Henrique
-Quer dizer então que o senhor vai ser padrinho do casamento do Vitor? -Renato sorriu para mim quando me aproximei. Ele estava auxiliando no evento da catedral e era muito bom poder vê-lo ali. Vestia uma camisa polo cinza, e estava com o cabelo cortado. Seu semblante era tão diferente de alguns anos atrás.
Pensei em tudo que havíamos feito por aquele rapaz. Como o poder de Deus era maravilhoso.
Às vezes me pegava pensando e vinham dúvidas sobre o fato se minha irmã Helena ou Heitor iriam se converter. Os dois dificilmente entravam em contato comigo e era difícil crer quando não víamos, dava vontade de desistir? Dava. Porém, ao olhar para a vida de todos aqueles jovens a minha fé se renovava.
Renato tinha ido no inferno e voltado. Não acreditava em Deus e agora estava ali se preparando para servir como pastor.
Laura que antes só pensava na morte, hoje tinha prazer em viver.
Vitória que precisava da aprovação dos outros para se sentir bem, agora só se importava em agradar a Deus.
Daniel que mesmo se distanciando de Deus, Deus nunca havia aceitado e permaneceu próximo, esperando apenas a oportunidade para ele se voltar.
Vitor que poderia ser a personificação da destruição, agora tinha capacidade de construir a sua própria família.
Saulo que achava que a única coisa que importava era o dinheiro, compreendia agora que a única coisa que realmente importa é a sua salvação.
Todas às vezes que eu não tinha forças mais para acreditar, era olhar para a vida daqueles jovens que não tinham valor algum para a sociedade, mas eram preciosos para Deus.
-É. -Respondi. -Vamos ser padrinhos.
-E tá na hora do senhor achar quem vai ser a madrinha, não é?
Engasguei e olhei para Renato.
-Renato!
-Obreiro! O senhor já cuidou tanto da gente, seria bom ter alguém para cuidar do senhor, ué! O senhor mesmo nos ensina que não é errado pensar em namorar, se casar e ter uma família! Que isso é promessa de Deus. No devido tempo, é claro. Quando tudo se ajeita! Poxa, olha a vida do senhor! O senhor tem um emprego bom, é um homem de Deus e está morando sozinho, agora! Não vejo o que impediria do senhor arranjar uma boa esposa.
Abri a boca e fechei. Não tinha como contrapor os argumentos. Renato foi para o lado de Vitor que o chamava.
-Obreiro, eu preciso enviar o relatório. -Vivian surgiu atrás de mim e todos os pelinhos do meu braço se arrepiaram.
E tinha Vivian também. Enquanto ela falava lembrei de quando havia ido no hospital depois da sua tentativa de suicídio.
Pior que eu ainda gostava dela.
Vivian sempre havia sido uma mulher que chamava a atenção, desde quando eu havia a visto no bar pela primeira vez, eu até evitava olhar para ela.
Não que agora ela tivesse deixado de ser bonita, mas havia mudado, não era mais seu exterior que chamava atenção, mas seu interior sobressaia, a beleza do Espírito Santo era bem maior.
Eu havia sido criado na igreja, nunca havia tido uma namorada. Vez ou outra quando eu estava na catedral surgia alguma moça, mas nada que fosse para frente. Não era que eu fosse uma pessoa exigente, mas eu entendia que Deus estava me dando a oportunidade de escolher bem, eu não precisava sofrer se já desde pequeno ouvia tantos ensinamentos.
E como minha mãe me ajudava! Sempre havia me ensinado a prestar atenção nos mínimos detalhes.
-Se ela for uma boa filha, ela será uma boa esposa, Rick. Se ela respeita a Deus, ela irá cuidar de você, irá te respeitar, porque essa é a oferta dela para Deus.
Talvez fosse o momento de observar Vivian não somente com os olhos de obreiro, mas como de um homem pronto para formar uma família.
-Obreiro? -Ela estralou os dedos na minha frente. -O senhor está me escutando?
Pisquei.
-Desculpa, eu estava pensando em outra coisa...
-Percebi... -Ela respirou fundo. -Mas é que eu preciso disso para enviar...
-Vivian, preciso te perguntar uma coisa antes.
-Certo. -Ela me olhou séria. Eu não poderia dar para trás agora.
-Você ainda gosta de mim?
Foi a vez de Vivian se engasgar.
-Obreiro, se eu faltei com respeito com o senhor, olha me desculpa. Eu estou tomando cuidado, estou vigiando, o senhor pode ver, eu nem fico perto do senhor, e...
-Nao foi isso que perguntei.
-... Sim, gosto do senhor.
Soltei o ar que estava segurando até aquele momento.
-Que bom. -Sorri.
-Só isso? -Ela perguntou confusa.
-Quer dizer, quero dizer... Que bom porque eu também gosto de você.
-Oh meu Deus... -Ela me olhou assustada.
-Esta tudo bem? Você disse que gostava de mim primeiro.
-Sim, é que eu imaginei esse momento tantas vezes, e nenhuma era assim.
-Desculpa, eu não sei fazer essas coisas.
-Tudo bem, eu acho...
-Mas olha, isso não é o bastante. -Fiquei sério novamente e cruzei os braços, lembrando de tudo que a minha mãe havia me dito. -Você realmente tá convertida né?
Vivian cruzou os braços.
-Sim, estou. -Ela cerrou os olhos. -E o senhor, é convertido?
-Que pergunta é essa?
-Já errei muito na minha vida sentimental, o senhor sabe disso, e tenho aprendido que não é só ser obreiro, eu tenho que procurar um homem que realmente tenha o Espírito Santo! E não estou desesperada por isso. -Ela falou e eu sorri. -O senhor acha graça nisso, não é?
-Nao, estou sorrindo por ver a graça em você.
-Quero ver se vai sorrir tanto assim, porque para poder namorar comigo o senhor tem que entender que eu tenho um filho.
-Certo.
-Entao vai ter que pedir para ele.
-Certo.
-Vai ter que pedir permissão para a minha irmã, também. A Vitória.
-Tudo bem.
-Para o meu tio, o dono do bar.
-Sem problemas.
-E para o pastor Samuel.
-Pedirei amanhã mesmo.
-O senhor quer mesmo namorar comigo? -Ela perguntou mais uma vez incrédula. -Obreiro, o senhor conhece o meu passado... Sabe que pode ser difícil, que as pessoas podem comentar.
-Mas é por conhecer o seu presente que quero namorar com você.
Ela sorriu, pela primeira vez aliviada.
-Só tenho mais um pedido.
-Sim?
-Falta um mês para eu poder ser apresentada como obreira, não quero namorar agora, só depois que der tudo certo. Como eu disse, não estou desesperada, quero tudo no tempo certo.
-E vai ser, não me importo de esperar. -Falei sorrindo e ela sorriu também com as bochechas ficando vermelhas.
-Mas agora, o senhor precisa me dar os dados para que eu possa mandar o relatório! Pelo amor de Deus!
-Sim senhora.
Não posso dizer que era como se eu estivesse sonhando, porque nenhum sonho poderia se comparar com a realidade da felicidade de seguir aquele Caminho, que era Jesus, nos proporcionava.
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O CAMINHO
SpiritualA vida de Henrique virou de cabeça para baixo, quando sua mãe contraiu diversas dívidas para tentar tirar seu irmão, Heitor do mundo do crime e das drogas. Agora ele se depara em morar em uma comunidade do outro lado da Ponte do Silêncio em um barra...