Capítulo 69 - Vitória

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Vitória

Enquanto eu esperava o obreiro terminar de conversar com a minha irmã, eu estava parada na porta olhando a rua quando de longe eu vi Erick.
Depois que ele havia sido baleado na festa eu nunca mais havia tido notícias do mesmo.
Também não tive interesse nenhum, era claro que Erick tinha algum problema e eu não queria que ele descontasse em mim.
Mas antes que eu tivesse a brilhante ideia de me esconder, ele já havia me visto e caminhava decididamente até mim.
Me fiz de louca e entrei correndo para a igreja. O obreiro acabava de terminar o atendimento com a minha irmã, mas antes que eu pudesse falar ou fazer qualquer coisa Erick também entrou na igreja e começou a gritar:
-Tentou correr de mim foi? Sua ****! -Ele pegou meu braço.
-Ei! Solta a minha irmã! -Vivian gritou.
-O que está acontecendo aqui?! -O obreiro Henrique veio em seu encalço e assim que viu que Erick apertava meu braço ele veio para perto de nós, nos separando e me protegendo. -Solta ela! Quem você pensa que é? Você é louco, rapaz?
Naquele momento eu juro que pensei que o obreiro levaria uma surra bem dada, mas o que Erick fez depois, teria sido melhor a surra.
-Eu não sou louco! É essa menina que você tá protegendo aí atrás que desgraçou a minha vida! -Ele continuava gritando no meio da igreja. -Não sei se você conhece, mas essa menina aí destruiu a minha família! Eu tinha uma esposa linda e me deixei atrair por essa louca! Perdi minha esposa, perdi a minha filha! Tudo porque ela disse que gostava de mim! Eu dei tudo para ela! Roupa, dinheiro, sapato... -Todos os jovens haviam parado o que estavam fazendo apenas para olharem o que estava acontecendo. Eu só queria sumir. Queria que Erick calasse a boca. Queria até que o obreiro desse uma surra nele. -Tudo isso, para quê? Para quê no fim das contas ela me traísse com o bairro inteiro!
-Você conhece ele, Vitória? -O obreiro perguntou.
-Conheço, mas o que ele está falando já faz muito tempo que aconteceu...
-Não é verdade! Essa daí é um lobo em pele de cordeiro! Agora está se escondendo atrás da igreja, mas é só perguntar pra qualquer um, é só der mole que essa daí passa o rodo!
Olhei com ódio para Erick.
-E não faz tempo! Esses dias mesmo, Rian disse que pegou essa ***** de jeito!
-Cala a sua boca! -Não aguentei e gritei. Sai de trás do obreiro. Não era justo que e chegasse e destruísse toda a imagem que eu estava lutando para erguer novamente na igreja.
-Cala a boca você! -Ele ergueu a mão para me bater, mas o obreiro segurou.
-Vivian, tire a sua irmã daqui. Eu vou conversar com o rapaz. -O obreiro olhou firmemente para a minha irmã, ela me puxou, mas eu não queria ir.
Não sei o que eles conversaram, só sei que demorou para que finalmente Erick se acalmasse e disse embora.
Olhei para Vivian que abriu a boca para falar, mas eu a cortei:
-Não quero ouvir nada do que você tem pra falar.
-Que confusão você foi se meter, em?
Virei o rosto e o obreiro se colocou na nossa frente:
-Vivian, me deixe falar com a sua irmã sozinho.
-Sim, senhor. -Ela se levantou. -Se tiver alguma coisa que eu possa fazer, é só me chamar.
Ele concordou e sorriu. Franzi as sobrancelhas, tinha alguma coisa acontecendo entre os dois e eu não sabia?
Um ciúmes despontou em meu peito. Não era porque eu gostava do obreiro, mas porque eu queria que todas as atenções estivessem sobre mim.
Eu tinha que ser a mais bonita.
Eu tinha que ser a mais desejável.
Eu tinha que chamar mais a atenção.
Quando o obreiro se sentou ao meu lado, automaticamente comecei a dar em cima dele. Pensando sobre isso agora, eu iria morrer de vergonha.
O obreiro era um homem de Deus, que estava ali para me ajudar, ele não me via como os outros rapazes que eu era apenas um objeto para ser usado, mas eu me via daquela forma e não queria ser tratada da forma que uma mulher deve ser tratada.
Porque eu achava que não merecia.
Enquanto eu tentava me redimir, eu me inclinava para frente, jogava o cabelo, olhava de forma sensual e colocava minha mão nele.
Dava para ver que o obreiro estava incomodado, até que chegou o momento que ele se levantou:
-Chega! -Ele falou em voz autoritária. -Eu estou aqui para te ajudar, se você não quer ajuda, vai procurar o que fazer!
Me levantei:
-Mas eu quero ajuda... Eu quero a sua ajuda! -Dessa vez quando me inclinei novamente o obreiro se afastou.
-Ta amarrado! Essa não é a Vitória, sai daí em nome de Jesus.
Então tudo ficou escuro, e eu não lembro de mais nada.
***
Quando voltei, eu estava no chão. O obreiro estava do meu lado e me ajudou a ficar em pé.
-Como você está?
Respirei fundo.
-Bem. -E eu estava bem de verdade. Olhei para os lados e senti vergonha, porque u havia passado mal, na frente tinha alguns objetos que refletiam a nossa imagem e eu observei melhor, meu Deus, eu estava horrível!
-Não precisa ter vergonha. -O obreiro falou me observando. -Essas pessoas não devem nada para você! Vitória, você é a única responsável por estar nessa situação e por sair dela também. É hora de você tomar uma decisão. Você pode continuar se escondendo atrás da sua dupla personalidade, fingir ser alguém que não é e continuar dando problema, ou mudar, ser diferente. Não vai ser fácil, você vai ter que enfrentar julgamentos e principalmente enfrentar você mesma. Sua carne. Eu estou aqui pra te ajudar, mas como eu disse, depende de você.
Concordei e fui para casa ao lado de Vivian em silêncio, ou eu mudava, ou se não, eu ia continuar da mesma forma.

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