Laura
Antes do jantar, fui até onde meus pais estavam e disse que precisava conversar com ambos. Foi difícil encontrar um momento que eles estivessem desocupados, a família foi chegando e só quando eles viram a urgência na minha voz é que aceitaram conversar.
Levei os dois para o meu quarto e fechei a porta. Me sentei na cama e convidei para que eles fizessem o mesmo, minha mãe se sentou, mas meu pai continuou em pé.
-Pai, é melhor o senhor se sentar.
-Laura, eu não tenho o dia todo, tem um monte de coisa para resolver, nossa família já chegou, por que não escolheu outro momento para fazer isso?
-Por favor, pai. -A garota disse quase chorando.
Quando o homem percebeu os olhos cheio de lágrimas de sua filha, ele em silêncio se sentou.
Laura respirou fundo e contou, desde o começo de tudo, foi impossível não chorar. As lágrimas pareciam intermináveis.
Seus pais a olharam assustados. Laura não escondeu nada, contou sobre a parte do suicídio, mostrou a carta para ambos e agora foi a vez de seus pais chorarem.
Mesmo que seu pai odiasse a igreja, a garota ressaltou que havia sido por causa daquelas pessoas que ele tanto julgava que ela não havia ido até o final.
-Por que você nunca contou isso para nós? -Sua mãe perguntou.
-Meu tio nos ameaçou. -Laura contou também sobre a ameaça.
-Minha filha, nada é mais importante do que você. Nenhuma empresa, patrimônio, dinheiro ou bens valem mais do que você. -Seu pai disse.
-Eu sei, depois que conversei com o obreiro da igreja pude entender isso, mas foi muito difícil. -Ela secou as lágrimas. -Porque vocês dois quase não tem tempo para mim, sempre estão ocupados, nunca perceberam que havia algo errado.
-Filha, nos perdoe. Por favor! Nos preocupamos tanto em não deixar que faltasse nada para você em questão material...
-Que acabaram deixando faltar no afeto. -Laura respondeu, estava com a cabeça baixa, sentia ainda mais a dor de toda aquela mágoa. Porém, ela entendia que aquilo não era culpa de seus pais. Todos erravam, e o que já estava feito não poderia ser mudado. Eles precisavam mudar o que podiam no presente momento.
A garota levantou o rosto e os abraçou. Foi um abraço desajeitado, nenhum deles faziam isso há muito tempo, mas aos poucos foram se encaixando, como se fossem peças que dessem certinho em um quebra cabeça.
-Filha... -Seu pai chorou. Laura nunca havia visto aquele homem chorar. Ele quem sabia falar cinco línguas, que se colocava na frente de pessoas importantes e fazia discurso memoráveis, estava ali sem palavras.
-Por favor, não se culpem. Tudo aconteceu porque tinha algum motivo para acontecer. -Ela falou com a voz abafada.
Depois de algum momento, seu pai respirou fundo:
-Eu vou acabar com a raça daquele homem!
-Pai! Por favor!
-Como por favor, Laura? Ele destruiu as nossas vidas! Principalmente a sua!
Laura abriu o celular e leu a passagem bíblica:
Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós; 15 Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai vos não perdoará as vossas ofensas. Mateus 6:14-15
-Laurinha, você sabe que eu não acredito nisso...
-Pai, o tio tem que pagar sim, mas ter raiva dele como eu tive durante todos esses anos não me levou a lugar algum, pelo contrário, só fez com que eu quisesse me matar.
Seu pai depois de muito hesitar concordou.
Naquele dia, seu pai e seu tio conversaram, a polícia foi acionada. Seu tio acabou detido, mas logo foi liberado após pagar a fiança.
O pai de Laura dividiu as partes da empresa e cortou os vínculos. Iria proteger sua filha de todos os perigos que existissem, inclusive dele mesmo.
E era domingo, quando seu pai apareceu no quarto com sua mãe e sorriu:
-Filha? Vamos se arrumar?
-Vamos para onde, pai?
-Quero que você leve eu e sua mãe para a igreja. Mesmo que eu não acredite, é minha obrigação ir lá agradecer pelo que fizeram pela minha filha, fizeram o que eu nem prestei atenção. Se não fosse por eles, eu teria perdido a minha única filha.
Laura se levantou e abraçou mais uma vez os seus pais.
Se vestiu, para o melhor dia da sua vida. Não porque seus pais estavam indo, mas porque naquele dia, Laura recebeu a maior dádiva que alguém poderia receber.
O Espírito Santo.
Laura estava vazia, não tinha mais nada que o impedisse, e Ele veio.
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O CAMINHO
SpiritualA vida de Henrique virou de cabeça para baixo, quando sua mãe contraiu diversas dívidas para tentar tirar seu irmão, Heitor do mundo do crime e das drogas. Agora ele se depara em morar em uma comunidade do outro lado da Ponte do Silêncio em um barra...