Capítulo 72 - Vivian

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Vivian

Depois que eu havia admitido que gostava do obreiro eu não sabia o que esperar. Claro que eu entendia que ele não iria me pedir em namoro logo em seguida, mas eu não esperava que as coisas ficassem tão estranhas como estavam naquele momento.
O obreiro quase nunca dirigia a palavra a mim, e se o fizesse, era apenas quando as pessoas estavam perto de nós, evitava ao máximo ficar sozinho ou ter que resolver algo.
Devo admitir que fiquei triste, quando falei que gostava dele não queria que houvesse esse afastamento, pelo contrário, queria que houvesse uma aproximação.
Mas toda vez que a voz do meu coração gritava, eu tentava usar a cabeça. Não era certo, se eu queria o Espírito Santo eu não tinha que me preocupar com aquilo agora.
Eu já havia feito minha parte que era deixar claro meus sentimentos, agora era lutar para que a vontade de Deus se cumprisse na minha vida, e certamente a prioridade dEle naquele momento era me batizar.
Foi quando começou o encontro dos jovens e eu vi uma moça que seguia o obreiro de um lado para o outro o auxiliando em tudo que ele precisava durante a reunião.
A observei atentamente e um incômodo surgiu em meu peito. Ela era linda! Talvez tivesse a mesma idade que a minha, seus cabelos escuros emolduravam seu rosto bronzeado, seus olhos eram claros e davam destaque a sua pele.
-Então gente, antes de finalizarmos o nosso encontro, gostaria de apresentar a vocês a nova obreira! -Ele a chamou para que a moça ficasse ao seu lado. -Seja bem-vinda, obreira Jacqueline! -Ele a olhou e sorriu e entendi o incômodo no meu peito. Era ciúmes! -Ela veio da Catedral, olhem só! A minha antiga igreja! E vai estar nos ajudando, principalmente vocês meninas. -Ele olhou para mim. -Procurem a obreira, ela é uma mulher de Deus e tenho certeza que vai ajudar cada uma de vocês!
Os jovens soltaram alguns risinhos. Foi baixo, então o obreiro não escutou, mas eu havia percebido.
-Por favor, todas as meninas, no final da reunião eu gostaria de falar com vocês!
O obreiro acenou com a cabeça e iniciou a última oração, foi quando eu fechei os olhos e o peso da insegurança veio a tona.
Eu não tinha nem o Espírito Santo e a tal Jacqueline já era obreira. Ela não tinha nenhuma aliança no dedo, o que impedia dela e do obreiro ficarem juntos?
Talvez se eu fosse obreira...
Afastei aqueles pensamentos. Não era certo eu querer ser obreira só para me sentir bem.
-Então meninas... -A obreira sorriu e cada vez mais eu sentia repulsa. Por que logo agora a obreira chegou? Certamente nunca o obreiro Henrique ia me enxergar enquanto ela estivesse ali. -O obreiro Henrique me disse que é difícil acompanhar as meninas e nós sabemos bem o porquê né! -Ela riu. -As vezes é difícil para os homens entenderem os nossos problemas, e também eu sei que às vezes dá vergonha de pedir ajuda quando certas coisas acontecem por ele ser homem, por isso, eu vou começar a atender uma de cada vez. -Ela olhou para cada uma de nós e seu olhar pousou sobre mim. -Você!
-Eu? -A olhei surpresa. Ah não! Eu nunca iria falar meus problemas para ela! Certeza que se eu contasse que gostava do obreiro ela ia mandar eu procurar o que fazer, que o obreiro merecia alguém muito melhor do que eu, alguém igual a ela.
-Isso! Como é seu nome?
-Vivian. -Cruzei os braços.
-Vou começar por você, que tal?
-Não. -Respondi na lata.
-Desculpe? -Ela olhou para mim sem graça e todas as jovens fizeram o mesmo.
-Não quero ser atendida por você. -Ei sabia que estava faltando com respeito, mas não estava nem aí.
-Mas...
-Escuta, desculpa. -A ironia era visível em cada sílaba da minha voz. -Mas você não passou e nem passa pela metade dos meus problemas, como você pode me ajudar?
-Vivian, você não me conhece...
-E nem quero conhecer. Se me der licença! -Virei as costas e sai.

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