Capítulo 42 - Vitor

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Vitor

Eu juro para vocês, ir para a igreja foi a tarefa mais difícil que tive que fazer em toda a minha vida. Nunca imaginei que ir lá seria algo tão difícil, mas eu entendia que não era só ir no lugar físico, era porque eu realmente havia acreditado em tudo que o Henrique havia me falado e eu estava disposto a mudar.

Se aquilo não resolvesse, eu colocaria fim naquilo tudo de uma vez por todas.

E por isso, era tão difícil. Eu não sentia vontade nenhuma de ir à igreja, ainda mais depois de tudo que havia acontecido, eu me sentia como se tudo fosse automático, nada do que eu fazia tinha sentido, eu havia perdido tudo, me sentia um saco de pão vazio arrastado por aí, eu não tinha mais nenhum objetivo.

Terminei de pentear o cabelo e me olhei mais uma vez para o espelho. Quem eu era? Naquele momento eu não tinha certeza, afinal, o Canela já não existia mais, parta todo o morro, eu estava morto, o Vitor? Eu não lembro direito o que eu era, apenas o que eu fingia ser para as demais pessoas.

Respirei fundo e balancei a cabeça. Peguei a pequena bíblia que Henrique havia me dado e fui em direção a igreja. Eu estava dormindo em um pequeno quarto de um mercado, era apertado e quente, mas eu não poderia reclamar muito, tinha que esperar alguns dias para voltar para a minha antiga casa, eu nem sabia como é que eu ia me sentir lá dentro sem a minha irmã, já estava sendo difícil demais, imaginava ter que olhar para as suas coisas sabendo que ela não voltaria mais.

Entrei na igreja, era a terceira vez que eu ia só naquela semana, na verdade, eu estava indo todos os dias, até mesmo em horários que não tinha reunião apenas para conversar com o pastor, ele me ajudava muito, sempre tirava todas as minhas dúvidas sobre o que estava escrito na bíblia, e mesmo que eu tivesse muita dificuldade para ler, ele me orientava e era ali que eu conseguia ter paz.

Sentei nas poltronas enquanto aguardava a reunião começar. Abri a Bíblia no livro de Joao, que Henrique havia me aconselhado a ler, aos poucos para que eu pudesse entender, fiz uma breve oração do meu jeito para que Deus me ajudasse a entender, por mais que eu, de todas as pessoas que estavam ali era a mais incapacitada, além de não saber ler muito bem por não ter terminado os estudos eu era um ser humano cheio de erros e falhas, como poderia entender algo inspirado pelo próprio Deus com uma mente tão limitada como a minha?

Mas o pastor sempre falava que Deus ao ver o meu interesse em aprender, me ajudaria a entender exatamente o que Ele queria falar comigo, e que eu não deveria me deixar frustrar por não conseguir entender, pelo contrário, deveria continuar insist9indo.

Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida.

Pensei sobre aquele versículo. Eu havia vivido uma mentira até aquele momento, havia escolhido um caminho que deu quase na minha morte e Jesus prometia ser tudo aquilo de uma vez de uma forma boa.

Eu tinha que escolher aquele caminho.

Enquanto eu pensava naquilo, uma jovem se sentou na poltrona ao meu, já havia visto ela algumas vezes nas reuniões e tinha percebido os olhares que ela me lançava furtivamente. A garota não era feia, pelo contrário, deveria ser uma das mais bonitas daquela igreja e parecia saber disso, tinha uma doçura que era perigosa, fazia um olhar inocente como se não soubesse que cada jogada de cabelo, cruzada de perna e sorriso perverso fosse capaz de seduzir os rapazes dali.

-Posso ajudar? -Perguntei quando o silêncio já era enorme entre nós dois.

-Acredito que poderia me ajudar muito se quisesse. -Ela colocou uma de suas mãos sobre o meu joelho.

-Acho que para esse tipo de ajuda eu não poderei.

-Ah, por favor, sei que você quer, eu percebi a forma como você olhou para mim... -Ela se inclinou ainda mais para mim.

-Desculpa... qual é o seu nome mesmo?

-Vitória, mas pode me chamar de Tóri, eu gosto.

-Certo, Vitória. -Tirei a sua mão do meu joelho e me afastei dela, percebi imediatamente que ela não gostou nem um pouco da minha recusa. -Eu não quero ser grosso, mas acredito que você me entendeu errado.

-Não entendi, não. Eu entendi perfeitamente os seus sinais.

-Eu sou casado. -Tá, era mentira, mas eu estava falando a primeira coisa que vinha na minha cabeça só para aquela garota me deixar em paz.

-Eu não me importo.

-Meu Deus, garota! -Falei exasperado. -Aqui é uma igreja e não um cabaré! Se quiser um homem, vai lá fora procurar, aqui dentro você deveria estar procurando Jesus! -Me levantei com a minha Bíblia nas mãos e fui para o outro lado, para bem longe dela.

Vi a cara dela azedar, mas não me importei nem um pouco. Primeiro que eu não estava ali para arranjar uma mulher, isso eu já havia tido e não tinha resolvido nada dos meus problemas, e segundo que eu ainda gostava de Pamela, por mais que havia sido eu quem tinha terminado o nosso relacionamento, eu gostava dela e quem sabe futuramente se a minha vida se resolvesse nós não voltaríamos a ficar juntos?

Sorri sozinho. Pela primeira vez eu pensava em alguma coisa do meu futuro.

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