Capítulo 73 - Jacqueline

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Jacqueline

Aos poucos cada menina foi ganhando a confiança em mim. Laura me contou sobre tudo que havia sofrido e mesmo que agora estivesse bem, era o momento essencial que ela precisava de uma amiga, por mais que o obreiro havia a ajudado, tinha questões femininas que Laura precisava tirar as dúvidas, além de que agora ela precisava cicatrizar a ferida que tanto havia cutucado durante aqueles anos.
Vitória parecia querer se abrir para mim, depois do que havia acontecido entre ela e o obreiro Henrique, ele havia se distanciado totalmente de todas as meninas, mas mesmo que ela quisesse, eu via o receio em seus olhos por não querer desagradar a sua irmã mais velha, Vivian.
Ah, não importava o que eu fizesse, Vivian havia levantado uma barreira contra mim. Eu tentava me aproximar de todas as formas, mas cada vez que eu a tratava bem, a mulher encontrava mil e uma novas maneiras de me tratar de forma ruim.
Naquele dia, eu estava cansada. O encontro dos jovens havia terminado e eu havia passado o dia na igreja, limpando, fazendo comida, evangelizando. Minhas pernas não aguentavam mais ficar um minuto em pé, eu terminava de organizar as coisas para a reunião e o obreiro entrou, ele parecia tão cansado quanto eu.
Ele estava com várias coisas na mão, colocou em cima da mesa perto de mim, se jogou na cadeira e sorriu:
-Vencemos mais um dia. -Mesmo cansado, ele irradiava uma força que era admirável. O que aquele homem não fazia por aqueles jovens? Quantos nãos ele já não havia levado na cara? E ainda assim, ele não havia desistido!
Respirei fundo, eu tinha tanto que aprender!
-Como está indo as coisas com as meninas? -Ele perguntou.
-Estão caminhando. Estou fazendo um propósito com a Laura e ela é a que mais está progredindo. A Vitória ainda está na guerra, mas vejo que ela aos poucos tem tomado a decisão necessária, já Vivian eu não sei mais o que fazer. -Admiti derrotada. -Não importa o que eu faça, ela parece que me odeia!
O maxilar do obreiro travou e ele me encarou com seus enormes olhos claros. O que quer que ele estivesse prestes a me contar, parecia ser algo que exigia muito dele.
-Eu acho que já sei porque ela não gosta da senhora. -Ele respirou fundo. -Alguns dias antes da senhora chegar, Vivian admitiu que tinha sentimentos por mim. -Henrique parecia até mesmo envergonhado ao admitir aquilo.
Será que ele também gostava da moça?
Me mexi na cadeira um pouco incomodada, mas não ousei perguntar nada.
-Desde então, eu me afastei totalmente dela ou de qualquer menina do nosso grupo.
Arquiei as sobrancelhas entendendo o que ele queria dizer:
-Vivian acha que o motivo do senhor se afastar é por causa de mim?
-Exatamente. O que não tem nada a ver... -Ele limpou a garganta, com certeza estava constrangido. Aquilo não era um assunto rotineiro que se conversa a qualquer hora. -Afinal, somos companheiros de guerra. Eu não vejo a senhora dessa forma e acredito que nem a senhora me vê assim.
Foi a minha vez de ficar constrangida:
-Não, claro que não. -Negueei com força e pareceu totalmente o contrário.
O silêncio pesou e Henrique se levantou.
-É melhor eu ver se o pastor precisa de alguma coisa.
-E eu vou embora. -Me levantei também e derrubei as coisas. -Meu Deus, desculpa! -Nervosa abaixei no mesmo momento que o obreiro abaixou.
Batemos a cabeça um no outro.
-Ai! -Nós dois reclamamos.
Olhei para o obreiro e começamos a rir.
-Me perdoa, eu sou tão atrapalhada! -Falei e todo aquele constrangimento sumiu.
-Eu percebi quando no primeiro dia a senhora já caiu! -Ele falou rindo.
-É os loucos que Deus escolhe, né? -Ele me ajudou a se levantar e cada um seguiu seu caminho, mas a partir daquele dia comecei a observar o obreiro, não com uma segunda intenção, mas com admiração.

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