Parte 34

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- Agustin cadê você? Pergunto assim que ele atende, acabei de estacionar na frente do prédio dele.
- Ih gata, estou na correria esses dias.
- E você por acaso lembra que marcou comigo?
- Me desculpe Kah, fiquei sobrecarregado depois do que aconteceu...
- Onde está o Ruggero, você disse que ele estava bem.
- E está, fisicamente sim..
- O que houve?
- A mãe do Rugge apareceu, o médico ligou pra ela.
- Nem sabia que aquela peste tinha mãe, mas enfim isso é bom não é?
- É longa história e não posso falar, quando ela aparece o Ruggero que você conhece desparece.
- Como assim?
- Deixa pra lá, quando ele estiver bem vai sair do quarto.
- Vou subir.
- Eu não recomendo.
- Ótimo, não sigo recomendações mesmo.

Desligo o telefone e entro no prédio, o elevador abre e já estou na sala, a casa está escura e um silêncio medonho, se ver que os garotos não estão em casa.
Me aproximo do corredor a primeira porta é o quarto dele quase de frente para a sala, escuto barulho, parece está falando, abro a porta mas não tem ninguém Ruggero esta deitado na cama todo encolhido e se debate.

- por favor. Não. Por favor não machuca...
Por favor... mãe, mãe...

Seu desespero é tão grande que uma lágrima cai dos seus olhos ainda fechados pelo sono, tiro os tênis e sento na cama ao seu lado, puxo seu corpo para mim e o abraço.
Nem sei porque fiz isso mais vê-lo assim me corta o coração.
Beijo sua testa e aliso seu cabelo, ele me aperta e chamo seu nome.
- Rugge... Rugge... Ele parece despertar aos poucos, vejo seu olhar ir para um lado e para o outro e então ele se afasta bruscamente de mim.
- O que está fazendo aqui?
- Desculpe, você estava sonhando eu entrei e...
- Droga. Ele resmunga e pula da cama está só com uma calça de pijama e seu corpo é o paraíso, ele sai do quarto e quando volta é com uma garrafa de whisky na mão.
- Você não está tomando remédios ainda?
- Aqui o meu remédio.
Ele levanta a garrafa e bebe direto. Levanto e vou até ele retirando a garrafa de sua mão.
- Não enche o saco Karol, me dar a garrafa.
- Não dou não, quer ficar enfurnado nesse quarto fique, mas sem bebidas.
- Quem é você para me dizer o que fazer?
Arqueio a sobrancelha.
- Porra mandada do caralho, o que você está fazendo aqui? quem te chamou?
É engraçado como as palavras de Jorge fazem todo sentido, eu sou igualzinha mascaro minha dor atrás de palavras que afastam as pessoas.

Flashback.

-Você está bem? Pergunta Jorge.
-Estou ótima não vê? Não preciso de ninguém perguntando a cada cinco minutos se estou bem que porra.
-Tem gente aqui que se preocupa com você sabia, monstrinha.
- Eu sei me cuidar sozinha, e me deixe em paz e vaza daqui. Ele segura minha mão.
- Para tá legal, você e Ruggero são igualzinhos, se escondem atrás da dor, só que já acostumei com ele por isso não me incomodo com seu jeito cretino de tratar os outros então não vou embora.

