Laura passou o dia todo comigo em casa. Compramos quentinha, almoçamos, ficamos vendo filme na sala, se pegando. Certeza que se eu não tivesse tão fraco já estaríamos em outros passos de tão pra frente que ela era.
E eu até gostava. Nunca tinha tido a sensação de ficar com uma mulher mais velha, ela já tinha uns trinta anos e eu tinha vinte quatro. Só sei que o gás que ela tem admito que nem eu tenho.
Ela me propondo morar em São Paulo não me restava dúvidas que eu queria isso. Eu já estava estagnado aqui mesmo, agora que vou me afastar do Vinicius não tem nada que me prenda. Até vou sentir falta do meu irmão, do pessoal, da minha sobrinha, mas existe "visitar".
— Isso é porque você só ia receber o cara do equipamento, né? — zoei Patrick chegando com Alicia em casa. — Tu saiu 10h e agora já são 20h.
— Não me julga, o cara atrasou, fui almoçar, voltei pra academia de novo, só foi chegar quase 18h e ainda tive que buscar essa doida aqui que queria porque queria te ver. — ele se defendeu.
— Claro, depois do susto de ontem.. — ela disse como se fosse óbvio. — Trouxemos pizza.
— Oba! — Laura bateu palminhas e eu ri.
— E aí, ficaram bem aí? — Patrick perguntou e nós assentimos. — Em falar nisso, perdi alguma coisa?
Ele olhou pra nós dois e quando percebi ela estava deitada no meu peito comigo a abraçando e ainda debaixo do cobertor.
Nós rimos sem graça, ela se ajeitou sentando e eu joguei o cobertor pro outro lado.
— Perdeu o que? — Alicia veio da cozinha fofoqueira.
— Esses dois abraçados. — ele dedurou e eu o fuzilei com o olhar.
— Uiii, novo casal no ar? — Alicia disse animada.
— Que casal o que gente? Vamos comer? — Laura disfarçou levantando e eu ri.
Eles começaram a colocar a mesa, me levantei do sofá com dificuldade, mas levantei. Parecia um velho de setenta anos, mas o médico me avisou que meu corpo ficou esgotado por conta do que eu fiz ontem.
Nos sentamos na mesa, ataquei primeiro uma fatia de portuguesa, depois uma de bacon com ovos e pra finalizar ainda uma de ovomaltine. Tava dos deuses, ainda com uma coquinha pra fechar com chave de ouro.
— Deixa eu falar. — disse limpando minha boca com um guardanapo. — Tenho novidades.
— Já!? Mal saiu do hospital e já fez merda? — Patrick arregalou o olho.
— Não babaca, é outra coisa. — revirei os olhos. Ele riu e me deu atenção. — Laura me chamou pra morar em São Paulo.
— Que doideira. — Alicia riu. — Mas você não vai, né?
— Por que não iria? Eu vou sim. — falei arqueando a sobrancelha.
— Como assim Daniel? Você acabou de quase sofrer uma overdose, como que você vai pra outro Estado sozinho? — Patrick questionou.
— É exatamente por isso que é bom. Ele não conhece nada por lá, eu ofereci pra ele um emprego, ele se dedica nos últimos anos da faculdade e de quebra se afasta do encosto que ele anda. — Laura disse e eu ri, mas os dois não estavam gostando nada da história.
— Eu não acho isso uma boa ideia, você e o seu irmão acabaram de se acertar, como você vai pra longe assim? — Alicia disse indignada.
— Cara, vocês estão agindo como meus pais, e olha que eu nem tenho! — eu ri debochado. — Há pouco tempo a gente ficava — olhei pra Alicia que ficou vermelha. — e você nasceu no mesmo dia que eu, não esquece disso, tá? — falei pro Patrick.
— Mas...
— Mas nada mano, eu já me decidi, vai ser bom pra caralho pra mim. Eu não tô nem brigando com vocês, só realmente não entendi a reação. — disse.
Eles ficaram calados pensativos e de nervosismo ainda peguei mais um pedaço pequeno da portuguesa. Que ideia!
— Desculpa, você tá certo. — Alicia quebrou o silêncio. — Só foi preocupação.
