Capítulo 3 - Vivian

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Vivian

-Que cara é essa, meu filho? -Acariciei seus cabelos. Como ele havia crescido! Pensei tristemente, era como se cada vez que o visse, anos e não apenas meses houvessem se passado. Cada vez que eu visitava Ricardo via o quanto perdia por estar longe dele.

-Ja está escurecendo, logo a senhora vai embora.

-Meu filho, não pense nisso. -Esbocei meu melhor sorriso com o coração apertado.

-Como não pensar, mamãe? -Ele me olhou tristemente. -Capaz de eu ir no banheiro a qualquer minuto e quando voltar a senhora não estará mais aqui, como das outras vezes.

Meu coração pareceu explodir em várias partes. Como explicar para ele que eu só fazia aquilo porquê eu era fraca e não tinha coragem de dizer adeus toda vez que tinha que ir embora?

Eram aqueles momentos que faziam com que eu odiasse ainda mais a minha vida.

-Por que eu não posso morar com você, mamãe?

-Um dia, você vai vim morar com a mamãe. -Eu apertava um de seus carrinhos contra a minha mão tentando suportar a dor que crescia dentro de mim, eu não poderia chorar na frente dele, eu não me perdoaria.

-Que dia?

-Um dia, Rick. -Abaixei a cabeça, faziam cinco anos daquela promessa e eu não estava nem perto de cumpri-la.

Então a porta se abriu, Wesley e Eliza entraram. Ambos riam abraçados, mas quando o olhar do pai do meu filho recaiu sobre mim, seu sorriso se desmanchou. Ele sabia que era o dia de visitar Ricardo, mas ainda assim, me ver na sua casa era pedir de mais para nós dois.

-Vivian. -Ele pronunciou meu nome, e em cada sílaba o nojo era nítido. -Amor, por que você não sobe com o Rick? Preciso conversar com a Vivian.

-Vamos tomar banho, garotão? -Ela sorriu para Ricardo, ambos começaram a subir as escadas, mas o garoto voltou correndo e me abraçou.

Mesmo sendo um criança, sabia que eu iria embora e que demoraria para voltar. Engoli em seco e dei uma piscadela para meu filho.

-Te amo muito! Não se esqueça disso.

-Eu também te amo muito, não se esqueça disso. -Ele sorriu me imitando e saiu correndo para os braços de Eliza.

Por momentos que pareciam intermináveis desejei ser aquela que segurava meu filho nos braços sem se preocupar com a ideia de que amanhã não estaria por perto.

-Ele gosta muito que você venha até aqui. -Wesley sorriu, mas não era um sorriso amigável. -Mas eu acho muita cara de pau você vim aqui com três meses de pensão atrasados.

-Eu vou pagar, Wes! -Falei endurecendo o rosto e fechando os punhos.

-Ah, por favor, nem se preocupe com isso. Não vejo a hora de poder tirar totalmente seu direito de ver o Ricardo.

-Você não pode fazer isso!

-Sete anos e você ainda não me conhece. -Ele segurou meu pulso e me puxou mais para perto de si de uma forma ameaçadora.

-Me solta. -Falei com os o maxilar cerrado. O medo estava instalado na minha garganta, Wesley nunca havia levantado a mão para me agredir, mas eu sabia que não faltaram oportunidades. -Eu vou pagar.

-Eu duvido muito. -Ele fez a menção de cuspir em meu rosto, mas me soltei de seu aperto antes. Sai de lá e fechei a porta com todas as minhas forças.

Lágrimas escorriam pelo meu rosto. Ah! Se arrependimento matasse!

***

-Finalmente! -Vitória jogou meu avental e eu o peguei no ar. -Como está o Rick? -Ela sorriu para mim, mas não tive forças para retribuir seu sorriso. -Ei, mana! Que cara é essa?

-O Wesley me cobrou a pensão. -Respondi pegando o pano e passando no balcão.

-Mas que saco! Ele deveria cobrar era vergonha na cara aquele imprestável! Parece até que precisa do seu dinheiro!

