Capítulo 78 - Saulo

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Saulo

Continuei com os olhos fechados, e abraçando fortemente a Bíblia.
-Saulo, vamos!
-Eu não vou.
-Levanta, cara! -Alguem puxou meu braço.
-Eu não vou! -Abri os olhos e falei mais alto.
Eram tiros e uma fumaça enorme vinda de colchões queimados veio até o meu nariz.
-Se é maluco! -O rapaz gritou. -Vai morrer aí sozinho!
Abri um sorriso e voltei a fechar os olhos. Eu não estava sozinho.
Demorou cerca de vinte minutos, eu não movi um músculo. Até que novamente alguém veio e sacudiu o meu braço.
-Levanta!
-Eu não vou fugir! -Gritei.
-Mesmo se quisesse, não ia a lugar nenhum, rapaz! -E recebi uma cotovelada nas costas. Abri os olhos, dessa vez era um policial.
Ele me fez ficar de pé e saímos rapidamente daquele lugar, eu teria que ser transferido. Enquanto andávamos, vários policiais já estavam apostos.
-Pegou esse daí, foi? -Um deles gritou.
-Esse, por incrível que pareça, não deu no pé, não.
Mesmo no escuro pude ver o olhar de confusão do outro policial, mas não deu tempo de explicar o policial que estava comigo continuou me empurrando e eu tropecei em um dos corpos. Engoli em seco ao reconhecer a tatuagem, era um dos presos que estavam na mesma ala tentando me convencer a sair dali.
Fui transferido na tarde do dia seguinte para outro local perto. Lembro de relatar a mesma noite umas dez vezes para cerca de dez pessoas diferentes.
-E por que você não fugiu?
-Porque eu não tenho mais para onde ir. -Dei de ombros, pensando sobre a passagem que havia lido em que Pedro respondia ao Senhor Jesus que eles não tinham mais nenhum lugar para ir, a não ser ficar com Ele.
-Você é primo do Yago? O Didi?
-Sim, senhor.
-Ele veio a falecer. Naquela noite da tentativa de fuga.
Arregalei os olhos.
-Você sabe que seu primo não era flor que se cheire.
-Naquela noite ele estava esperando por mim, senhor. -Falei com um nó na garganta. -Ele queria que eu fugisse também, porque ele não achava que era justo eu estar preso.
-Por que?
-Porque o culpado era ele.
-E você não é? -O policial me desafiou com o olhar.
-Eu sou, sou culpado de muitas coisas, se não fosse, não estaria preso.
O policial respirou fundo e deslizou um papel sobre a mesa.
-Assine aqui embaixo.
-O que é isso?
-O documento que te dá direito de cumprir a pena ao ar livre com algumas condições...
Meus olhos se encheram de lágrimas. Segurei a caneta firme.
Poderia ser você, Yago. Pensei. Poderia ser você assinando o seu papel de Liberdade, escolhendo um novo Caminho.
Sai da prisão e fui direto para a igreja, eu não tinha dúvidas.

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