Capítulo 75 - Henrique

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Henrique

-... Na minha opinião, o senhor não está pensando com os dois pés no chão. -Jacqueline falou. Seus cabelos estavam presos e seu rosto cansado.
Tirei o óculos do rosto, joguei contra a mesa e respirei fundo. Faltava pouco para que eu perdesse a paciência. Estávamos a meia hora discutindo sobre o evento que teríamos na catedral e como iríamos levar os jovens.
Eu havia alugado um ônibus, mas havia ficado um valor muito alto. Muitos dos jovens não tinham condições de pagar a passagem e ainda que desse, ir a pé com todos eles não era uma boa opção. Teríamos jovens novos que não seria legal andar naquele sol de matar por uma hora e meia.
-Você tem alguma ideia melhor? -Falei controlando a minha voz.
-Não, mas... -Ela ia começar de novo.
-CHEGA! -Jacqueline me olhou, mas não se intimidou com o meu tom de voz. Era a primeira vez que discordavamos de alguma coisa. -Olha bem, eu gosto de receber ideias, estou sempre pronto para ouvir soluções, mas nesse caso, você não está me trazendo solução alguma! Só está repetindo o mesmo problema que eu já tenho plena consciência que temos!
-O EVENTO É NO DOMINGO! -A voz dela se elevou também.
-EU SEI! -A fuzilei com o olhar.
-Na catedral eles sempre fazem...
-Olha, Jacqueline! Eu já fui da catedral também! Sei como as coisas funcionam lá! Mas deixa eu te perguntar, as condições são iguais a daqui? -Ela não respondeu. -Lá eles conseguem arcar com ônibus sem nem incomodar os jovens porque tem mais pessoas com mais condições! É injusto da sua parte querer comparar os dois trabalhos! Ainda que tenhamos o mesmo objetivo que é salvar, são estratégias diferentes que precisam ser aplicadas! Eu demorei um pouco para entender isso, e quero que você entenda! Eu não quero ter que discutir com você todas às vezes que depararmos com um problema assim! Eu não pedi para ser líder, mas reconheço a autoridade e responsabilidade que está posta sobre os meus ombros, espero que reconheça isso também! Não confunda as coisas! Sou seu amigo, mas sou seu líder também! Sou responsável até mesmo pela sua alma! Então quando eu decidir algo, saiba que estou ciente dos problemas que podem vim acontecer e estou pronto para segurar as pontas!
Ficamos em silêncio nos encarando, até que Jacqueline suspirou:
-Desculpe, obreiro. Realmente, passei do limite. -Ela pegou a bolsa, sem graça da mesa e se levantou. -O senhor precisa de mais alguma coisa?
-Não. -Eu estava sendo duro, sabia disso, mas eram momentos como aquele que precisávamos ter pulso firme e eu sabia que Jacqueline não se abateria por qualquer coisa, amanhã já estaríamos bem novamente.
Éramos amigos, companheiros de fé e tínhamos aquela liberdade espiritual de corrigir um ao outro quando estavam errado.
-Até amanhã, tentarei de tudo para que venhamos levantar o valor. Deus vai nos honrar. -Ela sorriu.
-Tá ligado! -Sorri de volta.
Assim que ela saiu o pastor Samuel entrou.
-Está tudo bem entre vocês dois?
-Sim, senhor. Agora está.
-Esperei vocês terminarem, aí eu entrei.
-O senhor estava aí o tempo todo? -Olhei assustado.
-Nao queria incomodar. -Ele sorriu. -Existem diferenças que vocês mesmo tem que se acertarem. Não cabe a mim, é normal ter diferenças em amizades, imagine se todo mundo fosse igual?
-Sim, senhor.
Ele abriu a garrafa de café e me ofereceu um copo. Aceitei e ele se sentou na minha frente:
-Henrique, posso te perguntar uma coisa? O que você acha da obreira Jacqueline?
-Acho ela legal... -Quando percebi onde iria chegar com aquela conversa me engasguei. -Não, pastor. Não a vejo dessa forma.
-Henrique, ela é uma moça bonita, nova e vocês dois ainda que briguem, tem muito em comum, por que não?
-Eu realmente, pastor, só vejo ela como uma amiga. Sei que devo procurar uma esposa, mas não é ela. E também acredito fielmente que ela não me vê dessa forma, a gente nota quando uma mulher gosta da gente.
-Tem homem que é lerdo, rapaz. -A gente riu. -Mas você já gostou de alguém?
Fiquei em silêncio e encarei o copo de café que estava nas minhas mãos. Até aquele momento eu tentava de todas as formas sufocar aquele sentimento porque não achava correto, mas o pastor não precisava nem citar o nome dela, instantaneamente ela vinha na minha mente.
Seu sorriso, sua força de vontade, sua teimosia.
Respirei fundo, eu não só havia gostado, como ainda gostava dela. Por mais que quisesse negar.
-Tem uma pessoa, mas não é o momento. -Respondi. -Então, tenho orado por ela, mas estou agindo pela razão.
-Vai dar certo, rapaz. -O pastor sorriu. -Se for da vontade de Deus, tudo se encaixa, mesmo que pareçam ser peças de diferentes quebra cabeças.
-Quando se tem o mesmo Caminho, o mesmo objetivo e estão no mesmo espírito é questão de tempo.

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