Capítulo 54 - Daniel

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Daniel

Demorou muito para que eu me perguntasse o que eu estava fazendo com a minha vida.
Confesso que eu sou orgulhoso, então sai de vez da igreja, não queria saber mais, não fui mais em nenhuma reunião, troquei de número de telefone, exclui as minhas redes sociais, dei uma nova cara para a minha vida.
A cara que lá na frente eu ia quebrar.
Comecei a me envolver com pessoas da faculdade que eu sequer conversava antes, mas a forma como eles me acolheram foi incrível! Claro que uma vez ou outra eles soltavam alguma piada sobre a igreja e sobre Deus, mas eu deixava passar, afinal, não era eu quem estava fazendo aquelas piadas...
Mas até aquele momento eu não havia entrado de cabeça no mundo, eu saía com algumas garotas, até bebia, bem pouquinho, apenas para fazer pose diante dos meus novos amigos, entretanto, toda festa que me convidavam, as drogas eram muito presentes.
Eu sabia qual era o fim daquilo, sabia e conhecia tantas pessoas que haviam perdido tudo por causa daquelas substâncias, por isso, não aceitava, aquilo eu não faria, por mais que a minha consciência acusasse das demais coisas e eu a ignorava, em relação as drogas eu não conseguia.
Estávamos na festa da casa de uma menina que eu não lembrava o nome, eu estava com sono por ter que estudar em horários diferentes por causa daquela minha nova vida.
-Eita! Tá cansado, cara? -Eduardo se aproximou do canto que eu estava quando me viu bocejar.
-Só um pouco, estou tendo muitas coisas para fazer, trabalho, faculdade, vida social... Estou pensando até entrar em uma academia, mas parece que tá tudo muito corrido e eu não tô conseguindo acompanhar.
-Cara, eu te entendo, a vida é maior correria mesmo.
-Sim, não sei como vocês aguentam tanta coisa e ainda conseguem ir em um monte de festas.
-Dan, você precisa relaxar, viver uma coisa de cada vez. Primeiro a festa, depois tu se preocupa com as lições.
-Não consigo relaxar.
-Pois vem cá. -Ele puxou meu braço para ir até um lugar da festa que tinha mais dois rapazes. Ele falou alguma coisa com eles que eu não entendi por causa da música alta. Um deles entregou m um pacote pequeno nas mãos de Eduardo e ele estendeu para mim. -Toma. -Hesitei. Eu não era burro sabia o que era aquilo. -Anda, Daniel. Aceita! Te garanto que isso vai te ajudar, confia em mim.
-Isso é droga, Eduardo...
-E daí? Todo mundo usa isso!
-Mas não deixa de ser droga.
-Para de ser careta! Você não vai se tornar um viciado, isso aqui é muito bom, sério! Experimenta hoje, se não curtir mesmo, eu juro que paro de te encher o saco.
Eu peguei, mas não enfiei na mesma hora na boca. Era como se todo mundo na festa tivesse parado e começado a olhar para mim, eu estava a um passo de me tornar totalmente como eles, mas será que eu realmente queria ser igual?
Pensei no que eles tinham. Amizades, namoros, trabalho, independência...
Não pensei no que eles eram de verdade, só no que eles tinham. E engoli a cápsula.
No começo eu não senti muita coisa, pelo contrário, senti um mal estar e coloquei dentro de mim que eu não iria fazer mais aquilo.
Na festa seguinte me ofereceram outra coisa e garantiram que era melhor do que a outra. Se eu já tivesse provado uma, porque não provava a outra?
Logo eu estava usando tudo que me ofereciam. Eu adorava jogar aquilo que tudo que colocassem na mesa eu deveria aceitar.
Consequentemente, não consegui melhorar as minhas notas da faculdade, já que só vivia indo em festas, uma atrás da outra e quando voltava para casa não tinha mais forças para estudar.
Até mesmo quando eu não ia para as festas, eu comecei a usar drogas dentro de casa. Quando eu tirava uma nota baixa, quando eu não conseguia dormir.
Comecei a ter altos níveis de ansiedade, porque tudo que eu tinha lutado para construir estava se esvaindo das minhas mãos.
Eu estava perdendo e me perdendo, e comecei a perceber que todas aquelas pessoas que pareciam perfeitas estavam da mesma forma ou pior que eu.

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