Capítulo 49 - Renato

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Renato

O obreiro Henrique havia sido a única pessoa que tinha ido me visitar durante aqueles dias em que fiquei trancafiado em meu quarto.
Fora ele, a única pessoa que lutava para que eu ficasse bem era a minha mãe, e ver a tristeza no rosto dela fazia eu querer sair daquela situação, mas eu não conseguia, era como se um peso estivesse em cima de mim, uma nuvem negra ao meu redor que não deixava eu enxergar nada além da tristeza me sondava.
Nenhum daqueles que se diziam meus amigos me mandaram mensagens. Talvez eles nem soubessem a situação decadente que eu estava, certamente acreditavam que eu não responderia e por mais que essa fosse a atitude esperava, eu sabia que se Pamela me ligasse, eu atenderia. Se Xander me mandasse um pedido de desculpas eu aceitaria, porque eu mendigava a atenção de cada um deles.
Respirei fundo e li mais uma vez o que havia escrito a dias, era algo simples e objetivo. Eu pegaria a faca da cozinha, a maior que tinha e mais afiada que quase não usávamos, pegaria o carro da minha mãe e mataria, a menina que dizia me amar, o rapaz que se dizia meu melhor amigo e a mim, porque não tinha mais razão nenhuma para continuar aparentemente.
Tomei meu primeiro banho em dias, fiz a barba, coloquei a melhor roupa e passei o perfume que Pamela havia me dado de presente.
Desci até a cozinha, não fazia ideia de que horas eram ou que dia sua aquele, eu não tinha mais noção de tempo ou espaço, eu me sentia anestesiado, como se outra coisa controlasse o meu corpo.
Todo o caminho até onde eu sabia que todos eles estavam foi um borrão. Meu coração latejava com a dor da traição, sentia a pálpebra do meu olho pular.
Entrei na casa e fui subindo as escadas, o velho cheiro de cigarro e bebida estavam por todos os lados, algumas pessoas que estavam nos corredores me cumprimentaram, outras apenas cochichavam entre si, e outras tão entorpecidas pelo que estavam usando que sequer notavam a minha presença.
Depois do terceiro cômodo, finalmente cheguei onde Pamela e Xander estavam com mais alguns dos nossos amigos que andavam com a gente. A faca na manga da minha blusa se tornou mais fria e pesada.
-Renato? -Xander me olhou confuso.
-Renato? -Pamela repetiu incrédula se soltando dos braços de Xander. -O que está fazendo aqui? -Ela se aproximou de mim, se ela soubesse que a único pensamento que vinha era enfiar aquela faca nela, duvido que chegaria perto. -Olha se você veio me pedir desculpas pelo que fez, pode dar meia volta porque eu não sou idiota!
Não tive tempo para pensar em mais nada, apenas na raiva que eu senti ao escutar que eu era o culpado por tudo aquilo! Como ela tinha coragem de falar aquilo? Tirei a faca da manga e enfiei na sua barriga sem pestanejar.
Um grito morreu estridente escapou dos lábios de Pamela me trazendo a toda.
-Que merda você fez?! -Xander gritou e Pamela caiu no chão. Olhei para as minhas mãos e vi o sangue vermelho entre os meus dedos.
Voltei para a realidade e vi todo mundo se aproximando, alguns gritavam, outros pegavam os celulares para chamar por ajuda.
O ar escapou dos meus pulmões, Xander falava alguma coisa para mim, mas eu não escutava.
O que eu havia feito?
Sai correndo de lá, empurrando as pessoas para que saíssem da minha frente, entrei no carro e comecei a dirigir sem direção, só aumentava a velocidade, cada vez mais rápido, cada vez mais rápido.
Eu avançava os sinais vermelhos. Sem perceber as lágrimas molhavam as minhas bochechas. Eu só conseguia lembrar do rosto de Pamela.
No banco do passageiro, meu celular toda hora tocava com o nome de Xander na tela, várias mensagens e ligações perdidas.
Foi quando a tela iluminou com o nome da minha mãe. Senti meu coração apertar e um soluço escapou dos meus lábios.
Foi um segundo que parei para pegar o celular, quando voltei para olhar a estrada um clarão e alguma coisa chocou contra o meu carro.
Devo ter capotado diversas vezes e tudo escureceu, desejei de verdade que aquele fosse o fim do meu caminho.

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