Capítulo 20 - Saulo

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Saulo

Chegou sábado e eu sequer lembrava do compromisso que eu havia marcado com o carinha da igreja, só lembrei quando ele me mandou a mensagem e Lucas me ligou perguntando se eu ia mesmo. Eu não estava nem um pouco afim, mas havíamos dado a nossa palavra e acabei sendo convencido.

Afinal, era só uma igreja, não queria dizer que eu ia virar um crente como eles. Era só uma vez e eu não ia precisar ir mais.

Mal eu sabia que na verdade aquele seria o primeiro dia de muitos que eu ia acabar indo.

A igreja não ficava muito longe da minha casa, e foi rápido chegarmos lá. Naquele dia tinha bastante jovens e quando Henrique me viu, ele sorriu:

-Eu consegui os outros times.

-Poxa, só porque eu queria comer pizza!

Nós dois rimos e ele nos chamou para que nos sentassemos, pois logo o Encontro começaria.

Ele entrou segurando uma Bíblia e com o óculos no rosto. Ele passava um ar de segurança e que o que falaria a seguir era algo extremamente sério e importante.

Todos os jovens ficaram de pé, pensei em continuar sentado em meu lugar, mas não tinha como ver o que Henrique estava fazendo, então me pus de pé.

-Hoje eu gostaria de fazer uma pergunta para vocês antes de começarmos o nosso Encontro Jovem... Quem aqui alguma vez sentiu muita vontade de fazer alguma coisa e todo mundo te avisou que daria errado, mas mesmo assim você foi lá e fez e se lascou?

A maioria dos jovens levantaram as mãos.

-Eu mesmo já fiz isso. -Henrique sorriu. -Mas você vê e pensa, poxa vida! Por que não escutei o que fulano disse? Agora pergunto eu, quantos de vocês só tem se lascado nessa sua vida? Me perdoem a maneira de falar, mas tudo tem dado errado e vocês muitas das vezes não sabem o porquê. -Ele pegou a Bíblia nas mãos. -Muitos de vocês tem deixado os conselhos que Deus dá em sua palavra de lado, fazendo apenas a sua própria vontade e por isso não conseguem ser felizes por completo. O tema do Encontro hoje se chama "Acho e logo me lasco!" Vamos fazer uma oração!

***

Eu achava que nunca iria voltar, que eu só iria fazer uma visita aquela igreja e jogar futebol, nada de mais. Mas quando eu percebi já estava perguntando para Henrique quando seria a próxima reunião para que eu pudesse participar.

-Então, a próxima reunião é amanhã, só que é bem cedo. Às oito horas!

-Por favor, oito horas pra mim já é tarde! -Brinquei, mas era verdade. Se para eu estar em campo eu acordava bem mais cedo, aquilo era o de menos.

Fui para casa pensativo, depois do futebol eu até tentava me distrair, mas pensava em todas às vezes que tinha feito tudo que me desse na telha e olha como eu estava.

Será que se eu seguisse o que Deus falava minha vida ia mudar? A vida da minha mãe iria mudar?

Eu precisava ver.

No domingo levantei cedo, tomei meu banho e caminhei até a igreja. A reunião foi um pouco diferente e quem fez foi outro homem, deveria ser apenas alguns anos mais velho que Henrique e logo descobri que aquele era o pastor e que Henrique era obreiro, tipo um ajudante durante a reunião.

Eu me sentia bem ali, não sabia explicar como, mas estava tão bem! No final da reunião, Henrique estava em um dos bancos no fundo da igreja e todos os jovens se aproximavam dele. Ele me viu e seu sorriso foi inevitável para mim:

-Saulo! Você veio! Chega mais aí!

Me aproximei da roda e ele me abraçou como se fossemos velhos amigos.

-Bom dia, pessoal! -Todos responderam. -Assim como o pastor falou, se mantenham firmes, eu posso não saber o que está acontecendo na vida de vocês, na casa de vocês, com a família de vocês ou até mesmo dentro de vocês, mas Deus sabe e Ele mais do que ninguém está de prontidão para te ajudar! Tá ligado?

-Tá ligado! -Todos responderam.

-Tô ligado. -Respondi e todos olharam para mim sorrindo.

-Fico muito feliz que aos poucos a nossa família está crescendo. Sejam bem-vindos, Saulo! -Ele apontou para mim sorrindo. -E Laura! -Ele apontou para uma garota pequena que estava do outro lado da roda. Ela parecia envergonhada, mas quando levantou o rosto e olhou para mim, meu coração parou.

Não poderia ser. Os olhos, o cabelo, talvez eu estivesse me confundindo, mas ela parecia de mais com a menina que eu havia roubado junto com o meu primo. Engoli em seco me lembrando de sua gargantilha de ouro embaixo das minhas roupas dentro do meu guarda-roupa.

Laura olhou para mim, sua expressão não mudou, mas seus olhos me analisaram atentamente.

Certamente eu havia me lascado.

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