- Eu não preciso de convite, e pode parando com essas desculpas esfarrapadas pra cima de mim.
- Que desculpas o que, está maluca... Não responda, você não está, você é.
- Sabe o Jorge tem razão.
- Sobre o que? Ele tenta pegar a garrafa.
- Sobre sermos iguais.
- Eu tenho um pau, e você uma boceta que inclusive é deliciosa.
Ele aproveita e cheira meu pescoço, chupa minha pele e estremeço.
- Você esconde a dor atrás de palavras. Ruggero se afasta e me encara depois da uma gargalhada.
- Cheia de filosofia Karolzinha.
- Não, eu sou igual, uso esse jeito estúpido como mecanismo de defesa e só agora me dei conta que você faz o mesmo, o que aconteceu? Com sua mãe?
- Mete o pé Karol, não preciso de você me aporrinhando o juízo.
Ele se senta na cama e joga a cabeça para trás no travesseiro.
Vou até ele e sento em seu colo, Ruggero abre os olhos e me encara, coloco uma mão em seu rosto.
- Porque entrou naquela casa em chamas? Ele engole em seco.
- Pensei que estivesse lá dentro, vi sua moto na garagem.
- E porque se sacrificaria assim por mim?
- Não se ache.. Só não iria deixar você morrer queimada.
- Certo, e porque? Que importância eu tenho na sua vida?
- Qual é do papo Karol?
- Só quero entender.
- Já falei não iria deixar você morrer queimada, fora que foi obra dos franceses.
- Tudo bem. Eu só queria te agradecer. Engulo em seco.
- Não é a primeira vez que se arrisca por mim, obrigado mas por favor não entre em uma casa pegando fogo nunca mais, eu quase morri ao lado de fora com os garotos. Ele arregala os olhos.
- E tenho certeza que sua mãe também.
Ele baixa o olhar.
- Você estava sonhando quando entrei. Respiro fundo, com ele tenho que ser bem cuidadosa, Ruggero não baixa a guarda assim tão fácil e eu sei, porque faço o mesmo.
- É recorrente?
- Todo mundo sonha Karol.
- Eu sei... Mas nem todos tem sonhos que te acompanham... Eu... Eu tenho...
- Tem?
- Sim... O Roberto sempre foi agressivo e minha mãe me colocava na cama para dormir bem cedo para que eu não ouvisse quando ele chegava, mas eu sempre acordava com o seu choro, eu sabia que ela sofria nas suas mãos e a última vez antes dela ser vendida, eu estava dentro do guarda-roupas e assistir tudo. Seco uma lágrima.
- Depois suas agressões foram transferidas a mim.
- Desgraçado. Ele murmura.
- Até que aprendi a me defender.
- Com o Sebatian? Ele faz uma careta e dou risada.
- Sim com ele, você tinha que ver a cara do Roberto quando revidei um soco, ele ficou furioso mas quando dei o primeiro foi como se ligassem um botão só fiquei satisfeita quando ele estava no chão.
- Sei bem como é...
- É assim para você também não é? Juntar toda a carga que carrega nas costas e descarregar tudo de uma vez, essa foi a sensação que senti quando peguei aquela arma e descarreguei nele.

Abaixo a cabeça mas percebo que ele quer tocar meu rosto, mas para com a mão na metade do caminho, levanto o olhar e seguro a mão dele colocando no meu rosto, o que o faz suspirar.
- Você é chata pra caralho. Dou risada.
- Eu sei. Beijo meu ombro.
- Não sei o que espera de mim...
- Que fale, sabe eu queria jogar você pela janela, no dia em que apareceu no meu quarto a primeira vez, mas a verdade é que você me fez falar e aquilo de alguma maneira ajudou, então...

- Minha mãe foi estuprada na minha frente, eu tinha sete anos...
Minha expressão de horror fica estampada e ele sorrir triste.
- A mando do meu pai.. ele engole..
- Ruggeee...
- É uma merda, ele dizia que eu tinha que ser homem e só assistindo a esse ato cruel com minha própria mãe eu...
- Você seria a cópia dele..
- Pior que eu sou...
- Não.... Você não é.
- Eu segui o mesmo caminho Karol, e consegui ser mais cruel do que ele.
- Mas você não é ele, pode ser cruel mas não com um inocente. Ele rir amargurado.
- O que te faz pensar que não sou, eu matei meu pai eu tinha doze anos acha mesmo que existe algo bom em mim?
- Doze? Foi por saber qual era a sensação de matar seu próprio pai que ficou furioso quando isso aconteceu comigo?
- O que acha?
- Que aí está a sua resposta, você não é como ele só ainda não se deu conta...
O que fez por Carolina, o que fez por mim, mesmo sendo um completo babaca você me ajudou e tenho certeza que isso não vem do seu pai.
Ele volta a sentar comigo em seu colo.
- Isso não muda nada Karol, minha vida é toda errada, eu sou todo fodido não consigo nem olhar para minha mãe.
Seu semblante muda e seu olhar perdido me diz tantas coisas.
Trago seu rosto pra mim e beijo seus lábios, não sei bem o porque estou fazendo isso, só quero que esse olhar se desfaça porque é de cortar o coração.

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