Capítulo 55 - Renato

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Renato

Eu abri os olhos e escutei o barulho da máquina. Ela marcava as batidas do meu coração. Minha mãe estava na porta, os olhos marejados e olhando para mim, mas era como se ela olhassem além de mim.
Me levantei da cama e fui na sua direção.
-Mãe... -A chamei, mas ela simplesmente passou por mim como se eu não existisse.
Me virei para trás e o que vi me deixou ainda mais confuso. Eu estava na cama. Meu corpo estava coberto de faixas, porém dava para ver o quanto eu estava machucado. Vários equipamentos ligados a mim, assim como a máscara de oxigênio e alguma coisa que escorria direto pelas minhas veias.
Me aproximei, e lembrei. Eu no carro, o acidente...
Além do som da máquina, eu escutava outras vozes, chegavam até mim de forma abafada, o que estava acontecendo?
-Estamos fazendo de tudo, mas o caso do seu filho é muito grave, o acidente foi muito forte, ele não estava com o cinto, é um milagre que ele ainda esteja respirando... -O médico disse para minha mãe.
Minha mãe olhou para a porta, meu pai e o obreiro da igreja estavam ali. Eles se aproximaram, meu pai colocou os braços ao redor da minha mãe e o obreiro pegou a minha mão.
-Talvez, ele não passe de hoje. -O médico disse por fim.
Senti o desespero tomar conta de mim.
O obreiro abriu a boca para falar, mas a máquina começou a apitar mais rapidamente.
-O que está acontecendo? -Meu pai gritou.
O médico chamou alguns outros para o ajudar, afastaram todo mundo da cama e começaram a me ajudar.
-Meu Deus, meu filho tá morrendo! -Minha mãe gritou.
Senti o ar do quarto ficar quente e abafado, eu já não conseguia escutar direito o que eles falavam, foi quando apareceram coisas horríveis nas janelas e pela porta.
Essas coisas tinham o tamanho de uma pessoa, mas andavam encurvadas com os braços arrastando pelo chão. Algumas tinham asas horríveis e vinham andando até mim. As pessoas da sala não os viam e eu pensei em correr, mas não tinha para onde ir. Como se soubessem que eu planejava isso, um deles gritou:
-Você é nosso! Você escolheu esse destino!
Meus olhos se encheram de lágrimas e eu comecei a gritar:
-Mãe! Pai! Por favor, não me deixem ir para o inferno! -Eu sabia para onde estava indo.
A máquina parou e começaram a tentar me ressuscitar. Aquelas coisas não perderam tempo, começaram a me arrastar. Eu gritava desesperado e isso causava ainda mais felicidade e prazer naquilo.
-Meu Deus... -Foi a primeira vez que eu lembrei dEle em muito tempo.
Por que eu não havia escutado? Aquilo era real, tudo aquilo estava acontecendo.
Ainda em desespero, comecei a chorar ainda mais. Eu não ouvia mais nada, apenas percebi longe que o obreiro ainda orava por mim.

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