Capítulo 22 - Vitória

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Vitória

Já eram oito horas da manhã e a luz do sol entrava pelas frestas do telhado mal-acabado que tínhamos em nossa casa. Ok, eu nunca que iria considerar aquilo que tínhamos de casa, mas era o que tínhamos e eu não poderia ficar reclamando. Daquela rua, a nossa era a melhor, Vivian se esforçava para fazer daquele barraco um lugar confortável para nós duas. Era uma invasão, bem no topo de uma rua inclinada sem asfalto, muitas casas ali eram feitas de madeiras, mas Vivian aos poucos havia mudado aquela situação com o pouco que ganhava no bar de nosso tio. As paredes agora já eram de tijolos e por mais que só tivéssemos dois cômodos, não ocupávamos muito espaço.

Eu não poderia negar que sentia muita falta de nossa mãe, não saber onde ela estava, se estava viva ainda ou em perigo me fazia questionar todas as noites. Entretanto, minha irmã não gostava de falar sobre ela, dizia que se ainda estivesse viva, teria vindo nos encontrar.

Mas se ela estivesse morta, nós saberíamos também.

Balancei a cabeça e peguei meu celular. Várias mensagens de bom dia, principalmente de rapazes, preenchiam meu WhatsApp, mas não tive ânimo para responder nenhum, eu não entendia muito bem o que acontecia comigo, só que mesmo com toda aquela atenção que eu tinha, eu não me sentia feliz.

Bloqueei o celular e me levantei da cama, olhando diretamente para o espelho que ficava na frente. Olhei para o meu rosto magro e pálido com olheiras embaixo dos olhos. Olhei para os meus cabelos.... Porque eu não era como aquelas meninas que estavam em meu Facebook? Por mais que eu tentasse ser bonita como elas, eu não conseguia.

Eu me sentia feia, e mesmo que tivesse dezenas de comentários falando o contrário, nenhum deles me fazia pensar que eu era bonita e desejável.

Desviei o olhar do espelho, pois ali eu só conseguia enxergar um monstro horrível e feio, e foi quando percebi a cama de minha irmã intacta mostrando que ela não havia dormido a noite toda ali.

Eu estava preocupada com Vivian, vendo que por mais que ela não admitisse, estava se tornando igualzinha nossa mãe. Dinheiro era bom, mas não imaginava fazer o que ela fazia com o próprio corpo. E eu também sabia, que mesmo que quisesse, ninguém iria querer uma garota como eu.

Respirei fundo, mas antes que eu pudesse continuar pensando em mais defeitos que eu tinha, uma voz do lado de fora de casa me chamou.

Franzi as sobrancelhas, a voz não era estranha, mas por mais que me esforçasse, não conseguia lembrar de quem pertencia.

-Já vai. -Respondi, enquanto colocava a blusa de frio e amarrava os cabelos em um coque.

Abri a porta e a luz da manhã era forte, demorei um pouco para visualizar os dois rapazes que estavam a minha frente, mas era fácil de reconhecer aquela camiseta, aqueles óculos e aquele rapaz.

Daniel e eu havíamos sido amigos por tanto tempo e desde quando eu havia parado de ir à igreja não havíamos mais trocado nenhuma palavra sequer. Sem intenção alguma abri um sorriso, mas cruzei os braços em frente ao meu corpo. Eu sabia que ele não estava ali apenas para me ver, mas tinha algo a mais, ele certamente iria me convidar para ir à igreja de novo.

-Vitória.

-Daniel, quanto tempo. -Olhei para o rapaz que estava do seu lado e o reconheci imediatamente, era ele quem sempre ia até o bar comprar as vezes marmitas.

-Sim... -Ele empurrou os óculos que escorregava pelo seu nariz.

-Meu nome é Henrique. -O rapaz se adiantou e estendeu a mão para mim. Ele deveria ser mais velho que nós dois alguns anos, tinha um rosto sério e mesmo eu me inclinando como forma que fazia com todos os rapazes que me sentia atraída, ele não expressou nada sobre retribuir. O cara parecia uma pedra!

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