Capítulo 67 - Renato

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Renato

Depois que eu havia recebido o Espírito Santo eu não saia de perto do obreiro Henrique, aonde ele ia eu estava atrás. Era para simplesmente cortar um convite? Colar uma carta? Eu estava lá. Não queria ficar sozinho em casa, não tinha o que fazer e eu sabia que na igreja tinha muita coisa a ser feita.
Enquanto eu evangelizava ou fazia ponto de fé com o obreiro, eu via quanto tempo eu havia perdido longe do Senhor Jesus. E a maior perda não era somente da minha alma que havia sofrido longe, mas das outras almas que eu havia influenciado.
Não bastava eu apenas me afundar, eu havia inspirado tantas pessoas a fazerem coisas erradas. Lembrava quando amigos achavam meu estilo único e queriam copiar, andavam como eu, se vestiam como eu, usavam as mesmas drogas e bebiam as mesmas coisas. Se cortavam e machucavam seu próprio corpo ao tentarem provar que não tínhamos medo de nada.
Ah, mas tínhamos! E como tínhamos!
Eu me sentia tão triste por lembrar dessas coisas, dessas pessoas, mas logo essa tristeza era convertida em revolta.
Se até aqueles anos, eu havia usado toda a minha vida para influenciar o mal, todo o tempo que restava eu colocaria toda a minha força para servir a Deus.
Toda a minha juventude, tudo que estivesse ao meu alcance.
O que eu havia feito de ruim, eu faria o dobro de bom para quem precisasse e permitisse.
-Bom dia! -O obreiro me cumprimentou. Eu estava sentado no salão da igreja, e enquanto eu o esperava, pensava naquilo sem nem perceber meu dedo rolando pela tela do celular. -O que você está fazendo?
-Eu? -Olhei para o celular e lembrei do que realmente estava fazendo. -Estava procurando uma vaga de estágio, vou voltar a trabalhar e vou negociar com a minha faculdade para destrancar.
-Eita, você tinha trancado a sua faculdade?
-Obreiro, o senhor nem imagina. Minha vida ficou tão bagunçada e tudo por culpa minha. Eu não tinha vontade de fazer nada! Já era para eu estar formado em engenharia civil, em um bom emprego... Mas fui muito cabeça dura e não tinha vontade de fazer nada, sabe? Só saia, ficava com os meus amigos achando que aquilo era suficiente.
-É, fazemos algumas escolhas que acabamos nos arrependendo depois, o jeito é olhar para frente, Renato, não adianta sofrer pelo passado, precisamos ver o que podemos fazer agora nesse momento.
-E o que vamos fazer hoje? -Sorri me levantando e o obreiro estendeu uma caixa azul com uma carta colada em cima.
-Vamos ir visitar o Daniel.
-O Daniel?
-Sim, nunca pensei que isso aconteceria, Daniel fazia parte do projeto que vai atrás dos afastados e olha só... Nós indo atrás dele porque ele se afastou.
Balancei a cabeça apreensivo:
-Espero que isso nunca aconteça comigo. Não quero voltar para o lugar que eu tanto sofri para sair.
-Acredite, Renato. Eu também peço todos os dias a Deus a mesma coisa.
***
Não demorou muito para que Daniel viesse nos atender. A tática do obreiro foi bem simples ao fazer com que eu o chamasse, já que Daniel não conhecia minha voz direito, então quando ele saiu para nos atender, foi nítido a sua decepção.
-Ah, são vocês. -Eu só havia visto Daniel uma vez e havia sido de relance, mas dava para notar a diferença em poucos meses afastado da igreja.
Ele já não usava mais óculos, havia trocado por lentes de contato. Seu cabelo estava com um corte diferente e havia luzes. Também tinha retirado o aparelho e vestia roupas que estavam em alta pelos jovens.
Mas a maior diferença era em seu rosto. Daniel tinha a tristeza que a maioria dos jovens carregavam em seu olhar e por mais que tentasse disfarçar, era claro como água que estava sofrendo.
-Se vocês vieram me chamar mais uma vez para ir a igreja, saibam que eu estou ocupado e já vou adiantando o trabalho de vocês, não poderei ir.
-Não vinhemos te chamar para ir a igreja. -O obreiro sorriu. -Eu vim te entregar essa caixa. -Ele estendeu.
Quando Daniel pegou a caixa em suas mãos, toda a pose de durão se desmanchou alí mesmo na nossa frente ao ver o logo do projeto que ele fazia parte.
Ele abriu a caixa com cuidado e eu espiei juntamente com ele o conteúdo. Havia várias fotos dele quando estava firme.
Daniel começou a chorar.
O obreiro o abraçou e eu sorri meio emocionado também com a situação.
-Volta, Daniel. Sei que é difícil, mas estamos aqui para te ajudar!
Ele concordou, mas disse que não queria. Não era o momento dele voltar.
Olhei indignado com aquela resposta, abri a boca para falar. Como ele poderia não querer voltar? Era nítido que precisava de ajuda! Por que somente ele não reconhecia aquilo?
-Tudo bem, você sabe que quando precisar, nós estaremos aqui. -O obreiro sorriu e se despediu.
Nós fomos em silêncio, mas antes que chegassemos na igreja, perguntei:
-Por que o senhor não insistiu?
-Porque aceitar ou não o Caminho do Senhor Jesus ainda é uma escolha da pessoa. Se Deus não obriga, quem somos nós?

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