Capítulo 86 - Daniel

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Daniel

Já havíamos limpado a igreja após a reunião e alguns jovens se despedindo de Renato. Eu já havia me despedido, e estava sentado em uma das poltronas enquanto meus pensamentos voavam ao mexer no celular e ver uma foto de Eduardo com os outros rapazes da faculdade.
Pensei e como pensei, era para estar naquele carro, era para eu ter morrido naquela madrugada.
Onde Eduardo estaria agora?
-Ei, tá com cara de pensativo. -O obreiro Henrique chegou para mim sorrindo.
Tirei o óculos e limpei na barra da camiseta.
-Estou pensando sobre a noite que era para eu ter morrido. O senhor sabia que o rapaz que morreu naquele acidente de carro já tinha sido obreiro?
-Aquele que você estudava junto?
-Isso. Foi ele quem me apresentou as drogas.
-Difícil, não é?
-Ele me contou uma vez quando estávamos sozinhos indo para uma festa, disse que sabia que eu tinha sido da igreja também, que eu o lembrava muito quando ele havia saído. Disse que no começo teve seus receios também, mas que não era tudo aquilo de ruim que as pessoas falavam.
-Como ele estava iludido!
-Pior que não, obreiro. Ele sabia bem na onde estava se metendo, aquele discurso era para tentar me convencer, mas quem já esteve aqui, sabe muito bem que nada se compara. Naquela mesma noite, quando voltavamos, ele estava bêbado, ou fingindo que estava, não sei. Só sei que ele disse que tentava voltar, mas nunca conseguia, era como se Deus não o ouvisse mais.
-Você acha que Deus não o ouvia mais?
-Lá fora essa sensação é a que mais persiste. Mas eu sei que não é verdade, se fosse, eu não estaria aqui.
-Você e muitos.
-Por isso, eu preciso ir atrás deles, do Diogo, do Igor. Às vezes, tudo que precisamos para voltar é alguém que nos ajude, igual o senhor me ajudou.
Os olhos do obreiro brilharam:
-Me ajude a cuidar dos afastados, Daniel.
-Sera o meu maior prazer, obreiro. -Sorri.
O tempo foi passando e coloquei toda a minha força para ajudar quem um dia já havia estado, e não era fácil. Parecia ser mais difícil do que levar uma pessoa nova a igreja, mas eu entendia que era mais do que os meus olhos viam, era espiritual, todo o trabalho com aqueles jovens, se nós tentássemos apenas com a força do braço nunca iríamos conseguir.
E só depois que eu havia passado por tudo aquilo e ter meu encontro com Deus é que comecei a enxergar como Deus enxergava e comecei a entender o porquê.
O porquê de mesmo o obreiro tendo tantos problemas, mesmo não tendo uma vida perfeita, ele se importava com cada um dos jovens. Mesmo quando o jovem o tratava mal, mesmo quando parecia que não ia dar em nada, ele continuava insistindo.
Fiquei pensando sobre o trabalho de um obreiro. Se não fosse pela insistência dele? Se o obreiro não tivesse lutado por mim? Onde eu estaria?
Fora é claro, as coisas que ele deve ter feito que eu não vi. As orações, os jejuns, os propósitos.
A gente vê o obreiro sorrindo na igreja, mas não imaginamos um por cento da sua luta fora dali, e mesmo assim, ele deixa tudo nas mãos de Deus e vem nos ajudar.
Quantos dias o obreiro foi até a minha casa e aparentemente eu não queria nada com nada? Ele poderia ter desistido.
Quando fui até a sua casa, ali ele não era o Henrique, ele era o servo de Deus em todo lugar disposto a me ajudar.
Eu não tinha mais nenhum amigo, e o obreiro era o único amigo de verdade que eu tinha, onde eu coloquei tudo o que estava dentro de mim e ele me ajudou a segurar.
