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Nós fomos o caminho inteiro sem falar nada, até porque o meu medo de andar de moto era gigantesco, se ele ousasse querer conversar comigo por cima dela eu iria querer matá-lo.

Só que no lugar de falar, se tornou pensar, minha mente não parava de trabalhar. E nunca gostei muito disso, nunca gostei de ficar pensando em problemas, pra mim era só se viver, mas era inevitável.

Nós chegamos na praia, ele parou com a moto, eu desci com todo cuidado do mundo, tirei o capacete o pendurando no meu braço e fomos andando até a areia. Tirei o chinelo, assim como ele, e o segui.

Ele sentou na areia poucos metros da água, que por incrível que pareça estava fraca. Eu o acompanhei.

— Você não consegue nem me olhar. — ele riu me observando. Eu olhava com força pro mar.

— É que eu tô morrendo de vergonha por ontem. — ri sem graça.

Ele colocou a mão no meu queixo e virou meu rosto pro dele. Fiquei igual uma boba olhando pra ele que soltou do meu rosto.

— Você não precisa ficar com vergonha de mim, ainda mais que tu é a pessoa que eu me sinto mais à vontade, é até ironia. — ele disse virando o rosto pro mar.

— Sou? — perguntei surpresa. Ele assentiu sério. — Fico feliz!

— Deixou de lado aquela história de se afastar de mim? — debochou.

— Deixar eu não deixei não, mas eu consigo? — o questionei, me questionei, na verdade eu não sabia de nada.

— É foda, eu não consigo também me afastar de você. — ele disse. De algum jeito senti meu coração acelerar por uns segundos. — É engraçado que eu não gostava do seu jeito de ser e agora eu não consigo me afastar exatamente por isso.

— Como assim? — franzi a sobrancelha.

— Tu me faz bem Alicia, teu jeito de bem com a vida me trás alguma paz que eu não tenho. — ele falou envergonhado, olhando mais pro mar do que pra mim.

— Agora quem não consegue me olhar é você! — eu ri de nervoso.

Ele assentiu com um sorriso de canto de boca e se virou pra mim me encarando. Ficamos por alguns segundos nessa, um olhando pro outro.

— Acho que por esses motivos eu preciso ser sincera com o Daniel e você também. — disse de vez. Não era justo.

— Por não conseguirmos nos afastar? — ele fez careta.

— Não. — disse e ele franziu as sobrancelhas. — Acho que tô me apaixonando por você, Patrick. — suspirei.

Ele não conseguiu disfarçar a surpresa pelo aperto nos lábios e o quase olho arregalado, eu falei com um puta medo de falar, mas falei. Eu sempre fui assim, se eu sentia, eu sentia e preferia não guardar pra mim. E de alguma forma depois de ter falado me senti aliviada e eu mesma de novo.

Parecia precoce, e realmente era, mas o que eu posso fazer? Quando a gente se apaixona, a gente se apaixona e não escolhe em quanto tempo.

Depois de todos os beijos escondidos, depois de todas as conversas paralelas e tensas, eu descobri o porquê daquele sentimento louco de odiar, mas querer ficar perto.

— Não precisa responder nada mesmo, é um problema meu, mas que não posso envolver o Daniel nisso. — disse depois de todo silêncio.

Ele assentiu pensativo, quis sair correndo pela falta de resposta. Ele se ajeitou e sentou mais próximo de mim, colocou meu cabelo pra trás do meu ombro ombro, eu olhei pra ele confusa e ele soltou um sorriso de lado seguido de um selinho.

Eu pedi passagem com a língua e ele cedeu passando uma mão por trás da minha nuca delicadamente, diferente de todas as vezes que nos beijamos.

Eu fiz o mesmo passando meus dois braços por cima do ombro dele e continuei o beijo com calma. Ele mordeu meu lábio e eu senti um sorriso se formando em meus lábios.

— Então vamos falar com ele! — ele disse se afastando depois de um selinho.

Não entendia o que aquele beijo significava, mas essa frase com certeza significava que ele tava de acordo comigo e de alguma forma isso me deixou feliz por dentro.

— Prefiro falar com ele sozinha. — falei. Mesmo que fosse uma situação que envolvia os dois, eu queria falar do meu jeito, eu sabia que se o Daniel surtasse, Patrick faria igual.

— Tem certeza? — eu assenti. — Então tá bom, depois eu lido com a barra em casa. — ele deu de ombros. — Tenho uma notícia maneira pra você.

— Ainda bem, o que é? — suspirei aliviada. Não aguentava mais notícias ruins ou vergonhosas.

— Já podemos voltar pra academia, Laura conseguiu anular a ordem judicial. — ele contou.

Eu quis levantar e pular, mas fiquei desconfiada. — Já?

— Aham, também achei estranho, mas perguntei pra Sarah e ela disse que Laura é muito eficaz assim mesmo. — ele explicou.

— Caraca, ela é foda! — comemorei e ele assentiu rindo. Toda vez que eu soltava um palavrão alguém ficando rindo assim pra mim, idiotas.

Depois de ficar sem assunto, a única coisa que conseguimos fazer era ficar se beijando ou implicando um com o outro.

Eu tava feliz de ter colocado isso pra fora e mais ainda por ter correspondido mais ou menos, pelo menos com um beijo. Só não sabia o que viria depois.

MATHEUS

Estava no busão a caminho da casa da Eduarda, completamente nervoso e até tremendo. Quando a vi com José na boate eu confesso que quis matar o cara, mas ele não tinha culpa de nada.

A questão é que eu resolvi conversar com ela pra ou dar um basta mesmo na relação, não ter mais volta, ou tentar me resolver com ela. Eu não conseguia viver sem essa garota e enquanto vivia eu tinha esperanças.

Se hoje eu descobrisse que não existe nenhuma possibilidade da gente se acertar, eu iria mudar em relação a ela. Evitaria ao máximo, fingiria que nunca existiu na minha vida, porque ao contrário disso eu não aguentaria.

Desci do ônibus, durante toda a caminhada até a frente do condomínio dela fui repassando o que eu falaria pra ela na minha cabeça, até que cheguei, subi, bati na porta e quando ela abriu...

Ela estava a mulher mais linda do caralho do mundo todo, parecia ter se ajeitado, mas não importava, arrumada ou não ela era perfeita. Parecia nervosa com o peito ofegante e um sorriso nervoso na boca, e eu esqueci tudo que eu tinha pra falar no momento que a vi.

Era uma vez, AliOnde histórias criam vida. Descubra agora