsabilidade de cuidar de mim e do meu irmão, da nossa casa e da nossa mãe.

Até que minha mãe conheceu Jesus através da igreja que continuo frequentando até os dias de hoje, e foi curada da doença que carregava por anos. Finalmente ela pode cuidar de nós, e deu alguma liberdade para Helena.

Minha irmã não se interessou pela fé, pelo contrário, quis desfrutar de tudo que o mundo pode oferecer a ela, sem medir as consequências, não havia nada que a impedisse de agir sem pensar, ela só queria viver e curtir sem as responsabilidades que a vida obrigou a ter desde pequena.

Então, quando fez dezenove anos, fugiu de casa para morar com um homem de vinte anos mais velho, depois desse dia, eu não sabia muita coisa sobre a minha irmã, só sabia o que eu suponha em minha mente, e posso afirmar que não era nada de bom.

-O que você veio fazer aqui?

-Vim visitar vocês... E eu preciso de dinheiro.

-Não acredito nisso! -Olhei para ela frustrado. -Helena, olha a nossa situação! Eu e a mãe estamos lutando para sair daqui, para arcar com as nossas despesas! E você vem pedir dinheiro? Acha que é fácil assim? Só chegar assim e pedir?

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