Capítulo 33 - Henrique

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Henrique

Já era tarde, a reunião havia terminado e eu acabava a oração com todos os jovens presentes. A maioria morava ali na comunidade então não tinha perigo irem para casa, cada um ali conhecia aquele bairro como a palma de sua mão.

Enquanto cada um se despedia de mim e se juntavam em grupos, olhei para Laura que parecia nervosa ao olhar para o lado de fora.

Me aproximei e sorri:

-Laura? Algum problema?

-É que eu não avisei meus pais que eu ia vim para cá... Na verdade, eu nunca falo, porque como o senhor sabe, eles não gostam da igreja... E então eles não vão vim me buscar, mesmo que eu peça. Está tarde, não que eu esteja com medo, mas é complicado...

-Fique tranquila, eu só vou pegar o meu casaco e vou levar você em casa.

-Eu não quero incomodar...

-Obreiro, eu queria falar com o senhor sobre o futebol... -Saulo se aproximou de nós.

-Você tem pressa de ir para casa? -Perguntei.

Saulo deu um olhar para trás em direção onde Vitória estava.

-É que eu ia resolver alguns problemas... -Ele não olhava para mim e naquele instante eu podia ver que estava mentindo.

Alguma coisa estava acontecendo que eu não sabia, mas era bom me esforçar para evitar o que fosse.

-Vamos cara, vem comigo! Não queria ir sozinho. -Fiz a melhor cara para convencer Saulo.

Por fim, ele concordou. Não sabia falar não para mim e eu esperava que quando estivessemos sozinhos, eu conseguisse descobrir o que estava acontecendo.

-Vamos na onde?

-Levar a Laura em casa. -Disse e fui pegar meu casaco, enquanto eu percebia de longe, Saulo indo conversar com Vitória, o rapaz meio que pareceu se desculpar e a garota ficou brava, não falaram muito, mas Vitória saiu batendo os pés.

-Vamos? -Perguntei ao ver o rapaz ficar sem reação olhando a garota se afastar.

-Sim, senhor.

Nós três caminhavamos e conversávamos tranquilamente. A noite esfria a cada minuto que se passava, mas ainda assim, na comunidade havia muitas pessoas nas ruas.

Quem mais tentava iniciar uma conversa era eu, Laura nunca falava mais que duas palavras, ela sempre havia sido tímida e mostrava ter dificuldades em iniciar não só as conversas, mas até amizades. Eu via o quanto ela se excluia, mesmo quando os jovens se reuniam entre si, a garota preferia ficar distante.

Por mais que aos poucos, Laura estivesse se envolvendo com as coisas da igreja, ela ainda vivia se distanciando, eu sabia que tinha mais algo dentro de si, mas todas às vezes via que ela não conseguia se abrir para mim...

E ali, até Saulo estava em silêncio, falava algumas coisas, mas eu também via que seus pensamentos estavam em outro lugar.

-O que você gosta de fazer? -Perguntei para Laura, tentando mais uma vez puxar alguma conversa. Nós nos aproximavamos da ponte que ligava a comunidade do bairro que ficava no centro.

-Eu? Eu não sei... -Ela deu de ombros.

Abri a boca para insistir quando ouvimos gritos vindo da ponte.

-O que é isso? -Perguntei, quando dei um passo para frente para poder ver melhor, Saulo colocou a mão em meu peito me fazendo parar. Olhei para o seu rosto que havia ficado mais sério. -Saulo?

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