Assim que cheguei em casa Daniel fez questão de me acompanhar até o elevador pra jogar aquele shade no final, deu em cima de mim, mas não rolou absolutamente nada. Por enquanto não.
Entrei direto pro banho que eu tava agoniada com o sal da praia no corpo, coloquei uma roupa larguinha confortável e me joguei no sofá com o computador pra fazer algumas coisas.
Tinha que fazer uns trabalhos, mandar uns currículos e depois fiquei assistindo vídeo de decoração no YouTube.
Toda hora passava na minha cabeça o engano que cometi achando que o Daniel era uma pessoa, quando na verdade não era. O bom disso tudo é que o moleque é maneiro, porque se não fosse...
E o tal do Patrick parecia agressivo, nervoso. Sei lá, não sei explicar, só uma sensação, é uma vibe que com certeza não combina com a minha.
PATRICK
Abri a porta de casa por conta do caralho já esperando que o bostão do Vinicius estivesse de gracinha no meu sofá ainda, só que graças a Deus, pelo bem da minha paciência, ele tinha ralado.
Nem fiquei pensando muito nisso pra não me estressar, me joguei no sofá com minha cerveja e fiquei rolando o feed do Instagram.
A verdade é que o que tava martelando mesmo era a mina de domingo em pé na minha sala. O que diabos esta porra fazia aqui!? Pensei que nunca mais fosse ver na vida, e de repente, na minha casa. A minha vida é muito louca, meu amigo.
A campainha começou a tocar descontroladamente e eu levantei bufando do sofá. Tinha pedido pra Rebeca chegar mais tarde porque eu tinha que dar aula de Muay Thai hoje e a doida vem mesmo assim.
— Que que é? Perdeu a chave, manezão? — ri debochado vendo Daniel na minha frente.
— Esqueci. Será que dá pra me deixar em paz, Patrick? Saco cheio já. — ele passou por mim sem olhar na minha cara.
— Ô ô ô não é comigo que você tem que se resolver não, tu que anda com as pessoas erradas, e eu que saio como vilão? — fui seguindo ele até o quarto.
— Pessoas erradas por quê? Vinicius matou alguém? Rouba? Teu problema é a raiva e ainda me trata como criança, não esquece que eu nasci segundos depois de você. — ele disse procurando que nem louco pelo quarto a chave.
Encostei na porta olhando ele procurar. — Matar não sei, roubar tenho minhas dúvidas. Eu não vou repetir mais uma vez o motivo do Vinicius ser tralha, só não quero mais ele aqui, falou? Respeita. Eu já tenho que te aturar colocando teu pai aqui em casa.
— Nosso pai. — ele frisou. — E eu coloco ele aqui dentro porque esse apartamento é dele.
— Nunca foi dele, é da mãe. — falei e ele parou pra me olhar. — Não quero falar disso, Daniel. Já dei meu recado, valeu.
Deixei ele no quarto procurando e voltei pro meu sofá. Tava real sem saco pra qualquer papinho que viesse da boca dele em relação a esse assunto.
A real era que Daniel, apesar de ser da minha idade e o caralho a quatro, sempre fui em quem cuidei dele. Ele sempre foi idiota pras coisas, desligado, não percebe maldade, e eu sempre fui mais visão desconfiado pra vida.
Tanto que depois que ele conheceu o nojento do Vinicius ele parou de estudar da maneira como era, parou de se dedicar ao direito, começou a fumar, beber descontroladamente, sendo que quem tinha esse papel era eu.
— Mudando de assunto, posso te pedir um favor? — ele disse colocando a chave no bolso. Olhei pra ele desconfiado. — Arranja um emprego pra uma amiga minha lá na academia.
— De que? — franzi a sobrancelha.
— Ela é professora de ballet! — ele disse.
— Não tem aula de dança, mane. — eu ri.
— Mas tem sala pra isso e eu sei que aparece um monte de mãe procurando isso por lá, tá na hora de expandir. — colocou a mão na cintura.
