Capítulo 25 - Henrique

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Henrique

Terminei de ajeitar a gravata no pequeno banheiro da igreja e sai de lá, indo para o salão da nossa pequena igreja para receber as primeiras pessoas que ali chegavam. Eu havia sido o primeiro obreiro a chegar e preparei tudo para que a reunião ocorresse bem.

Cada coisa que eu fazia naquela igreja fazia com que eu me lembrasse de quando eu era obreiro da catedral. Lá eu era apenas um obreiro, o pastor sequer sabia o meu nome, quando eu chegava na igreja todas as coisas já estavam feitas e eu só tinha que seguir alguns pedidos, eu era apenas conhecido por alguns jovens e membros que eu ajudava, mas sempre tinham obreiros para realizarem cada função, mas ali naquela pequena igreja, eu me sentia até mesmo preocupado, eu não era melhor do que ninguém, pelo contrário por ter pouco tempo de obreiro, sempre achei que precisasse aprender cada vez mais, mas ali eu não podia ficar e apenas observar o que acontecia ao meu redor para aprender, eu aprendia na pratica, se desse certo era para gloria de Deus, se desse errado era experiência e eu não poderia ficar me lamentando,.

Vi que por mais que as condições que me levaram até ali fossem ruins, cada dia era um dia de aprendizado, eu não era apenas um obreiro que ajudava no grupo dos jovens, mas ali até reunião eu precisei aprender a fazer para que quando o pastor não estivesse eu pudesse ajudar da mesma forma.

E eu me animava dessa forma, mesmo não me achando capaz, Deus me capacitava, eu estava avançando em meus limites. Claro que era bem melhor quando ninguém estava de olho em mim, se por ventura eu tivesse algum erro, não era tão notório, mas ali, eu precisava me esforçar ao máximo.

Caminhei até a entrada do salão, onde um casal acabava de chegar.

-Aqui é longe, por que você vem aqui, sendo que lá perto da nossa casa tem uma igreja dessas que é bem maior? -A mulher perguntou com os olhos passando rapidamente pelo local.

-Quando eu fui embora de casa, eu não tinha para onde ir, acabei andando lá da cidade até aqui, não faço ideia como cheguei, mas lembro muito bem que assim que atravessei a porta, teve um homem, um pastor que me ajudou, me deu uma palavra de fé. -Ele parou e tocou no ombro da mulher delicadamente. -Rosana, quando eu vim para cá, percebi que não importa o tamanho do lugar, o que importa é o tamanho da nossa fé!

Rosana concordou e eu me aproximei:

-Olá, bom dia! Sejam bem-vindos. -Estendi a mão para cumprimenta-los, mas a mulher fingiu que não a viu, ela sequer olhava em meus olhos. -Espero que tenham uma ótima reunião.

-Sim, eu também espero. -Ela disse tristemente. -Porque eu preciso muito de ajuda.

-Olha, dona. Eu não sei qual é o problema da senhora, mas como ele disse, tenha fé, porque nada é tão grande que Deus não possa resolver.

Ela finalmente olhou para mim e eu mantive o olhar fixo em seus olhos. Não era penas seu semblante que demonstrava tristeza, mas por mais bem vestida que estivesse, todo o corpo de Rosana mostrava a angustia. A magreza, as olheiras profundas, a palidez e fragilidade. Rosana tinha nome de viva, mas era nítido que não vivia.

-Você parece ter quase a mesma idade do meu filho, sabia? Quantos anos você tem?

-Tenho vinte e três, senhora.

-O Renato tem vinte. -Ela pareceu ainda mais triste ao pensar no filho. -Queria que ele fosse como você, eu não te conheço, mas sei que tem alguma coisa de diferente em você. -Rosana sorriu, mas era um sorriso fino, que sequer mudava a expressão de tristeza em seu rosto. Rapidamente eu pensei em minha mãe e que ela ficava da mesma forma quando falava de Helena e Heitor.

-Senhora, eu disse que não há nada impossível para Deus, seu filho não está aqui hoje, mas creia que Deus vai fazer ele um grande homem, até maior e melhor do que eu, a senhora crê? -Ela ficou em silêncio ainda me encarando. -Rosana, você crê?

As feições de seu rosto mudaram, ela fechou os olhos e sua respiração ficou mais rápida, quando ela tornou a olhar para mim, eu sabia que não era a mesma mulher que eu conversava antes.

-Por mais que você tente mudar a situação dos jovens daqui você nunca vai conseguir. Eu não vou deixar. -Sua voz era grossa e rouca e seus olhos giraram em suas orbitas deixando apenas a parte branca. -Você não sabe com quem está mexendo.

-E não preciso saber. Preciso apenas saber quem é que está comigo, e para sua infelicidade e pela misericórdia eu creio que é Deus.

-Não vou deixar que você mude as coisas. Sou eu quem estou sentado no coração de cada um deles e eu não vou desistir.

-Eu também não irei, você está amarrado pelo nome do Senhor Jesus. -Rosana se curvou e torceu os braços para traz de si. Sem tocar na mulher, estendi as minhas mãos e determinei: -Espirito imundo que tem atormentado essa senhora, saia da vida dela e de todos aqueles que você tem planejado destruir, em nome de Jesus! -Assim que terminei de falar a mulher voltou a si e o seu esposo a ajudou se segurar.

-Rosa, você está bem? -Ele perguntou preocupado.

Ela respirou fundo e sorriu, foi quando percebi que lágrimas escorriam de seus olhos.

-A senhora está bem? -Perguntei, mas foi inevitável não sorrir junto, pois aquele sorriso era nítido que era verdadeiro.

-Estou muito bem!

-Então porque esta chorando?

-Eu não lembro qual foi a última vez que eu me senti tão em paz como estou me sentindo agora. Obrigada, moço!

-Não precisa agradecer a mim, tudo que aconteceu agora foi por intermédio do nome de jesus. -Olhei para o meu relógio de pulso. -Logo vai começar a reunião, mas a senhora crê a partir de hoje, suja vida será diferente?

-Eu creio!

-Tem fé que seu filho um dia estará aqui?

Sem hesitar e com um sorriso enorme em seus lábios ela concordou:

-Eu tenho.

-A senhora pode não ver, mas agora mesmo Deus está trabalhando em seu filho e no momento certo ele virá para a igreja.

Ela concordou e eu indiquei os lugares parta que eles se sentassem. A reunião logo começou e eu pensava no trabalho que teria pela frente, o mal nunca havia desistido da minha alma, não era porque eu era obreiro ia na igreja quase todos os dias que eu já estava com tudo garantido, era uma luta diária que eu tinha plena consciência que se eu desse uma brecha o diabo não perderia a oportunidade de destruir a minha vida, assim como estava fazendo com a de milhares de jovens.

O pastor começou a orar e eu baixinho sussurrei com os olhos fechados:

-Meu Deus, eu estou com a mão estendida para ajuda-los a seguir o Seu Caminho, mas não posso obriga-los a aceitar a minha ajuda.

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