Comecei a valorizar o trabalho de um obreiro e pela primeira vez, eu tive o desejo de ser um.
Conversei com o pastor Samuel e ele sorriu para mim:
-Garoto, desde quando eu cheguei aqui, eu sonhei com esse dia! -Ele me abraçou desajeitado, mas não pude conter o sozinho também.
Tanto o obreiro como o pastor me ensinaram tudo que eu precisava aprender, mas o maior ensinamento, e isso apenas o Espírito Santo poderia me dar, era o amor pelas almas.
Todos os dias, eu pedia a Deus que me ensinasse a amar, a lutar por aquelas almas, assim como um dia me amaram e lutaram por mim.
Eu conseguia ver Renato praticamente todo domingo, porque ia para a catedral aprender mais ainda.
Durante a tarde que eu precisava ficar lá nós falávamos sobre a obra de Deus, sobre as pessoas.
-Eu estou aprendendo tanto aqui, Daniel. -Renato falou enquanto comia coxinha. -O cuidado que os pastores tem comigo, é surreal, sabe? Se você me perguntar se eu tenho saudades, eu tenho, mas aqui não me falta nada. Estou no melhor lugar.
-Eu imagino, meu amigo. Eu imagino!
Passado seis meses, eu estava na igreja. Vestido com o terno azul e a gravata nas mãos. Cheguei cedo, eu estava nervoso.
Diogo e Igor estavam sentados na primeira fileira, junto com meus outros convidados e meus pais.
Todos tinham vindo assistir a minha consagração de obreiro.
-Ei, tá nervoso? -O obreiro Henrique apareceu sorrindo.
-Tão nervoso que não consigo colocar a gravata. -Falei.
-Deixa eu te ajudar.
Enquanto o obreiro colocava eu engoli em seco:
-Obreiro, e se eu não conseguir? E se eu desistir de novo?
-Olhe para mim, Daniel. -Ele colocou as mãos em meus ombros e eu levantei o rosto para poder encara-lo. -Você só vai desistir se você parar de olhar para Jesus e começar a olhar para as outras coisas. Pedro teve fé para sair do barco, teve fé para andar sobre as águas, mas deixou de olhar para o Senhor Jesus e afundou. Você como obreiro vai continuar passando por problemas como qualquer outra pessoa, mas olha tem um versículo que é para nós:
Ninguém que milita se embaraça com negócios desta vida, a fim de agradar Àquele que o alistou para a guerra. II Timóteo 2:4
-Independente de faculdade, de trabalho, de família, você é um soldado, revestido com o Espírito Santo e que vai agradar a Deus nessa guerra. -Concordei e a reunião começou.
Ao final da reunião o pastor me chamou, me ungiu diante de todos. Enquanto o azeite escorria pelo meu cabelo, de joelhos naquele pequeno Altar, em meio as lágrimas eu sorri:
-Senhor, eu nunca mais irei fugir de Você. Quero passar todos os meus dias, bons e ruins amando e lutando pelas pessoas.
Me levantei e desci do Altar, enquanto o pastor fazia a última oração, o obreiro Henrique veio e me abraçou:
-Bem-vindo, meu companheiro de guerra. -Ele deu alguns tapinhas em meu ombro. -Agora estou em paz, se um dia Deus precisar me tirar do grupo dos jovens, eu sei que ficará em boas mãos tendo você.
Arregalei os olhos e o obreiro começou a rir:
-Pelo amor de Deus, obreiro. Nem pense em morrer ainda! Eu preciso aprender tanto!
-Todos nós, obreiro Daniel. -Ele riu.
Obreiro Daniel. Quando eu ia pensar nisso?
Diogo e Igor vieram me abraçar:
-Obrigado por ter convidado a gente para vim!
-Nao sabíamos o quanto nós estávamos sentindo falta de vim aqui. Acho que vou vim no encontro de jovens, viu!
E ali começava a minha guerra de mostrar o Caminho para eles.

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