Terminei de fumar, apaguei a ponta da guimba de cigarro no chão e entrei de volta. Eles estavam bebendo vodca, até fiquei na vontade de pegar uma cerva pra mim, mas queria me manter sóbrio.
Puxei uma cadeira pra mim de frente pro casal 20, Alicia baixou o olhar me ignorando e Daniel me encarou como se eu quisesse alguma coisa.
— Então pode ser? — Eduarda perguntou.
— Se todos toparem, eu quero, dar uma animada nessa resenha intimista. — Livia riu.
— Topar o que? — perguntei curioso.
— Elas querem jogar pa pin po com dose de vodca. — José contou.
— Joguem aí, tô bebendo hoje não. — falei.
José, Luís e Bené me olharam como se eu tivesse contado um crime.
— Que foi?
— Que dia que você ficou sem beber? — Luís questionou.
— Não posso? Chatos pra caralho, ein. — balancei a cabeça negativamente.
— Poder pode, mas é esquisito isso aí. — Bené disse enchendo a primeira dose.
— Ah ou, podemos jogar ou não? — Daniel interrompeu impaciente.
Dei de ombros.
— Só quero ver isso. — Alicia riu preocupada acompanhada de Jade.
Eles começaram a jogar e eu fiquei só olhando, me perguntando lá no fundo o que eu tava fazendo ali, totalmente deslocado.
Três casalzinhos e dois babacas que quando ficasse mais madrugada já iam atacar nos contatinhos se eu bem os conhecia.
— Pera! — Jade pediu depois que virou uma dose, todos a olharam. — Sei que tenho zero intimidade com você, mas bora beber, po. Vai ficar aí olhando pra gente sem falar nada?
O meu lado que odiava gente intrometida quis fechar a cara e nem responder porra nenhuma, só levantar e acender mais um cigarro, mas já tinha pisado muito na bola nos últimos dias.
Abri um sorriso fraco e assenti concordando, até porque era uma decisão: ir embora ou beber, se não eu ia ficar boiando ali.
— Agora sim! — Bené esfregou as mãos uma na outra. — Pá!
E começou a brincadeira. Quem mais bebia era a lerdinha da Alicia e confesso que eu acompanhava todo mundo rindo pra caralho.
Ela também parecia nem pensar mais no dia anterior visto que várias vezes ela correspondia com risada no que eu falava ou no que eu deixava de falar.
— Errou sim, Patrick! — ela bateu o pé no chão. — Você tá roubando.
— Não tô, eu juro. — falei rindo da minha cara de pau.
— Jura? — ela cruzou os braços com uma carinha toda inocente.
— Jae, eu perdi. — me dei por vencido e deixei que Eduarda enchesse uma dose pra mim.
Eu percebi que Daniel não tava era nada gostando do trocar de palavras e até olhares que tava acontecendo entre Alicia e eu, mas eu não podia fazer nada, mesmo quando ele a beijava pra marcar o território.
Por alguns momentos eu me pegava imaginando como se fosse eu no lugar dele, assumindo ela como ficante minha ou seja lá o que eles forem, sem toda essa situação.
Mas tava mais pra um momento único divertido entre todos nós do que como se tudo estivesse esquecido. Eu sabia que segunda-feira Alicia mal olharia na minha cara.
ALICIA
Bem diferente do que eu tinha imaginando pra resenha, estava acontecendo. Vim pra cá quase com o cu na mão de dar qualquer merda, porque eu já estava me acostumando com o fato de que Patrick não era de se confiar pra manter a paz.
Mas no final de tudo estava sendo bem divertido, eu senti que ele estava querendo se entrosar e agradar um pouco, não a todos, claro, mas tava.
Eu não vou mentir que não gostei dessa versão, mas também não me iludiria e nem olharia por outro lado, minha palavra de mais cedo se manteria.
Paramos de jogar no minuto que vimos que alguns dali estavam era ficando no brilho, como eu, Daniel, Jade e Duda, o resto tudo forte pra bebida.
— O problema é que eu sei que hoje eu vou vomitar, quero ver quem vai cuidar de mim. — falei. Sabia que bebidas quentes não era meu forte.
— Daniel que não pode, ele vai ficar igual. — Patrick provocou rindo.
— É bom que a gente se ajuda, né? — virei meu rosto pro Daniel que tava era quase caindo de sono.
— Óbvio. — ele se esforçou pra responder e me deu um selinho.
Patrick encarou e eu dei de ombros.
— Caralho, Daniel é tão fraco assim? Puta que pariu. — Livia riu vendo o estado dele.
Ele já tinha me dito que tava com Vinicius bebendo e fumando desde antes, então eu entendia. Até agradeci um pouco dele estar mais "quieto", ainda mais depois daquela conversa que eu tava cada vez mais evitando coisa parecida.
— Nada porra, é que eu tô bebendo desde cedo, vocês ainda me metem uma cachaça dessa. — ele se defendeu.
— Aí mano, se tu quiser pode deitar lá no meu sofá, minha avó tá aqui não. — José sugeriu
— Ihhhh, mora com a vovozinha. — Bené zoou ele com cosquinha e levou um tapão de volta.
Patrick só ficava rindo da brincadeira de agressão dos amigos e eu achava uma babaquice.
— Vou dormir lá então tá irmão? — Daniel aceitou se levantando. — Vai ficar bolada de ficar aí sozinha? — fez carinho na minha cabeça.
— Claro que não, é pra isso que ela tem a gente. — Duda disse ciumenta.
Eu ri. — pode ir lá!
Ele assentiu e foi. José aumentou o som e colocou um funk pra animar melhor a gente, já que a brincadeira tinha praticamente nos derrubado.
Todos nos levantamos mais pra próximos do som pra dançar, menos o senhor fechado que ficou com um copo de cerveja na mão sentado no canto.
"ela viaja nos maloca, dos cara que é do corre, que gera na favela, que pega e não se envolve" — Jade cantou mais alto dançando na frente de Livia.
"ela é da zona sul, e eu sou da zona norte, vai rolar festinha, brota que o bonde tá forte" — Luís acompanhou colocando o copo pro alto.
"se acionar a tropa vai rolar resenha, tudo no sigilo, tudo no esquema" — Patrick cantou sentado de canto.
"se pá tem balão, se pá tem balinha, vou ficar na onda, vou perder a linha" — cantei rebolando.
Eu percebia como ele me olhava, de cima a baixo e as vezes pra mim, dentro dos meus olhos ou então pra minha boca. Mas eu ignorava, apenas ignorava.
Se eu desse corda, eu com certeza ia deixar ele entrar na minha mente e cederia, mas apesar de "ingênua" eu não era burra.
Continuei dançando, balançando minha raba no ritmo da música, de vez em quando mexia no meu cabelo pra lá e pra cá quando o calor batia e eram nesses momentos que eu o pegava olhando firme e não sabia como reagir.
O meu único medo era o tal do álcool, que se eu permitisse muito, me faria fazer merda. Só que a minha segurança é que eu estava muito decidida de que nada me atrapalharia na minha "decisão" e que se fosse preciso, eu até pararia de beber.
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Era uma vez, Ali
Fanfictionautora: juwebs_ Quando Tina, a filha mais velha de um casal, completa 10 anos de idade, seu pai conta a história do grande amor da sua vida... e uma história de amor nunca foi tão difícil de ser contada: uma mulher sonhadora, dois amores, alguns ami...