Capítulo 81 - Renato

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Renato

Eu estava sentado no banco, enquanto esperava Vitória terminar de falar com o obreiro. Ele me obrigou a ficar cada instante escutando todo o desabafo e por mais que eu quisesse rebater, não tinha o que rebater, eu estava sendo estúpido, sem motivo nenhum.
-E é isso, obreiro. Eu sei que tenho muita coisa para mudar, mas estou me esforçando e está sendo cansativo, não fazer as coisas, porque eu gosto! Estou amando ajudar as pessoas, mas estou cansada porque era para estarmos juntos nisso, a tribo precisa tanto de ajuda, mas ele não aceita a minha ajuda! -Ela falou com um ar de tristeza.
-Desculpa... -Sussurrei baixinho.
O obreiro respirou fundo e balançando a cabeça, pediu para que Vitória se retirasse.
-Renato, me diga, o que você quer fazer da sua vida?
Olhei para ele franzindo as sobrancelhas, eu esperava o rumo da conversa totalmente outro, achei que o obreiro iria brigar comigo, mas não, ele estava me perguntando o que eu queria fazer com a minha vida.
Dei de ombros:
-Como assim?
-Você vai voltar a sua faculdade? Vai seguir carreira?
-Eu não sei, acho que sim. -Gaguejei, estranho porque eu não tinha vontade nenhuma de voltar a estudar, por mais importante que fosse, eu não queria. Independente do curso que escolhesse, nenhuma profissão parecia ser boa o bastante.
-Boa tarde! -O pastor Samuel passou por nós, tocou em meu ombro, deu uma piscadela e entrou na salinha de campanha.
-Pastor... -Sussurrei.
-Desculpa, não escutei.
-Eu quero ser pastor. -Falei e engoli em seco. -É isso, obreiro. Eu quero ser pastor.
-Você sabe que não é fácil...
-Mas eu não acho que Deus teve todo o trabalho de me resgatar desse mundo para não O servir com toda a minha vida! Obreiro, se alguém me dissesse que um dia eu teria esse desejo de ser pastor, eu seria até capaz de bater na pessoa! E olha só, hoje eu vejo que é a melhor opção! Eu sei que estudar é importante e tudo bem se for isso que Deus quiser para mim, mas por mim, quero que Ele use a minha vida sem nenhum impedimento.
O obreiro sorriu para mim e eu não pude deixar de sorrir de volta, era como se durante toda a minha vida, eu estivesse procurando um propósito, uma razão.
E agora eu estava no centro da vontade de Deus.
-Entao se você quer servir a Deus, precisa começar a servir sua tribo.
-E eu sirvo!
-Sua tribo, significa servir a Vitória também. Precisa aprender a lidar com todo mundo, independente de qualquer coisa.
-Eu me dou bem, é que a Vitória me tira do sério, e eu não sei o porquê!
O obreiro Henrique começou a rir.
-Nao entendi a graça...
-Você namorava antes, não é?
-Sim, e meu Deus, eu quase acabei com a minha vida e a dela, espero que um dia, Deus me dê a chance de ver Kátia bem.
-Ainda gosta dela?
-Nao, obreiro. Aquilo não era gostar, eu era doido. -Balancei a cabeça.
-E agora, está gostando de alguém?
De uma forma inusitada, Vitória surgiu em meus pensamentos. Balancei a cabeça.
-Entendi onde o senhor quer chegar, a Vitória não faz o meu tipo, ela não combina em nada comigo!
-O seu tipo, meu filho, não existe mais, porque o homem que gostava daquele tipo não existe mais, não é?
-Sim, senhor...
-O seu tipo agora é uma mulher de Deus. Vitória também não é mais a mesma garota, ela nunca o julgou pelo seu passado, não faça isso com ela. Você não vai namorar agora, se você quer servir a Deus no Altar, então fique nisso, porque é de lá que vai vim o seu sustento.
Concordei. Me despedi do obreiro e sai pela porta da igreja.
Vitória estava do lado de fora e olhou para mim cruzando os braços.
Me aproximei dela e respirei fundo, senti seu perfume de camomila.
Será que o fato de tratá-la tão mal é porque eu tinha medo de me apaixonar por ela?
-E então? -Ela perguntou. -Vou ir para a tribo do Vitor?
-Nao, você vai continuar comigo. -Respondi.
-Olha, se vamos continuar, eu acho que precisamos estabelecer algumas coisas, eu sei que não gosta de mim, e...
-Eu gosto de você. -A cortei, e Vitória começou a tossir. -Você é uma boa auxiliar. Peço desculpas pelo meu comportamento, farei de tudo para mudar daqui em diante, e se eu continuar sendo estúpido, você tem total liberdade de mudar de tribo. -Estendi a mão. -Combinado?
Ela receosa aceitou o aperto de mão.
-Combinado. Você também é uma pessoa possível de gostar quando se esforça.
Ela pareceu muito séria, e foi impossível não rir.
Vitória começou a rir também e finalmente começamos a nos entender por um objetivo bem maior.

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