Capítulo 30 - Renato

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Renato

Por mais que eu quisesse, não podia negar que minha mãe havia melhorado consideravelmente depois que começou a frequentar aquela igreja. Eu não conseguia acreditar, mas as mudanças eram nítidas aos meus olhos. Eu nunca mais havia quando chegava de madrugada pegado ela acordada chorando em seu quarto, agora ela dormia, conseguia fazer as coisas simples como tomar banho, sair de casa e fazer compras, aos poucos ela também parava de tomar alguns dos remédios controlados. Eu poderia falar quer finalmente a medicina estava funcionando, mas eu sabia que não, o corpo da minha mãe se acostumava com as medicações e ela sempre tinha que trocar os medicamentos, às vezes por algo mais forte.

Amei a porta de casa, havia passado a noite na casa da minha namorada e mesmo lá não havia conseguido dormir, meu corpo reclamava de cansaço e minha cabeça latejava, mas mesmo que eu deitasse o sono não vinha.

Eram onze horas da manhã quando cheguei, coloquei as chaves em cima da bancada e um cheiro suave vindo da cozinha de almoço preencheu o meu nariz, minha barriga roncou em protesto, me fazendo lembrar que desde a noite passada, eu não havia comido nada.

Segui o cheiro intrigado, Maria que era a nossa empregada estava de férias e o máximo que a gente comia naquela casa era comida congelada que eu comprava, mas como apenas eu era quem comia, já havia desistido de tentar fazer com que minha mãe tivesse apetite, eu sempre comia fora, na casa de Pâmela principalmente.

Quando cheguei até a cozinha franzi as sobrancelhas sem entender muito bem o que estava acontecendo ali. Minha mãe estava de pé cantarolando próximo ao fogão enquanto cozinhava.

-Mãe? -Perguntei confuso.

Ela se virou e sorriu e eu me senti com quinze anos novamente, quando minha mãe estava bem, quando a depressão não existia e ela era feliz... Parecia que aquilo havia acontecido há tanto tempo... Nem cozinhar minha mãe tinha ânimo e vê-la assim era uma sensação incrível.

-Filho! Estava preocupada achando que você não iria chegar a tempo para o almoço!

-A senhora cozinhando?

-Sei que você está surpreso. -Ela pegou dois pratos e colocou um na minha frente e outro ao lado. -Mas eu senti uma vontade tão grande de fazer aquela carne de panela que você tanto gosta!

Me sentei atônito ainda, se aquilo fosse um sonho, eu não queria fazer nada que pudesse um fim naquilo.

-Mas fazia tempo que você não cozinhava...

-Oh filho... -Ela abaixou o fogo e veio se sentar ao meu lado e começou a passar as mãos pelos meus cabelos em um gesto carinhoso. -Fazia tempo até que eu tocava em você, parava para olhar em seus olhos... Como eu pude pensar em desistir de tudo isso? -Seus olhos se encheram de lágrimas, mas ela não chorou, pelo contrário, respirou fundo e piscou diversas vezes para afasta-las.

-Aquela igreja está te ajudando? -Perguntei.

-Mais do que você pode imaginar.

-Eu não entendo... -Afastei suas mãos do meu rosto, a mágoa que eu tinha contra aquela instituição, contra tudo que envolvia a Deus era como um peso que esmagava meu coração. -Como aquilo pode te ajudar, sendo que antes foi a causa do meu pai ter nos deixado?

-Olha, Nato... Eu não posso explicar ainda o porquê de seu pai ter nos deixado, mas posso explicar o que está acontecendo comigo, não é a igreja, é Quem eles pregam lá dentro... Jesus me ensinou a perdoar, filho...

Senti minha garganta arder:

-Que bom para você, não sei se um dia vou perdoar...

-Eu também achei que nunca iria perdoar, mas Jesus não pede apenas que a gente perdoe, Ele nos dá forças para fazer isso.

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