— Vou pensar! — voltei a olhar pro celular. — Pra quem é?
— Pra Alicia, a que tava aqui na sala. Ela se mudou a pouco tempo e tá procurando um emprego.
— Hum, conhece ela há muito tempo? — perguntei curioso.
— Não, ela me parou segunda na academia pra me agradecer por algo, mas eu nem lembro pelo que, aí fiz contato. — deu um sorriso safado.
— Ata. Vou ver lá.
— Valeu, fui. — e saiu porta a fora.
E não é que a doidinha se confundiu? Fiquei rindo sozinho pensando na cena toda, mas os afazeres me chamavam, depois eu pensava nessa história, tinha uns sacos pra socar.
Fui tomar banho pra aula, enfiei as paradas na mochila porque depois eu ia direto pra faculdade. Último período, vão bora. E ainda tomar um gelo com a Rebeca e Leandro que eu tô prometendo faz décadas.
Cheguei na academia tinha gente pra caralho na musculação, cumprimentei brevemente a galera já que não sou exemplo de simpatia e fui pro meu escritório.
— Tá fazendo o que aqui? Caralho, hoje não vou ter paz não? — disse ao ver Lorenzo sentado na minha cadeira.
— Já chega falando assim comigo? — disse com aquela voz mansa e cínica dele.
— Não tô com tempo, Lorenzo. Se você puder adiantar o assunto e cair fora, eu agradeço. — nem olhei na cara dele.
Ele ficou falando lá coisas que eu não tava nem fazendo questão de escutar. Nada que vinha dele eu queria saber. Abri meu armário, taquei a mochila dentro e peguei minhas luvas.
—...Resumindo, 50% dos lucros será meu, 25% seu e 25% do teu irmão. Assim ficou determinado.
— Puta que pariu. — bati com a porta do armário e virei pra ele. — Você não faz questão de esconder o safado que tu é não? Você não merece nem um por cento de lucro disso aqui, você é safado. Nunca fez nada pelos negócios do meu avô, da minha mãe e agora quer dinheiro? Depois de tudo que você fez? Caralho, quando que você vai sumir da minha vida?
— Eu sou teu pai, moleque. — ele se levantou e veio na minha direção colocando o dedo na minha cara. — Marido da tua mãe, pai dos filhos dela, tudo que é dela é meu também. E assim a justiça determinou, você não pode fazer nada.
— Vamos ver então. — eu o peitei. — Quem cuida dessa porra sou eu, quem da aula, quem contrata, quem paga, quem recebe.
— Faz isso tudo e não vai ganhar nem metade. — ele riu debochado.
Minha mão se fechou ao meu lado, meu coração acelerou de raiva e meus olhos ardiam de ódio de vontade de socar a cara desse babaca. Mas não podia demonstrar ser descontrolado. Não agora.
— Bom, por hoje é só. Aguardo pelo fim do mês pra acertarmos o pagamento e fazermos as contas, juntos, como uma família, eu, você e Daniel. — se afastou indo em direção da porta.
— Só o Daniel é otário de cair na tua, eu não sou da tua família faz muito tempo. — olhei nos olhos dele.
— Como preferir... — ele deu de ombros e saiu.
Foi só ele pisar fora e fechar a porta me deixando sozinha que minha raiva foi colocada pra fora. Levei minha mão com força e com o punho fechado na mesa e suspirei pesado.
— Inferno! — murmurei balançando minha mão de dor, mas não se comparava a raiva.
Fiquei um tempo andando pro lado e pro outro pela sala, até que um aluno bateu na porta pra perguntar se iria ter aula.
Apenas assenti, respirei fundo e sai. Agora era hora de extravasar, gostava dessa turma que era só gente do meu tamanho e eu entrava na dança.
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Era uma vez, Ali
Fanfictionautora: juwebs_ Quando Tina, a filha mais velha de um casal, completa 10 anos de idade, seu pai conta a história do grande amor da sua vida... e uma história de amor nunca foi tão difícil de ser contada: uma mulher sonhadora, dois amores, alguns ami...