Capítulo 15 - Vitor

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Vitor

O calor estava terrível naquele dia. Eu estava encostado na esquina enquanto fumava meu narguilé tranquilo com o Zequinha e bebíamos alguma mistura louca de álcool para nos refrescarmos.

Nós estávamos na esquina de entrada para a vila na ala leste. Eu gostava de sentar ali, para os moradores eu era alguém muito importante que muitas das vezes suas vidas dependiam de mim, para as pessoas de fora, eu era apenas alguém que tinha uma vida normal como qualquer outro jovem da minha idade.

Às vezes eu queria ser a segunda opção.

Ter uma vida comum como os outros me atraía de mais. Enquanto as pessoas me olhavam como um soldado, tendo tudo que eu quisesse, eu me sentia indefeso e dentro de mim eu não tinha nada.

Era vazio.

Eu encarava a arma que estava em meu colo quando dois rapazes vieram na nossa direção.

O mais velho tinha um sorriso nos lábios e não parecia um sorriso presunçoso, mas era um sorriso real, um sorriso fácil e leve que mostrava uma diferença em si.

Já o mais novo vinha ao seu encalço e parecia temeroso quando eu o encarei. Era óbvio que os dois não eram da polícia, então simplesmente peguei minha arma e a coloquei em cima da mesa.

-Posso ajudar? -Perguntei.

O mais velho hesitou por alguns segundos, mas seu semblante ainda era de paz. Enquanto o mais novo parecia querer correr dali.

-Meu nome é Henrique. -Ele estendeu a mão para mim, mas eu não aceitei sem graça ele a enfiou no bolso. -E esse daqui é o Daniel.

-Uhum, o que vocês querem?

-Eu vim convidar vocês dois para ir conhecer o Força Jovem.

-O que é isso? -Olhei arqueando a sobrancelha.

-É da polícia? -Zequinha perguntou.

-Não! A gente é da igreja! -O mais novo falou na frente.

Zequinha começou a rir e eu o acompanhei.

-Sério que vocês tem coragem de vim aqui pra chamar a gente pra igreja? -Perguntei sarcasticamente.

-Não é para a igreja que estou aqui para convida-lo, mas para algo que vai transformar a vida de vocês. Eu sei que na minha frente vocês podem parecer o rei da quebrada, mas imagino como devem se sentir quando estão sozinhos... Às vezes, se sentem vazios e tristes como se essas coisas não os preenchessem.

Ele continuava falando e eu me mexi incomodado na cadeira. Estava ali uma pessoa que eu sequer conhecia, falando sobre tudo como eu me sentia... E seus olhos... Pareciam que enxergavam através do grande muro que eu havia erguido contra as pessoas. Ele sabia que tudo que falava me atingia, por mais que eu tentasse fingir que não.

Eu me sentia exposto e eu odiava aquilo. Uma raiva se acendeu em meu peito e eu fiquei de pé:

-Chega. -Falei com o maxilar cerrado. -Não quero mais ouvir a sua voz!

-Eu sei que é duro ouvir essas coisas, mas Jesus pode te ajudar...

-Tu é surdo rapaz? -Gritei e peguei a arma na mão direita engatilhando. -Eu já mandei calar a boca.

Imediatamente Henrique ficou em silêncio e o rapaz mais novo colocou a mão em seu ombro tentando afasta-lo de mim.

-Vazam daqui agora! Não vou pensar duas vezes antes de atirar na cabeça de vocês.

Sem falar mais nada os dois rapazes saíram rapidamente dali.

-Ei, canela. Fica de boa, os cara era da igreja, mermão. -Zequinha sorriu.

-Fica de boa, você. Se não, será o próximo a levar um tiro.

Enfiei a arma no quadril e fui andando em direção a minha casa pensando em tudo que aquele rapaz havia falado.

Sobre mim, sobre o meu caminho.

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