Capítulo 41 - Daniel

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Daniel

Quando domingo chegou, finalmente eu decidi ir à igreja, entretanto o motivo era mais para mostrar para os outros que eu não estava afastado do que pela minha própria salvação.

Eu queria mostrar para os outros o quanto eu estava bem, que eu era autossuficiente, que eu ainda continuava tão espiritual quanto era antes.

Porém a verdade era que há muito tempo eu já havia deixado de conhecer a Deus, se é que algum dia eu O havia conhecido de verdade.

A reunião pareceu demorar mais do que o normal, toda hora eu checava o relógio de pulso e o ponteiro parecia se arrastar, por mais que tentasse, eu não conseguia me concentrar totalmente na reunião. Senti meu bolso vibrar, e peguei o celular discretamente. Eram mensagens do grupo da faculdade, ali mesmo comecei a responder, às vezes eu olhava para o pastor e balançava com a cabeça, para mostrar que eu estava prestando atenção, mas naquela manhã se alguém me perguntasse o que ele havia falado, eu não conseguia lembrar de nada.

E na hora de buscar a Deus então? Foi pior ainda. Eu não sabia muito o que falar, já fazia tanto tempo que eu não dirigia a palavra a Deus, que eu sabia que se falasse alguma coisa, ia ser algo já decorado, porque para mim, Ele havia se tornado um desconhecido. Uma tristeza invadiu o meu peito, eu precisava buscar ajuda, mas como? O que as pessoas pensariam de mim?

Depois da reunião o obreiro Henrique reuniu os jovens na porta da igreja, ele falava sobre as metas e as coisas que tínhamos que fazer, ele parecia estar mais revoltado do que o normal, e eu me perguntei se tinha acontecido alguma coisa.

-Vocês precisam se revoltar contra a situação do nosso grupo jovem, às vezes Deus está querendo usar você e você fica ai dando mole, fica falando que não tem tempo, que precisa trabalhar, que precisa estudar, que tem isso aquilo, mas não faz um tempo para Deus. -O obreiro olhou para mim e senti as minhas orelhas queimarem, era sério que ele estava mandando indireta para mim ali no meio dos jovens? -Como você quer passar a eternidade com Deus se nem uma hora de reunião você consegue prestar atenção?

Eu não deveria ter deixado aquilo me atingir, mas eu estava tão mal espiritualmente que um simples comentário em que o obreiro achava que seria para me acordar, fez o contrário, me afundou. Eu não vi aquilo como um cuidado, vi como um julgamento.

O que o obreiro sabia sobre a minha vida? Ele por acaso sabia as responsabilidades que eu tinha? Uma casa para ajudar, um futuro para construir? Se ele conseguia viver na igreja o dia todo, bom para ele, mas eu precisava cuidar da minha vida! Pensar no meu futuro!

Como domingo era corrido, o obreiro acabou que não conseguiu falar comigo após a reunião e eu fui para casa irado, eu não queria mais ir à igreja, e havia conseguido a desculpa ideal para aquilo.

Não era culpa minha por eu estar daquela forma, mas era culpa do obreiro que não havia sido capaz de enxergar a minha condição espiritual e cuidar de mim. Coloquei dentro de mim que só voltaria quando ele viesse pedir desculpas para mim, afinal, eu não estava errado!

Tudo desculpa, e quando finalmente deixei de ir por completo, eu me sentia leve, livre de todas aquelas responsabilidades e cobranças, eu não precisava dar satisfação para ninguém de quando eu ia ou deixava de ir, do que fazia ou do que deixava de fazer.

Eu estava liberto. Que sensação maravilhosa! Eu não precisava ir à igreja para buscar a Deus.

Eu estava bem naquele caminho que havia escolhido.

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