Capítulo 2 - Pastor Samuel

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Pastor Samuel

Terminei de passar pano no último banco e me sentei na ponta do Altar respirando fundo.

-Terminei de lavar os banheiros, pastor. -Daniel disse enquanto desdobrava as mangas de sua camisa.

-Muito obrigado, Daniel. -Sorri para ele agradecido, mas o rapaz não retribuiu o meu sorriso. Seu olhar era distante, até mesmo angustiado. -Antes que você vá para casa, está tudo bem?

-Sim, senhor. -Ele respondeu mecanicamente. Como eu odiava aquela frase que não mostrava o que o garoto tinha dentro de si.

-Tem certeza? Estou sentindo que você está meio...

-É a faculdade. -Ele não deixou que eu terminasse a frase. -Fim de semestre é terrível, pastor.

-Entendo. Tem certeza que não há nada que você queira me contar?

Daniel finalmente olhou para mim por cima de seus óculos. Pareceu tentado a falar alguma coisa, mas pensou melhor e forçou um sorriso. Um sorriso que se eu não o conhecesse diria até mesmo que era verdadeiro:

-Nada. -Um silêncio surgiu entre nós e percebi o quanto meu olhar o incomodava. Daniel não conseguiu sustentar o olhar por muito tempo e virou o rosto. -Pastor, melhor eu ir indo para a casa. Vou terminar alguns trabalhos da faculdade.

-Sim, sim... Tudo bem, obrigado mais uma vez.

O rapaz saiu e fiquei no mesmo lugar pensando. Era tão difícil começar em uma igreja pequena. Eu precisava estar fazendo de tudo. Não que eu reclamasse, eu amava aquela igreja, o povo, mas reconhecia que eu não era nada, e eu precisava de ajuda.

Já se faziam quatro meses que eu estava naquela igreja e mesmo com as dificuldades eu via que com o tempo as reuniões cresciam e isso era bom, mas eu via a necessidade que tínhamos, ter um grupo de jovens, naquele bairro existiam tantos!

Deus poderia contar comigo, mas eu via a hesitação no olhar de Daniel. Eu sabia que tinha algo errado, mas o fato de eu ser pastor fazia com que ele não olhasse para mim com um olhar de amigo, apenas como alguém que supostamente deveria ser perfeito e que o julgaria.

Se ele soubesse que nós que estamos a frente de um trabalho somos tão humanos quanto ele... Era por isso que precisávamos desesperadamente do Espírito Santo.

Eu pensava nisso quando um rapaz alto entrou pela porta e caminhava decididamente até mim.

-Bom dia, o senhor é o pastor? -Ele disse estendendo a mão para me cumprimentar.

Não deveria ter mais que vinte e três anos. Era alto, um porte físico adequado para a sua estatura, os olhos claros e altivos, com os cabelos cor dourada.

-Sim. -Me levantei. -Sou o pastor Samuel.

-Muito prazer, me chamo Henrique, sou obreiro da Catedral de Vicente, estou aqui com a minha carta de transferência, começarei a frequentar a igreja daqui.

Sorri e ele também.

Não poderia ser mais grato do que estava, ali começaria um novo caminho para a mudança daquela comunidade.

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