Capítulo 1 - Henrique

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Henrique

Olhei para a casa que iríamos morar e meu coração pareceu ser pisado.

Aquilo sequer poderia ser chamado de casa. Dois cômodos debaixo da casa do tio Lúcio, mofados e com as paredes rachadas.

Minha mãe agradecia a Deus por pelo menos nós termos um teto depois de ter sido expulsos da nossa antiga casa da forma mais humilhante possível.

Eu fechava meus pulsos e os abria lentamente. Eu não poderia aceitar aquela situação. Servir um Deus tão grande e poderoso e viver daquela forma.

No dia seguinte, acordei bem cedo. Na verdade não tinha como dormir muito, o sofá que seria a minha cama era duro e meu pescoço doía, mas quando vi minha mãe de pé preparando o café, não ousei reclamar. Dona Vera tinha tantos problemas, eu ter uma dor não era nada de mais.

-Bom dia, Rick! -Ela sorriu para mim. -De pé uma hora dessa! Me perdoa se eu fiz muito barulho, hoje a patroa pediu para que eu fosse mais cedo fazer a faxina...

-Sem problemas, mãe. -Dei um sorriso melhor que pude. -Vou sair para procurar emprego.

Minha mãe se aproximou de mim e ergueu a cabeça para me encarar:

-Tenho tanto orgulho do homem que você está se tornando.

-Nós vamos sair dessa, mãe. Pode ter certeza. Deus não vai nos desamparar.

-Sua fé é tão incrível. -Ela sorriu tristemente. Eu queria argumentar que um dia, essa fé que eu tinha havia estado dentro dela e que não era difícil voltar para os braços de Jesus, afinal havia sido ela quem havia me levado. -Eu tenho plena certeza que Helena e Heitor estarão conosco também.

Sorri para minha mãe, mas não posso dizer que foi um sorriso sincero. Era difícil pensar em meus irmãos com carinho quando eu sabia que um dos maiores motivos para estarmos ali e minha mãe sofrendo eram eles.

Peguei meus currículos e sai pelas ruas.

Eu não tinha que ficar bravo com meus irmãos, já haviam cometido aquele erro antes, eu precisava me revoltar contra o gigante que se levantava em minha vida.

Eram tantos problemas que eu sabia que a única coisa que me fazia permanecer era o Espírito Santo.

Antes que eu embarcasse na luta que eu tinha pelo restante do dia, caminhei até a igreja mais próxima da minha nova casa.

O bairro era simples e humilde, as casas todas uma em cima da outra, jovens em cada uma das esquinas e eu imaginava o que estavam fazendo. Eu poderia reclamar do lugar que eu estava, mas aos poucos começava a ver o porquê Deus havia me colocado ali.

Haviam pessoas sofrendo, jovens perdendo a vida por coisas que não o satisfariam nunca.

Meus problemas pareciam pequenos comparados a suposta vida que eles tinham. Imaginem só, eu posso estar passando pelo inferno que fosse, eu tinha certeza que Deus era comigo.

Mas e eles? Quem aqueles jovens tinham? Será que sabiam que existia um Deus que poderia ajudá-los a largar tudo aquilo e ser feliz de verdade?

Entrei na rua que era a igreja, mas demorou uns cinco minutos para encontrá-la. Havia passado em frente a mesma sem enxerga-la e quando finalmente a encontrei, logo senti um amor imenso pela minha nova casa.

Era pequena e simples, eu acostumado com reuniões super lotadas em minha sede, mas sabia que me daria bem ali. Era um novo caminho que eu seguiria.

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