Capítulo 59 - Renato

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Renato

Abri os olhos e um grito morreu na minha garganta. Eu sentia ainda aquelas coisas tentando me pegar, eu sentia o desespero e o pavor. Minha garganta estava seca e o gosto de enxofre parecia acobertar minha língua.
Tentei me levantar, me debati contra os fios e os médicos me seguraram.
-Ele voltou! -Alguém gritou.
O equipamento que marcava meus batimentos cardíacos bipava sem parar. Eu tremia, eu queria minha mãe, eu queria sair dali.
-Precisamos acalma-lo! -Alguém enfiou uma seringa em meu braço contendo algum remédio e eu apaguei novamente.
***
Quando acordei novamente eu não fazia ideia de que dia, hora ou mês eram. Poderia ter se passado algumas horas, como também dias e eu não saberia a diferença. Eu só sabia de uma coisa, eu estava vivo. Eu ainda estava vivo.
Os médicos vieram, fizeram algumas perguntas para mim, me desconectaram do oxigênio e eu pude respirar sem ajuda.
Então meu pai entrou no quarto quando os médicos me estabilizaram, olhei para ele e pude ver o cansaço em seu rosto. Eu também estava cansado de tudo aquilo.
-Aonde está a minha mãe? -Perguntei.
-Sua mãe foi responder na polícia por você. -Ele se aproximou de mim.
-Responder por mim? Na polícia? Por quê?
-Você não lembra, meu filho?
Eu ia perguntar do que, mas as memórias da última noite vieram a tona. Antes de pegar o carro, eu ter dado uma facada em Pâmela.
-Meu Deus... O que foi que eu fiz? -Fechei os olhos. -Ela está bem?
-Sim, foi grave, mas ela está fora de perigo.
-Eu vou ser preso?
-Eu contratei um advogado para você. Assim que eles conseguirem, irei pagar a fiança.
-Obrigado... -Sussurrei, aquilo era doloroso demais. Meu orgulho estava sendo quebrado em milhares de pedacinhos.
-Renato, meu filho, olha para mim.
Eu não queria, mas com dificuldades me obriguei a encarar o meu pai. Seus olhos eram firmes e eu podia enxergar alívio e felicidade por eu estar vivo. Pela primeira vez, eu não queria mais sentir raiva do meu pai. Eu só queria ser filho dele novamente.
-Pai, eu prometo, vou pagar tudo isso que o senhor está fazendo por mim.
-Meu filho, eu não quero nenhum dinheiro seu, só saber que você está vivo me deixa feliz. -Uma lágrima escorreu pela sua bochecha. -Por um momento nós achamos que havíamos perdido você, quando seu coração parou era como se o meu tivesse parado também. Cada tentativa deles de te reanimarem era uma esperança para mim e para sua mãe. Graças a Deus pela vida daquele obreiro, ele ficou aqui com a gente, não deixou que a gente perdesse a fé, eu tenho certeza que a oração dele, foi ela que não deixou você morrer, porque Deus o escutou.
Agora era a minha vez de chorar. Meu pai pegou uma das minhas mãos e contei o que eu havia presenciado.
-Pai, foi real. O senhor pode dizer que foi um sonho, mas eu sei que não foi. Eu havia morrido e estava indo para um lugar terrível que eu sabia que não tinha mais como voltar... Eu não sei, mas eu voltei...
-Deus teve misericórdia de você, eu acredito em tudo que você falou.
-Por que Ele teria misericórdia de mim? Olha o quanto eu sou ruim! Olha o tanto de coisa que fiz, que deixei me dominar... Por que logo eu?
-Eu não posso te explicar isso, mas está nas suas mãos agarrar essa nova oportunidade que Deus está te dando de trilhar um novo caminho! Basta você decidir, independente do que acontecer daqui para frente. Se você for preso, se tiver que pagar pelos seus erros, mas que acima de tudo você esteja com Ele.
Concordei e fechei os olhos, pela primeira vez falei com Deus.

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