Vivian
Os braços daquele rapaz eram quentes contra a minha cintura, mas nada que trouxesse o calor emocional para dentro de mim. Gabriel? Gustavo? Eu não lembrava o nome do quinto homem que eu dormia naquele mês.
Eu não sabia como tinha chegado aquela situação, mas lá eu estava. Enquanto o rapaz dormia tranquilamente ao meu lado, eu encarava o teto. Lembrava quando eu havia aberto a carteira e mesmo com tantos dias trabalhados no bar eu não conseguia pagar as minhas contas, quanto mais dar um presente digno ao meu filho que faria aniversário dali duas semanas.
Então aceitei a oferta de Ricardo. Depois a oferta de Lucas, e depois de mais alguém que eu não conseguia lembrar o nome, normalmente eu bebia até apagar para não lembrar do que eu estava prestes a fazer, mas o ponto era que eu ia parar. Eu tinha que parar, eu não era um garota de programa, eu não havia sido criada para fazer aquilo... Era apenas para eu pagar as contas, apenas para eu dar uma folgada aquele mês...
Mas era tão fácil ganhar dinheiro com aquilo... Por mais que eu me sentisse suja, imunda e a pior mulher de todas, eu continuava fazendo.
Me levantei da cama em silêncio e peguei minhas coisas pelo chão. Guardei o dinheiro que estava em cima da minha carteira e fui para casa. Eram quatro horas da manhã e fui direto para o chuveiro, mas nem toda água do mundo poderia limpar o meu interior.
Devo ter ficado por mais de vinte minutos ali e contra a minha vontade sai do banho onde Vitória me esperava, mesmo de pijama não parecia que tinha dormido, como se estivesse me esperando acordada:
-Onde você estava? Eu fiquei preocupada!
-Estava resolvendo algumas coisas. -Sei de ombros.
-Que coisas, Vi?
-Não são da sua conta. -Peguei a garrafa que estava em cima do balcão e dei o último gole. Era como água, não fazia mais efeito nenhum. -Eu estou cansada, preciso ir dormir. -Passei entre a minha irmã mais nova e fui em direção ao nosso quarto.
-Vivian, veio um rapaz aqui procurando você. Ele se chama Carlos, disse que você tinha esquecido o seu batom na cama dele. -Meu coração deu uma leve parada. -Disse para você ligar novamente para que vocês pudessem marcar outra vez, ele disse que pagaria adiantado.
Eu não consegui virar o rosto para encarar a minha irmã. Eu sabia que ela tinha sacado tudo que estava acontecendo, ela não era idiota, mas a vergonha me consumia.
-O que você está fazendo, Vivi? -Sua voz era um fio.
Não consegui responder, um bolo se formou na minha garganta, se eu falasse sobre aquilo, certamente eu começaria a chorar.
-Eu preciso dormir, Tóri. Boa noite. -E fui para o meu quarto me cobrindo e fingindo que já estava dormindo para que não precisasse encarar minha irmã novamente.
Como eu odiava aquele caminho em que a minha vida estava tomando.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O CAMINHO
SpiritualA vida de Henrique virou de cabeça para baixo, quando sua mãe contraiu diversas dívidas para tentar tirar seu irmão, Heitor do mundo do crime e das drogas. Agora ele se depara em morar em uma comunidade do outro lado da Ponte do Silêncio em um barra...