Capítulo 66 - Saulo

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Saulo

Depois da conversa com a minha mãe, ela disse que já ia cumprido o voto, mesmo que não concordasse, havia feito a minha vontade.
Mas era a vontade de Deus, e pela primeira vez depois de muito tempo tive paz.
E ao contrário do que muitos pensam, eu não cumpri o meu voto em um dia e no outro já estava em liberdade, eu havia plantado e deveria colher.
De acordo com o que haviam me falado eu ficaria por pelo menos três anos detido.
Era difícil, mas ali dentro preso eu conheci a Liberdade.
Descobri que haviam cultos dentro do presídio, eram duas vezes apenas por semana, mas eu ficava ávido por cada uma das reuniões. Também eram rápidas, mas cada minuto eu me fortalecia.
Era como se os outros cinco dias tudo fosse nublado, e quando o pastor entrava no presídio era a presença de Jesus que estava ali.
Eu me batizei nas águas e estava determinado. Tudo iria mudar, eu não me importava mais com o que iria acontecer, mesmo que desse tudo de errado na minha vida, eu não viraria as costas para o Único que não havia virado para mim.
Era uma hora da manhã. Já haviam se passado algumas semanas depois do meu batismo, eu estava apreensivo. Alguns presos comentaram que iam provocar uma rebelião, iriam tentar fugir enquanto um preso muito importante era transportado.
Peguei a bíblia, mas não consegui ler. Os murmúrios entre eles eram fortes.
-Saulo? -O mais velho entre eles se aproximou de mim, me assustando. -Tu vai com a gente, né?
-Eu... -Fiquei em silêncio. Era tentador de mais.
-Eu conheço teu primo, sabia? Ele não vê a hora de tu sair. Afinal, nem era pra tu tá aqui. Ele disse que vai estar te esperando na onde vocês sempre se esbarravam.
-Me esperando?
-É, Saulo. Depois que a gente meter o pé daqui, vamos ter que fugir.
-A gente vai ter que continuar fugindo?
-É só por um tempo, logo poderemos voltar pra cá.
Alguém chamou ele e ele apertou meu ombro se levantando.
Olhei para a bíblia mais uma vez. Fechei os olhos e comecei a orar:
-Eu não sou forte. Eu não sou corajoso. Eu sou muito errado, e talvez não ceda agora, mas lá na frente eu vou acabar cedendo. Eu não quero mais fugir, preciso enfrentar quem eu sou. E eu sou assim, preciso da sua ajuda. -Uma lágrima desceu pelo meu rosto. -Estou sozinho, estou lutando contra todo o medo e a aflição. Estou tentando seguir em frente, até chegar, até conseguir. Eu preciso do Seu Espírito. -Coloquei as minhas mãos naquele chão imundo da cela. -Eu não tenho nem um Altar, mas aqui da minha vida eu sacrifico ao Senhor. Eu me entrego a Ti, é um voto que eu faço para a vida toda, que o Senhor esteja no topo das minhas escolhas, que o Senhor seja o primeiro dos primeiros, que esteja acima de mim. -Quando fiquei em silêncio, foi inevitável não perceber a presença de Deus que enchia aquela cela. Eu estava com um monte de gente fisicamente, mas ali, era como se só estivéssemos nós dois. Eu cheio de medos, mas Deus me segurava nos braços dEle.
Porque assim como o apóstolo Paulo falava, quando somos fracos, é aí que somos fortes. Quando reconhecemos que não temos força nenhuma, reconhecemos que precisamos da força dEle.
Os gritos e barulhos da cela chegaram até mim. Foi a maior correria e pancadaria.
Mas eu estava tão em paz. Me sentei no chão e abracei a bíblia.
-Saulo! Corre! -Alguém gritou.
Eu não precisava mais fugir. Eu havia encontrado a Deus e não iria mais a lugar nenhum sem Ele.

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