-Ele disse que posso perder o direito de ver o Rick.

-Aí meu Deus! -Vitória me olhou assustada. -Vamos dar um jeito de pagar essa pensão! Eu tenho algum dinheiro guardado e...

-Vai ficar tudo bem. -Coloquei a mão no ombro da minha irmã. -Você não vai tocar nesse dinheiro, eu sei que você está guardando para pagar a faculdade lá na frente.

-Mas, Vivi...

-Nós vamos sair desse buraco, Tori!

-Ei, vocês duas aí! -Nosso tio Leônidas gritou da cozinha. -Parem de tagalerar e bora trampar!

-Bom dia, vim buscar as marmitas que eu havia feito o pedido. -Um rapaz alto, com os cabelos loiros se dirigiu a mim.

Vitória olhou para mim maliciosamente. Pegou as marmitas e colocou sobre o balcão, se inclinando um pouco para que se o rapaz quisesse, olhasse o seu decote.

Mas ele sequer pareceu notar, apenas entregou o dinheiro, pegou as marmitas e saiu do bar.

-Quem era? -Perguntei curiosa, a forma como ele havia ignorado completamente o charme da minha irmã era algo a se espantar, praticamente todos os rapazes faziam suas vontades.

Vitória revirou os olhos:

-Se mudou esses dias para cá, às vezes compra marmita para sua mãe. Não sei muita coisa, ele é um rapaz discreto, parece ser uma pessoa direita...

-Então sem chances de se interessar por Vitória.

Vitória riu sarcasticamente.

-Na verdade, era por você.

Revirei os olhos. Até parece que alguém com um rumo na vida ia querer estar com alguém tão perdida quanto. Abaixei pegando a garrafa de bebida e dei um gole enorme.

O álcool parecia água e eu precisava de algo mais forte que a realidade.

-Vivian! Tome! -Leonidas apareceu pela janela da cozinha colocando os pratos a serem servidos.

Peguei os pratos e comecei a circular entre as mesas até onde aguardavam o pedido.

-Ora, ora! Que delícia! -Maicon elogiou sorrindo para mim com segundas intenções.

-Esta falando da comida ou de quem está colocando o prato sobre a mesa? -O outro homem riu.

-É claro que é sobre a comida. -Senti uma mão descendo pelas minhas costas até onde não deveriam sequer encostar.

Eu deveria reclamar, mas aquilo era comum. Os homens me achavam bonita e desejável, e eu me sentia a pior das pessoas.

-Mas não posso deixar de dizer que Vivian é deliciosa também. -Ele umedeceu os lábios com a língua, se lembrando de quando eu aceitava sair em sua companhia. -Saudades de ter você, Vivi. -Sua mão deslizou sobre a minha coxa até a barra da saia. -Me diz, quando você vai ficar comigo de novo? -Eu não respondi, Maicon me encarava implorando por alguma atenção, enquanto o outro homem que eu não conhecia ria sem parar.

-A mocinha está se fazendo de difícil!

-É sério, Vivi. Fique comigo de novo! Eu daria todo o dinheiro do mundo pra ter você.

Terminei de por os pratos na mesa, mas não sai de imediato como era de se esperar. Olhei para Maicon e seu olhar não mentia.

Ele me pagaria para ficar comigo em uma noite.

O pensamento de usar meu corpo para aquilo me causou ainda mais repulsa, mas eu estava desesperada. Lembrei da voz de Wesley dizendo que eu nunca mais veria meu filho e eu sabia que iria me arrepender daquela atitude mais tarde. Minha vida já estava ruim, não poderia ficar pior, não é?

Me sentei no colo de Maicon e depositei um beijo em sua boca.

Se eu pudesse voltar no tempo e evitar tudo aquilo, eu o faria. Porque naquele momento eu queria muito mudar, ser qualquer outra pessoa no mundo, mas não parecia ter como.

Eu estava no fundo do poço, e não tinha nenhum caminho a vista.

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