Capítulo 21 - Daniel

187 34 0
                                    

Daniel

Já estávamos no meio do evento, tinha sido uma guerra para chegarmos até ali. Nosso bairro era distante da cidade, mas eu não reclamava, como eu amava fazer parte do grupo dos jovens, amava estar ali presente.

Eu estava muito feliz, afinal, mesmo em meio a tantas lutas, a minha igreja permanecia em pé, permanecia tendo grupo dos jovens e eu permanecia na fé.

Olhei para os lados a procura dos meus amigos, mas eles não haviam voltado do banheiro, olhei para o pastor do meu lado:

-Já faz tempo que eles estão no banheiro, né?

-Vai lá, Dan. Vê se eles estão bem e manda todo mundo subir. Diga que eu estou procurando por eles.

-Sim, senhor. -Desci até o estacionamento da igreja, mas não consegui encontra-los.

Andei por todo o estacionamento e os banheiros, mas nenhum sinal deles, já estava querendo voltar para o evento, pois certamente eu estava perdendo muita coisa, quando lembrei que eu tinha um celular e poderia facilmente mandar mensagem para alguém.

Abri o Whatsapp e entrei na conversa com Diogo:

Daniel: Cara, você tá com a Vitória e o Igor?

Diogo: Uhum, pq?

Daniel: Eu to procurando vocês maior tempão, onde vcs estão?

Diogo: Tá sozinho?

Estranhei a pergunta, mas eu precisava saber aonde eles estavam:

Daniel: Sim.

Diogo: Nós estamos aqui do lado de fora da igreja, sai e atravessa a rua.

Guardei o celular no bolso e sai da igreja, atravessei a rua e logo na primeira esquina Diogo acenou para mim. Caminhei até ele bravo, nós estávamos perdendo o evento!

-O que você está fazendo aqui fora? -Perguntei cruzando os braços diante do peito.

-O evento estava chato, aí resolvemos sair um pouco. -Diogo deu uma piscadela para mim, mas eu não estava vendo graça, como ele poderia achar um evento tão incrível como aquele chato?

-Cadê os outros? -Perguntei sem paciência.

-Promete que não vai contar para o pastor?

-Por que eu iria contar para o pastor, Diogo? -Perguntei inocentemente soltando os braços ao lado do meu corpo.

Diogo andou até uma viela e eu segui apenas para ver Igor e Vitória se beijando.

Ambos se separam e viram que eu estava ali.

-Daniel! -Igor sorriu presunçosamente.

Engoli em seco e olhei para o lado para disfarçar o meu espanto. Eu não tinha nada a ver com a vida deles, por que eu estava tão chocado?

-O pastor está procurando por vocês. -Respondi tentando não esboçar nenhuma emoção.

-Você não vai contar para ele, vai? -Vitória me olhou sorrindo.

-Talvez, devesse beijar o Daniel também. -Diogo brincou.

-Se quiser, é só falar! -Ela gargalhou e senti meu rosto esquentar em vergonha.

-Eu só quero voltar para o evento... -Respondi tentando sair daquele assunto, Diogo sabia que eu gostava de Vitória, mas eu nunca teria coragem de pedir aquilo. Por mais que eu quisesse beijá-la, não queria que fosse daquele modo, tendo que ser escondido de todo mundo.

-Um evento chato daquele... -Vitória revirou os olhos.

-Mas é melhor voltarmos, antes que seja o pastor vindo atrás de nós. -Igor falou limpando da boca as marcas do batom de Vitória.

-Não aguento mais ele no meu pé! -Diogo falou enquanto eles caminhavam.

-Acredita que esses dias eu estava fora da escola, havia aceitado um cigarro de um maluco e acho que ele me viu? Não sei se era ele mesmo, mas de uns tempos para cá ele não saiu mais do meu pé! -Igor falou.

Continuei em silêncio como se eu não estivesse ali, ver meus amigos falando aquilo me deixou sem palavras, como eles poderiam ir para a igreja e continuarem fazendo aquelas coisas que todos os dias a gente escutava serem erradas?

E o pior era que nenhum deles pareciam fazer tais coisas. Tanto que cada um tinha uma função para ajudar no grupo jovem.

Meu Deus, suspirei.

Voltamos para os nossos lugares e o pastor olhou para nós:

-Eu já estava preocupado, onde vocês estavam? -Ele olhou diretamente para mim.

-Nós tínhamos ido comprar alguma coisa para comer, Vitória estava passando mal. -Diogo logo interveio.

-Ok, mas não é para vocês ficarem saindo, perderam muitas coisas.

-Sim, senhor. -Eles concordaram obedientemente e em seus rostos não havia nenhum sinal de culpa, conclui que eles já faziam aquilo muito tempo.

E eu me sentei, me sentia mal por não falar a verdade, mas pela amizade que eu tinha aos meus amigos me convenci de que aquilo não era problema meu e que cada um poderia se cuidar sozinho.

Ah, como eu estava errado!

Em silêncio eu assisti o afastamento de cada um deles. Assisti o grupo jovem da minha igreja se reduzindo a nada, e a própria igreja sendo fechada.

***

Terminei de falar e fiquei em silêncio, não queria contar para o obreiro Henrique que depois de tudo aquilo ter acontecido eu deveria ter ido para as reuniões na Catedral que era do outro lado da ponte, na cidade. Eu até tinha ido nas primeiras semanas, mas depois não fui. Além de achar longe, eu não conhecia ninguém lá e me convenci que não faria mal nenhum orar e ler a Bíblia em casa.

Mas eu sabia que não era a mesma pessoa de antes, eu me sentia longe de Deus, por mais que eu orasse, era como se a minha oração batesse no teto e voltasse para mim sem nenhuma resposta.

-Interessante. -O obreiro disse por fim. -Então basicamente você conhece alguns jovens que estão afastados do seu tempo.

-Sim, senhor.

-E que tal se fossemos atrás deles?

Olhei para o obreiro assustado:

-Desculpe?

-Pense comigo, Dan! Você sabe onde eles moram, eles conhecem você, certamente Deus quer te usar! Eu tenho uma camiseta do Arcanjo, tenho plena certeza que esse projeto ia se encaixar perfeitamente com a nossa situação.

-Eu não sei, obreiro... -Me mexi na cadeira desconfortavelmente. -Eu nunca mais falei com nenhum deles, será que eles vão querer conversar comigo?

-O não a gente já tem, não é mesmo?

Concordei sem ter o que falar.

O CAMINHOOnde histórias criam vida. Descubra agora