— Ele pode morar comigo enquanto junta um dinheiro, não tem nem problema, mas eu realmente acredito que é uma boa ideia. — Laura sugeriu e eu assenti sorrindo em gratidão pra ela.
— Se ele quiser ele pode alugar um apartamento também, ele tem a parte dele da academia. — Patrick falou sem olhar pra mim.
— Viu? Fechou então. — falei animado.
— Foi mal, só não queria me afastar de tu logo agora, mas entendo que vai ser bom. — Patrick se deu por vencido.
— Tô ligado. — balancei a cabeça mostrando entender.
— Quem diria, né? Você lá, e eu aqui, trocamos de cidade. — Alicia riu.
— Pra tudo ver como tudo muda. — falei e eles assentiram.
Os dois terminaram de comer, lavaram as coisas e foram pro quarto. Eu ainda fiquei conversando com Laura sobre São Paulo e depois ela foi embora.
Se passaram uns cinco dias depois que eu decidi que iria pra São Paulo morar com Laura. Ficaria um mês lá e depois alugaria um apê pra mim.
Ela já tinha voltado pra casa e eu passei esses dias resolvendo documentação, transferência de faculdade, malas, despedidas, enfim... mas não deixamos de se falar pelo telefone, Laura era muito parceirinha.
Óbvio que eu não tinha esquecido Alicia ainda, eu não gostei dela atoa e nem deixaria de gostar tão rápido, não faz meu estilo, mas eu me acostumei com a ideia de que ela não era pra mim e eu acabei gostando do bem que ela fazia ao Patrick.
Acontece que nós dois éramos muito iguais, em todos os aspectos, menos nas merdas que eu fazia, certamente. Então era tudo muito igual, muito sem graça e eu e nem ela percebemos isso, até nos envolvermos com pessoas totalmente o oposto.
Eu já estava bem melhor, mais ativo e principalmente animado. As vezes me dava aquela vontade de fumar um baseado, mas passava. Meu medo era que aquilo me levasse a outras coisas e eu não permitiria isso.
Hoje eu me mudaria de vez. Eu estava arrumando minhas malas, tinha acabado de desligar uma ligação de duas horas com a Laura e meu telefone começou a tocar sinalizando Vinicius. Ele me ligou muitas vezes durante esses dias, e eu sempre ignorava, mas dessa vez não o faria.
Ligação
Vinicius: Mano?Não respondi. Escutar a voz dele só me fez lembrar do "desculpa" e ele sair porta a fora me deixando sofrendo no chão sozinho.
Vinicius: Ou? Tá aí?
Daniel: Oi.
Vinicius: Cara, você não me atende a dias, por quê?
Daniel: Ta de sacanagem? Você me largou quase tendo uma overdose no chão da minha sala.
Vinicius: Foi mal mano, mas se você morresse podia sobrar pra mim, tem noção?
Daniel: Você é muito sujo, moleque. Não sei como você tem coragem de ligar pra mim.
Vinicius: Po mano eu briguei com a Raissa de novo, precisava de um rolê.
Daniel: Você é doente. — ri de nervoso.
Vinicius: Qual foi? Vai ficar assim? Eu não tenho culpa, falou?
Daniel: Mano, faz o seguinte? Some da minha vida, ou melhor, some da vida da mina, e do meu irmão, e de todo mundo. Tu é podre, moleque. Não me liga mais que eu não vou te atender. Tu merece ficar sozinho, eu fui um otário de ficar andando contigo e meu irmão tentando me alertar, deu no que deu.
Vinicius: Peraí.
Daniel: Vai tomar no seu cu.Desliguei o telefone com força. Pensei que iria me sentir mal depois disso, mas pelo contrário, eu tava completamente aliviado. Agora eu podia de vez viver uma vida nova.

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Era uma vez, Ali
Fanfictionautora: juwebs_ Quando Tina, a filha mais velha de um casal, completa 10 anos de idade, seu pai conta a história do grande amor da sua vida... e uma história de amor nunca foi tão difícil de ser contada: uma mulher sonhadora, dois amores, alguns ami...